Valor Econômico/BR
Setores de energia e construção mudam perfil no quarto trimestre
Resultados
Tatiane Bortolozi
O quarto trimestre foi um divisor de águas para o setor de energia elétrica, alvo de um novo modelo de renovação de concessões do governo, e para a construção civil, que depois de anos teve de admitir as falhas nos ousados projetos de lançamento.
As 25 empresas que compõem o setor elétrico na BM&FBovespa reverteram o lucro de R$ 4,13 bilhões do quarto trimestre de 2011 em perdas de R$ 7,38 bilhões um ano depois, segundo levantamento do Valor Data . Apenas a estatal Eletrobras registrou prejuízo de R$ 10,5 bilhões – o maior para um trimestre na história de todas as companhias da bolsa brasileira, segundo a consultoria Economática – dos quais R$ 10,08 bilhões atribuídos aos efeitos da Medida Provisória (MP) 579.
A MP 579, publicada em setembro e transformada na Lei 12.783 em janeiro, estabeleceu as novas regras para a prorrogação ou a extinção das concessões. As empresas favoráveis à proposta comprometeram-se a promover a redução tarifária e, devido a um valor a ser recuperado menor que o previsto, fizeram grandes baixas contábeis.
A perda de R$ 9,49 bilhões em valor de mercado no setor elétrico entre outubro e dezembro, sendo R$ 8,33 bilhões da Eletrobras, não foi culpa apenas do marco regulatório. A dificuldade em repassar as despesas trazidas pelo acionamento das térmicas, necessário devido ao baixo número de chuvas entre dezembro e janeiro, levou a margem bruta – o que sobra da receita depois de descontados os custos – de 42,8% para 37,6%.
O endividamento de R$ 100,81 bilhões no setor elétrico ao fim de dezembro, 25% maior que um ano antes, evidenciou a perda de capacidade de investir. A geração de caixa caiu 4%, para R$ 39,1 bilhões, e tende a sofrer mais com as tarifas mais baixas aplicadas pelo governo federal no início deste ano.
No setor de construção civil, composto por 19 empresas, o quarto trimestre deu contornos finais a um ano difícil, que culminou com a contabilização de distratos e estouros de orçamento. As construtoras se viram obrigadas a se concentrar na eficiência operacional e na revisão de estimativas, em detrimento de lançamentos, como forma de amenizar os problemas operacionais de projetos anunciados entre 2010 e 2011.
O prejuízo de R$ 1,55 bilhão no quarto trimestre superou em mais de cinco vezes as perdas de R$ 232,1 milhões obtidas em igual período de 2011. A PDG Realty respondeu por um prejuízo de R$ 1,79 bilhão, após um estouro orçamentário de R$ 1,43 bilhão e outros R$ 506 milhões reconhecidos como provisões, baixas contábeis e investimentos. A companhia perdeu R$ 700 milhões em valor de mercado de outubro a dezembro, enquanto o setor avançou em R$ 1,66 bilhão.
O índice do setor imobiliário na Bovespa (Imob) encerrou 2012 com uma variação positiva de 22,37%, enquanto o Ibovespa subiu 7,40%. A recuperação ainda não compensa a queda de 27,71% acumulada em 2011. Em 2009, ano de lançamento do programa habitacional "Minha Casa, Minha Vida", e em 2010, marco da recuperação econômica brasileira após a crise, o Imob avançou 205,3% e 10,46%, respectivamente.
O construção civil mostrou duas realidades distintas em 2012, segundo o analista Renato Maruichi, da Fator Corretora. "De um lado, as empresas mais expostas ao segmento de baixa e média-baixa renda, como Direcional e Rodobens, tiveram bom desempenho", afirma. "Por outro, as revisões de estimativas e/ou orçamentos e a alta alavancagem de Brookfield e Tecnisa fizeram com que estas empresas apresentassem um desempenho abaixo do esperado."
O foco em eficiência e a revisão de lançamentos trouxeram uma redução de 7,4% nos custos e de 3,7% nas despesas operacionais. No entanto, a relação entre custos e receitas, apesar da alta de 20% na primeira linha do balanço, subiu de 78,9% para 91,7%.
A rentabilidade das vendas, expressa pela margem bruta, caiu de 21,1% no quarto trimestre de 2011 para 8,3%. Considerando-se que os custos caíram, o indicador mostra os efeitos da queda de volume.
Os analistas Stephen Graham e Nicolas Riva, do Citigroup, acreditam que a construção entra em uma fase mais saudável neste ano, menos agressiva e com maior fluxo de caixa. "O setor ajudou os números de 2013 reduzindo o parâmetro ainda mais com os resultados do último trimestre de 2012."
As bases de comparação estarão mais fáceis para ambos os setores neste ano, mas a visão dos investidores mudou. O setor elétrico já não é reconhecido pela previsibilidade de receitas e amplos dividendos. A construção civil encontra uma economia menos aquecida e o desafio de cumprir os números propostos no fim de 2012.
Varejistas na contramão
Na outra ponta, o setor de varejo têxtil e de vestuário foi impulsionado pela combinação de renda em níveis elevados, baixo desemprego e facilidade no repasse de preços. Empresas como Cia Hering e Arezzo aumentaram os lucros em quatro vezes, para R$ 481,7 milhões. Os estoques estáveis em bases anuais e 7,5% menores ante o período de julho a setembro confirmaram o consumo aquecido.
Após o fim de incentivos fiscais para a linha branca, como geladeiras e máquinas de lavar, o consumidor voltou a concentrar gastos em vestuário e calçados, diz Guilherme Assis, analista da Brasil Plural Corretora.
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