Brasil Econômico/BR
Uma lente de aumento sobre o mercado de reforma
VALTER FRIGIERI JÚNIOR
Diretor de mercado da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP).
Pesquisa encomendada pelo Clube da Reforma ao Data Popular revela que, nos próximos 12 meses, aproximadamente 16,8 milhões de residências brasileiras deverão passar por algum tipo de reforma. O número confirma o potencial do mercado de autogestão e é coerente com a dimensão desse segmento, estimado em 35% do PIB da construção civil. Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE revela que, nos últimos dez anos, o mercado de reforma passou a ter menos participação na renda das famílias. Em contrapartida, segundo o levantamento do Data Popular, 51% das 3.969 pessoas entrevistadas responderam que precisam reformar, mas apenas 21% de fato o fazem.
Essa defasagem não é apenas um problema de mercado. A maior parte das habitações no Brasil foi construída sem a participação de uma construtora e sem incentivos resultantes de políticas públicas. Assim, muitas acabaram não nascendo com a qualidade necessária e passam constantemente por reparos. É por essa razão que um terço das famílias faz reformas para resolver problemas imediatos nos imóveis, segundo revelou a pesquisa.
O setor de autogestão demanda R$ 32 bilhões de investimentos ao ano somente para manter no mesmo nível o estoque habitacional brasileiro, estimado em 61 milhões de unidades. O principal programa do governo federal para a área de habitação, o Minha Casa, Minha Vida, contempla apenas novas unidades. O PAC Favela e as recentes medidas facilitadoras de crédito são iniciativas benéficas, mas não constituem um programa pensado para esse mercado. É preciso observar que a casa é um ativo e necessita de investimentos para se manter valorizada.
Algumas iniciativas para organização do setor estão sendo pensadas. Em outubro o governo federal aprovou novas regras para financiamento de materiais de construção com recursos do FGTS, com o objetivo de ampliar as linhas de crédito. A cadeia produtiva que compõe esse segmento deve também desenvolver habilidades para melhorar a qualidade da oferta às famílias. São três os pontos de atenção: mão de obra qualificada, assistência técnica e marketing.
A pesquisa evidencia a importância da mão de obra: o pequeno empreiteiro é importante no planejamento da reforma e na consultoria para a compra de materiais. Além disso, o mercado precisa incorporar técnicos, especialistas, arquitetos e engenheiros para que projetos e processos sejam realizados com mais qualidade, gerando residências com vida útil maior.
Apesar do potencial de crescimento, o setor concorre com outros segmentos de consumo. Muitas vezes, as famílias protelam obras nos imóveis, colocando como prioridade a compra de bens como automóveis, eletrônicos ou eletrodomésticos.
As tarefas para mudar e fazer crescer o setor são imensas, assim como os benefícios potenciais para as famílias, profissionais, empresas e o próprio governo. Com mais facilidades e crédito, o consumidor se motiva a melhorar as condições de seus imóveis.
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A cadeia produtiva que compõe o segmento de materiais de construção deve também desenvolver habilidades para melhorar a qualidade da oferta.
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