
AGÊNCIA CBIC
ENIC na história: Carta de BH apontou desvios do governo em 1991

Documento elaborado no 54º ENIC, em 1991, e entregue ao governo Collor comprova relevância dos debates realizados no evento e peso do setor para o país
O Encontro Nacional da Indústria da Construção (ENIC) há anos faz história no Brasil. Em 1991, o Brasil estava sob o governo de Fernando Collor de Mello. Em meio a entraves e indícios de corrupção, representantes do setor da construção se reuniram e decidiram alertar o então chefe do Executivo nacional sobre o que chamaram de “práticas inaceitáveis para a destinação de recursos públicos”. Neste ano, o Enic completa sua 96ª edição e volta a debater grandes temas contemporâneos do país.
Foi produzida uma carta intitulada “Um Alerta!” e entregue ao então presidente e ao Congresso Nacional. Conhecida como “Carta de Belo Horizonte“, o documento foi consolidado durante o 54º ENIC, realizado em abril daquele ano, na capital mineira.
A Carta, redigida pelo Conselho de Representantes, na época com 70 sindicatos e associações de todo o país, destacava que “as informações, embora sérias, ainda não poderiam se configurar como denúncias comprovadas, mas tomavam corpo a cada dia e tendiam, se nada fosse feito, a transmitir para a sociedade a convicção de que estávamos na presença de fatos reais, praticados com a conivência do governo”.
O responsável por liderar a missão de entrega da carta foi o então deputado federal e ex-presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Luís Roberto Ponte, que atualmente é membro do Conselho Consultivo Nato da entidade.
A Carta é considerada a primeira denúncia pública contra o governo, abrindo o debate a respeito da corrupção no governo Collor e abrindo os olhos da população e demais governantes, segundo Ponte. “Foi o estopim para que a questão fosse discutida por governantes e população”, apontou.
Para José Carlos Martins, presidente da CBIC, o episódio da chamada Carta de BH comprova a relevância dos debates que são promovidos pelo ENIC. “É um encontro que debatemos temas que impactam o dia a dia da construção, mas também assuntos do cenário político e econômico do país. Não podemos dar as costas aos acontecimentos e tudo entra no diálogo para propormos sugestões e ações que podem contribuir com o Brasil”, disse, ao ressaltar a próxima edição do ENIC que acontece entre os dias 12 e 14 de abril, na Expo São Paulo, com a FEICON.
O documento entregue ao presidente, contudo, não foi bem recebido pelo governo e na sequência foi revelada uma série de escândalos de corrupção envolvendo Collor e seu tesoureiro de campanha, Paulo César Farias. Os fatos revelados acabaram resultando no impeachment do chefe do Executivo no ano seguinte.
Os desdobramentos demonstraram a importância da união do setor, de acordo com o vice-presidente financeiro da CBIC, Elson Póvoa. “Essa carta só foi possível por conta do encontro ocorrido no ENIC. Os Encontros são uma oportunidade para que o setor da construção se posicione diante da sociedade e demonstre a força e a importância do setor”, destacou.
A Carta foi ainda um posicionamento do setor em defesa da indústria da construção. De acordo com o documento, em “tempos solares finalmente poderemos ser vistos pela sociedade como de fato somos: responsáveis agentes da produção; propulsores do progresso; veículo de erradicação da miséria; cidadãos dignos quanto aos mais dignos deste país”.
Elson Póvoa enfatizou que a Carta foi um marco e ressaltou a relevância dos encontros promovidos pela CBIC, que reúnem conteúdo e debates sobre o cenário nacional. “Nós começamos a participar mais da vida nacional devido aos debates técnicos e políticos que temos. Nós buscamos detectar as necessidades, como resolver, apontar os recursos para tocar programas e enviamos propostas e sugestões ao poder público”, explicou.
Segundo ele, os debates que ocorrem no ENIC contribuem para elevar a qualidade do setor da construção. “O que nós temos mais alardeado é a nossa união. É o que realmente faz a diferença. É o que dá força pro setor”, disse.
A carta é finalizada com o seguinte trecho: “Mas, sobretudo, resistamos porque poderemos, mesmo os que se estiolarem, dizer: Fomos os construtores que sempre sonhamos; fomos os construtores de novos tempos; Fomos os construtores da noção correta de cidadania, que haverá de se alastrar irresistivelmente em todas as mentes de nossos patrícios”.
Clique aqui e conheça a carta na íntegra!