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AGÊNCIA CBIC

13/07/2018

O exercício da representatividade e a escolha de representantes

O Projeto CBIC Jovem, coordenado pelo Fórum de Ação Social e Cidadania (FASC) da CBIC, encontra-se em fase de construção de sua identidade, tem recebido informações técnicas diversas e já se visualizam em vários estados algumas de suas iniciativas destinadas a atrair e capacitar outros jovens para atender às demandas do setor.

Os resultados que esse projeto estratégico de renovação e multiplicação de lideranças pode alcançar é enorme. Em seu nome e para trazer um pouco mais de conteúdo conceitual às expectativas desses jovens, desenvolvemos o texto a seguir.

Uma questão chave

O termo “representação” tem origem latina e seu significado primitivo era “tornar presente” ou “reapresentar objetos”. Só mais tarde seu significado associa-se às pessoas “representadas”. Sua evolução etimológica a partir daí reflete a forma como se tratou o atendimento aos interesses das pessoas nas instituições, ao longo do tempo.

Segundo Hanna Pitkin, que desenvolveu um trabalho seminal sobre a evolução histórica e política desse conceito (PITKIN, Hanna F. 1967), o substantivo “representante” parece ter sido utilizado pela primeira vez em 1651, referindo-se aos parlamentares como representantes do povo. Neste mesmo ano, Thomas Hobbes publica o seu “Leviatã”, que seria o primeiro texto a examinar a ideia da representação na teoria política.

Como observou Hannah Arendt (1965: 239) citada por Pitkin (2006), a representação é uma das questões mais cruciais e problemáticas da política moderna e é claro que isso se deve ao fato de tratar-se da incessante busca de congruência entre os interesses dos representados (plural) e o interesse do representante (singular) no exercício da representação.

Uma questão chave torna-se a base de toda essa discussão: a posição do representante deve limitar-se a conciliar os interesses individuais dos representados, tornando-o portador de suas opiniões ou, além desse limite, o representante deve legitimar-se como um intérprete das causas dos representados, assumindo um protagonismo de “serviço” em favor de seus
propósitos?

Parece não haver mais dúvidas que a segunda opção consagra-se como a mais evoluída no universo da representação: o representante precisa devotar-se às causas dos representados (traduzidas pelos seus propósitos) e não apenas à defesa de suas opiniões pessoais.

Assim, por transição de significados, o termo evolui histórica e politicamente de um conceito inicial de “pôr-se em lugar de outros” para algo como “atuar para outros” e essa sutil diferença parece cumular o representante de importantes responsabilidades para com seus representados.

Essa parece ser a principal questão que envolve a representatividade.

Os atributos para o exercício da representatividade

Vamos considerar três atributos que julgamos essenciais para o exercício da representatividade: propósito, disponibilidade e visão.

Propósito

Os propósitos e a clareza com que eles são compartilhados permitem construir um elo de legitimidade, garantindo congruência de atuação entre as partes. Os propósitos garantem resultados eficazes para os representados. A falta de propósitos esvazia a visão substantiva da representatividade, a que se referia Pitkin, perdendo-se o sentido do valor adicionado (isto é, o que se ganha com a representação).

Na falta de uma visão substantiva vêm à tona as visões de segundo plano da representatividade, classificadas como formalísticas, simbólicas e descritivas (Pitkin, 2006:19), onde se valoriza aspectos secundários tais como a posição institucional do representante, as semelhanças culturais e traços comuns que identificam as partes. Em nenhum desses casos, no entanto, está presente a avaliação dos resultados auferidos pelo representante em benefício dos representados, tal como se busca na visão substantiva da representatividade.

Num sentido mais amplo, como pensava Burke (Pitkin, 2006:19) o representante deve mais devoção aos interesses dos representados do que às opiniões expressas por eles, residindo aí o ponto central de sua atuação e o peso da sua responsabilidade para com as causas, mais do que para com as pessoas.

Mesmo sendo o propósito um atributo essencial para o exercício da representatividade substantiva, é importante salientar que nem sempre ele estará completamente acabado antes que a representação se inicie, sendo necessário, muitas vezes, fundá-lo ou acabar de construí-lo e clarifica-lo entre os representados. Nessas situações acrescenta-se ao papel do novo representante mais uma importante
responsabilidade: fomentar no grupo representado os conteúdos com os quais os membros se identificarão e de onde retirarão seus significados.
Nesse sentido, por exemplo, os integrantes do Projeto CBIC Jovem têm pela frente o importante desafio de aprofundar a identificação das verdadeiras e mais urgentes demandas de seus mercados regionais (com esforços locais ou compartilhados) e formata-las com projetos que traduzam os propósitos dos seus representados e se tornem as “causas” dos seus Sinduscons.

Disponibilidade

O exercício da representatividade substantiva em instituições sem fins lucrativos exige gratuidade de ações e esforço investido em causas coletivas. Para tanto o atributo que melhor viabiliza esta energia é a disponibilidade, que passa a ser a expressão autêntica do trabalho representativo. Ser disponível é mais do que ser voluntário. É fazer gratuitamente, com a paciência de quem cultiva, sem a ansiedade de quem colhe. A disponibilidade, na causa da representatividade, assume, assim, caráter educativo, que se encontra no gesto de quem se presta a promover o “outro” (representado) a patamares de melhor entendimento de sua realidade para lidar com ela com maior competência.

A grande maioria das empresas “representadas” na Construção Civil ainda não está estruturalmente preparada para ocupar e usufruir os patamares tecnológicos que já enxergamos como vitais para o futuro do setor. Significa dizer que o ritmo da mudança será dado pela capacidade dos menos preparados em se consolidarem nos novos patamares e não será muito coerente
imaginar pular etapas ou deixar para trás os elos frágeis da cadeia, se quisermos uma cadeia fortalecida.

A escolha de representantes deve considerar este importante atributo, que não é (somente) uma questão de tempo na agenda, mas de espaço psicológico para dispor em benefício do desenvolvimento do outro.

Os integrantes do Projeto CBIC Jovem são parte estratégica do investimento humano na modernização do setor, cabendo-lhes a importante missão de promoverem a inclusão de atores menos preparados na cadeia produtiva, tornando-os aptos para o salto qualitativo da cadeia como um todo. Não se trata apenas de esperar pelos que puderem chegar lá, como um processo de seleção natural, mas de garantir, por um processo de gestão de mudança, que não falte ao futuro que está se desenhando nenhum elo da cadeia adequadamente preparado. Para tanto, é essencial contar com a disponibilidade desses jovens representantes, nos termos aqui analisados, para promoverem estrategicamente os atores da cadeia a níveis de gestão compatíveis com a evolução deles esperada.

Visão

Por visão, terceiro atributo esperado de um representante, pretendemos resumir o conjunto de aptidões que permitem perceber-se com nitidez as relações que as partes de uma realidade fazem entre si, o que torna as pessoas mais capazes de projetarem novas realidades, aproveitando oportunidades não exploradas, com interfaces mais eficazes e consequências mais promissoras. Talvez essas sejam também as aptidões dos indivíduos criativos, dos indivíduos inovadores e daqueles que enxergam mais longe. Mas antes de considerarmos essas aptidões como próprias de “super-seres”, convém lembrar o que Abraham Maslow nos advertiu: “A pessoa criativa não é uma pessoa comum à qual se acrescentou algo. Criativa é a pessoa comum da qual nada se retirou”.
Se o sadio exercício da representatividade exige disponibilidade e propósitos dos representantes, faz todo o sentido pensar que a melhor forma de aproveitar essas qualidades é canalizando os interesses dos representados para algo sempre mais grandioso e promissor que só se alcançará com visão.

Os jovens empresários e executivos do Projeto CBIC Jovem precisam se desenvolver em uma atmosfera estimulante, na qual nada deles se retire de essencial, tal como a liberdade de ousar com responsabilidade, de propor com paixão, de questionar limites com argumentos e se indignar com zonas de conforto.

Dessa forma, estaremos estimulando neles a visão que dilata horizontes e recebendo deles importantes contribuições para estabelecer o futuro que todos desejam para o setor.

PITKIN, Hanna F. (1967), The concept of representation. Berkeley:University of California Press.
Reproduzido em http://www.scielo.br/pdf/ln/n67/a03n67.pdf.

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