
AGÊNCIA CBIC
“Sustentabilidade é inovação”
A 2ª Oficina – Proposta de Política de Ciência, Tecnologia e Inovação para a Construção: Materiais e Componentes da Construção – do Programa Inovação Tecnológica (PIT) da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), realizada na última segunda-feira, 24 de outubro, reuniu mais de 60 pessoas, entre acadêmicos, empresários, técnicos e diretores de entidades, além de outros stakeholders importantes quando o assunto é inovação tecnológica na construção civil no auditório do Sindicato da Indústria da Construção de São Paulo.
Esse encontro foi o segundo da série de eventos que já está ocorrendo dentro da programação do PIT da CBIC cujo principal objetivo é a formulação de diretrizes para a redação de uma proposta de política de inovação, que deve ser entregue ao Governo Federal no primeiro semestre de 2012. A assessora técnica da CBIC Geórgia Bernardes considera fundamental o envolvimento de todos os participantes, em todas as oficinas que ainda vão ocorrer, para que o documento seja consistente. “A elaboração, por várias mãos, de propostas ao governo que impulsionem o desenvolvimento do setor é uma premissa constante em todos os projetos estratégicos da CBIC. (mariana, como não tivemos uma boa participação das construtoras nesta oficina, será melhor alterar conforme sugiro)Por isso, a participação de representantes de toda nossa cadeia produtiva é um fator fundamental”, explica Bernardes.
Na oportunidade, o professor da Universidade de São Paulo (USP) Vanderley John fez uma brilhante palestra sobre as tendências globais e necessidades brasileiras em relação à inovação tecnológica em materiais e componentes. Segundo ele, num passado recente falar e pensar em inovação ocorria somente no ambiente acadêmico e é excelente no momento em que a iniciativa de discutir o tema entra na pauta da cadeia produtiva. “Cerca de 87% do crescimento econômico dos americanos foi devido a novas tecnologias e precisamos entender, baseado nesta experiência dos Estados Unidos, que inovar significa se desenvolver”, lembra John, dizendo ainda que o projeto de inovação da CBIC ‘conversa’ muito bem com o projeto de sustentabilidade da entidade, pois “sustentabilidade é inovação”.
Uma das metas do setor e da comunidade acadêmica, de acordo com Vanderley John, é fazer, de fato, a construção civil inovar. Para ele, inovação é não se conformar com aquilo que você tem. “No nosso DNA há um certo conformismo e precisamos mudar isso urgentemente”. Segundo John, um dos motivos para explicar o por quê da inovação não ter acontecido no setor até o momento, na percepção dos construtores, é por oposição dos clientes, que ainda são muito conservadores, pois não são informados e convencidos dos benefícios que a inovação tecnológica pode trazer. “Acho que não focamos no cliente. Minha opinião é essa. Nunca perguntamos para o cliente o que ele acha de determinadas inovações. Há falta de foco no consumidor por parte das construtoras”, acredita o professor.
Mas a realidade, felizmente, está mudando. John explica que houve muitas transformações no mercado da construção civil que está ‘obrigando’ o setor a pensar em inovação como, por exemplo, o aumento brutal da escala de produção, a mudança do modelo financeiro, aumento na complexidade das obras, demanda social por sustentabilidade, aumento da expectativa de desempenho dos edifícios e das cidades, entre outros. “A sociedade espera cada vez mais de nós. É um problema que pode ser visto como oportunidade”, diz John.
No entanto, o professor admite que ainda há algumas barreiras que precisam ser derrubadas. Para ele, falta uma cultura de inovação no País e compreensão por parte das empresas em relação a tempo, pois inovar não é da noite para o dia. É preciso investir e esperar resultados em longo prazo. Falta ainda capacidade para avaliar e correr riscos por parte dos empresários.
Outro problema é que a “comunidade acadêmica quer publicar a todo custo porque isso é o que realmente conta pontos”. “Reconhece-se muito pouco o trabalho do pesquisador no Brasil. Isso não acontece em outros países. Se o professor desenvolve um bom projeto de inovação, ele pode até se tornar sócio, ou ganhar royalties da empresa lá fora. Aqui no Brasil, acontece assim: se o pesquisador desenvolve algo inovador, é bom. Mas se ele publica, é ótimo. O modelo da academia precisa mudar”, explica o professor, acrescentando que falta também uma cultura de colaboração entre o poder público, o parlamento, a academia, a cadeia produtiva e a sociedade civil organizada. “É fato que estamos avançando. É só olhar a iniciativa da CBIC em convidar a ANTAC para desenvolver um trabalho na área de inovação em parceria. Porém temos que ir ainda mais longe, avançar mais”, diz Vanderley John .
O Brasil ainda é um país jovem, principalmente no que diz respeito a pesquisa e desenvolvimento. Formar uma pessoa pra fazer P&D leva anos. De acordo com John, a academia forma engenheiros para reproduzir o conhecimento. “Na Poli-USP não formamos engenheiros para inovação, não formamos eles para pensar e imaginar coisas novas. Esse é um problema nacional, é o pior problema. Temos uma academia desenvolvida para um modelo de país subdesenvolvido”, observa.
Ao final da palestra, John disse que para promover a inovação no Brasil é preciso formar recursos humanos, melhorar a documentação técnica, promover a cultura de inovação. “Deveríamos promover consórcios, pois isso dilui o risco e os custos”, explica, dizendo ainda que no Brasil a inovação no setor da construção ainda está incipiente, mas felizmente o setor já está mais envolvido, o que mostra o amadurecimento da sociedade. “Dinheiro o País tem. Os recursos existem, mas é preciso aprender a geri-los melhor. Uma oportunidade é estimular, por exemplo, o governo a criar editais voltados à inovação para a construção”, concluiu.