AGÊNCIA CBIC
Força-tarefa para formar engenheiros qualificados
10/09/2012 :: Edição 397 |
Jornal Valor Econômico – 10/09/2012 força-tarefa para formar engenheiros qualificados Quantidade e qualidade são os principais desafios que o Brasil deve enfrentar nos próximos anos quando o assunto é a formação de engenheiros. Com altas estimativas de demanda e pouca oferta de mão de obra qualificada, muitas instituições de ensino já apostam na criação de cursos para esses profissionais. Agora, é a vez de organizações sem fins lucrativos como o Instituto de Engenharia e o Sindicato dos Engenheiros de São Paulo também investirem na formação da área. De acordo com um estudo publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Brasil precisará formar, até 2020, 95 mil engenheiros por ano para sustentar um crescimento econômico anual por volta dos 4% (uma expansão de 2,5% exigiria mais de 70 mil engenheiros por ano). Pelo mais recente levantamento da Associação Brasileira de Ensino de Engenharia (Abenge), o número de formandos na área em 2010 foi de 41 mil. O déficit de engenheiros, no entanto, não é o único dado que se destaca no levantamento. Ainda segundo o Ipea, menos de 30% dos formados em engenharia em 2008 saíram de universidades consideradas de alto desempenho, com conceito 4 ou 5 no Ministério da Educação (MEC). A maior parte dos graduados (42%) formou-se em instituições com conceito 1 ou 2. Especialistas concordam que a graduação em engenharia, mesmo nas escolas mais renomadas, ainda não oferece o tipo de conhecimento de gestão e negócios que o mercado exige hoje. Existe uma diferença entre o que as empresas precisam e o que a universidade ensina, diz Denise Retamal, diretora executiva da consultoria de recrutamento Rhio's, especializada nas indústrias de mineração, petróleo & gás, energia, construção civil, engenharia e infraestrutura. Para a consultora, o que mais falta atualmente são profissionais que aliem conhecimento em uma especialidade e experiência no mercado, além de visão estratégica de negócios e idiomas estrangeiros. Para Vanderli Fava de Oliveira, diretor de comunicação da Abenge, só agora os cursos de engenharia estão começando a perceber a necessidade de transmitir aos profissionais habilidades relacionadas à gestão. As escolas estão verificando que, além de formar a base tecnológica, precisam também ensinar a gerir essa tecnologia, explica. De acordo com Oliveira, a velocidade com que as técnicas ficam obsoletas cria não só a necessidade de se manter atualizado constantemente, mas torna fundamental saber administrar a tecnologia – e não apenas usá-la. O que falta é negócio, é como ganhar dinheiro com engenharia, simplifica Hélio Guerra, presidente da Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia (FDTE) e ex-reitor da Universidade de São Paulo (USP). Dessa demanda surgiu a Escola Superior de Negócios em Engenharia (Esne), fruto de uma parceria do Instituto de Engenharia, organização sem fins lucrativos fundada em São Paulo em 1916, e a FDTE, organização criada por Guerra e um grupo de professores da Escola Politécnica da USP nos anos 1970. Com aulas iniciadas em agosto, a escola oferece cursos de extensão em negócios públicos e privados em engenharia. Os temas abordados incluem gestão de projetos, legislação, finanças e análise de risco. São assuntos que não são vistos na graduação, diz Guerra. Os programas são voltados para engenheiros que já possuem experiência e buscam se capacitar para assumir cargos de liderança, além de profissionais de outras áreas que participem de projetos. Já o Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (Seesp) resolveu focar na graduação para lidar com os desafios de qualidade na formação em engenharia. No fim de 2009, começou a desenvolver o projeto do Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec), fundado no ano passado. Com sede em São Paulo, começa neste semestre a promover cursos de extensão em áreas específicas como propriedade intelectual e gestão ambiental. Mas o grande projeto virá no ano que vem, quando a instituição começará a oferecer um curso de graduação em engenharia da inovação. Vimos que a necessidade de profissionais que podem contribuir para o desenvolvimento de inovação de produto e de processo seria um gargalo para qualquer projeto de desenvolvimento do país, diz Antonio Octaviano, diretor-geral do instituto. O curso pretende ter uma base mais generalista do que os outros cursos de engenharia. O profissional precisa ter um perfil diferente tanto do que tínhamos antes quanto do que ainda formamos, que é o do engenheiro ultraespecializado, explica. Com a intenção de desenvolver uma relação permanente com o mercado, o currículo do curso se concentra em gestão, abrange áreas como a comunicação e quer promover a participação de professores visitantes de outros países. A decisão de focar a atuação do instituto na graduação veio da necessidade de formar um profissional mais flexível, capaz de transitar entre diferentes áreas – demanda que os idealizadores viram no mercado. A evolução técnica é muito intensa. É preciso ter a competência para transitar em diferentes áreas com mesma qualidade. |