O Estado de S. Paulo/BR
Verde é bom negócio
Humbert Gebara
Reciclagem, energia solar, reaproveitamento de água da chuva, individualização do consumo via hidrômetro, sensores de presença nas áreas comuns, teto verde, compostagem. Este elenco de cuidados pode ser considerado um bom resumo do que tem de ser implantado em um condomínio para que ele se torne,ou possa ser considerado, sustentável.
Novos itens de um condomínio com esse objetivo deverão surgir doravante, à medida que o tema ganha corpo. Um deles é o mais inusitado: no meio de tanto esforço conjunto, existe o condômino "não verde". Se a vocação do síndico ou de cada morador do empreendimento não pender também para o ecologicamente correto, o projeto pode ser prejudicado.
O eventual condômino avesso às práticas sustentáveis precisa entender que estamos falando também de negócios.
Não é sonho, é business. A única forma de resolver um certo tipo de antagonismo entre ecologia e economia é a visão correta de que, por exemplo, condomínio verde terá mais longevidade, custará menos pelo aproveitamento de seus recursos e será,portanto,um"negócio melhor". E para todo todos.
O custo ambiental – intra e extramuros do empreendimento – será diferente e o que chamamos hoje de custo ambiental será o custo real, talvez não imediatamente, mas é uma questão de muito pouco tempo.
É uma aposta, sem dúvida. Mas todos vão ganhar – e esse ganho já começou para imóveis de condomínios com essa vocação para a sustentabilidade. A conta de energia elétrica e de água – esta última a segunda maior despesa na cota condominial, depois apenas de mão de obra e encargos – poderá ser reduzida em até 30%. O hidrômetro de fornecimento de água individualizada está no centro da questão.
Segundo a experiência de algumas construtoras,esse equipamento um tanto esquecido no marketing dos lançamentos imobiliários pode também aumentar o valor de mercado do imóvel. Há quem fale em 5% de valorização.
Além do hidrômetro, uma miríade de dispositivos pode ser acoplada para reduzir despesas hidráulicas e elétricas. Não vamos enumerá-los.Mas vamos repetir: o morador avesso ao ecologicamente correto vai precisar se adequar. Ele faz parte do sistema e do esforço para a sustentabilidade. Não pode ficar alheio.
Temos notícia de que a instalação do hidrômetro individual nos condomínios encontra resistência por parte de alguns condôminos. E a razão continua sendo econômica: esse condômino não quer pagar pela água que usa, por exemplo, em seu banho demorado. Mas ele fará um bom negócio se gastar menos água e energia tomando um banho mais rápido. O brasileiro gasta per capita 220 litros de água por dia para sua higiene e consumo pessoais. Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), o cálculo justo per capita é de 110 litros por dia. Só com esse comparativo dá para se ver o tamanho do abismo.
Outro flash: está em vigor na cidade de São Paulo lei obrigando todos os novos empreendimentos residenciais a providenciarem desde o projeto o aquecimento parcial de água por meio de placas solares. O objetivo é incentivar o mercado da construção civil a reduzir o consumo de energia elétrica nas edificações. Água e energia elétrica andam juntas e são vitais para o conceito e prática da sustentabilidade. Essas informações não são tão divulgadas como deveriam. De quem é a culpa? Por ser um bom negócio, o condomínio verde é uma tendência de mercado cada vez mais visível.A sustentabilidade vai melhorar a qualidade e tornar menos caro o projeto arquitetônico. Nessa adequação para melhor, haverá melhor aproveitamento de recursos que são habitualmente desperdiçados sem que o custo final seja percebido.
As construtoras estão alertas para o desperdício oculto na construção civil, mas é difícil saber onde tudo começa e termina. Chamamos de desperdício oculto porque é bastante difícil mensurá-lo. Essa perda é sub-reptícia e começa no entulho. A palavra entulho é perfeita para mencionar aquilo que está fora de controle no custo da obra. Obviamente, esse desperdício incide no custo final do empreendimento. Isso é apenas o início.
Sustentabilidade é ou não é um bom negócio?
VICE-PRESIDENTE DE ADMINISTRAÇÃO IMOBILIÁRIA E CONDOMÍNIOS DO SINDICATO DA HABITAÇÃO (SECOVI-SP) E DIRETOR DO GRUPO HUBERT
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