AGÊNCIA CBIC
Juro alto emperra a economia, diz Dilma
16/04/2012 :: Edição 298 |
Correio Braziliense/BR 14/04/2012
Juro alto emperra a economia, diz Dilma Discurso na CNI mostra que a redução das taxas é questão de honra para o governo
A presidente Dilma Rousseff voltou ontem a cobrar abertamente dos bancos privados que cortem as taxas cobradas dos consumidores, explicitando que o assunto se tornou uma questão de honra para o governo. Em discurso de improviso para centenas de empresários na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília, ela disse que o Brasil precisa colocar os juros e os spreads (lucros) bancários no "nível dos padrões internacionais do custo de capital". Segundo a presidente, o elevado custo do dinheiro é um dos principais entraves ao desenvolvimento brasileiro sustentável e duradouro, ao lado do câmbio valorizado, do peso da carga tributária sobre a produção e da dificuldade de gerar inovação.
A fala de Dilma, que arrancou aplausos da plateia, ocorreu um dia após o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ter criticado a resistência dos bancos em baratear o crédito e às vésperas de nova reunião do Conselho de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), para avaliar a taxa básica de juros (Selic). Ela também foi aplaudida ao dizer que seu "governo está comprometido com uma indústria forte" e que, ao contrário de analistas, "o futuro não está apenas no setor de serviços". "Países que foram nesta trilha estão buscando caminho de volta", alertou.
Nos últimos dias, o governo iniciou uma dura batalha contra o sistema bancário para baixar os juros. Na última semana, sob determinação da presidente, os bancos oficiais – Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal – derrubaram suas taxas para forçar um movimento na mesma direção do restante do mercado, que já começa a ceder, a exemplo do HSBC.
Condições As instituições reclamaram das medidas na última terça-feira, em reunião entre a diretoria da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e Mantega, quando condicionaram o corte de seus juros a uma redução dos impostos e ao pagamento de uma dívida de R$ 300 milhões da Receita Federal. Entre as propostas, a entidade sugeriu reduzir o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e a Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) cobrada dos bancos.
O presidente da CNI, Robson Braga, considerou a pressão do governo sobre os bancos uma "medida fundamental" para o setor produtivo, pois "elevar disponibilidade de crédito a custo mais baixo estimula o investimento privado em máquinas e qualificação profissional". "Apoiamos integralmente o discurso da presidente Dilma. Temos certeza de que os juros bancários podem, sim, cair no Brasil. Se Caixa e Banco do Banco podem, os demais também. Esperávamos que o cadastro positivo, aprovado ano passado pelo Congresso, levasse à redução do spread, o que ocorreu."
Ele acredita que a determinação de Dilma para os bancos oficiais forçará bancos privados a também revisarem cálculos. "O spread bancário pode ser reduzido como um todo e não apenas pelos bancos oficiais. Essa competição vai ser boa para trabalhadores e empresários. Quando se tem monopólio e mercado estável, não há redução de preços", argumentou Braga.
Inflação Antes de embarcar para São Paulo e, depois, para a Colômbia, onde participa até domingo da 6ª Cúpula das Américas, a presidente voltou a reclamar do impacto da "desvalorização competitiva" do dólar sobre "presas fáceis" (mercados emergentes) e reconheceu que a carga tributária inibe progressos e deve ser enfrentada sem prejuízo de metas fiscais. Dilma sublinhou que o país abriu ontem uma nova agenda, voltada à elevação da produtividade da mão de obra para níveis competitivos internacionalmente. "Deste esforço depende a capacidade de o Brasil crescer com estabilidade. O aumento da produtividade, certamente, ajudará a reduzir as pressões inflacionárias", acrescentou.
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