O Globo/BR
PIB baixo não esfria mercado de trabalho
Nice de Paula
Analistas esperam desemprego ainda menor este ano, mas alertam para pressão de salários sobre preços.
Depois de um 2012 de bons resultados para o emprego e a renda, o mercado de trabalho deve voltar a fazer a alegria do brasileiro este ano. Apesar das ameaças de inflação, juros e crescimento ainda modesto, analistas prevêem que a taxa média de desemprego de 2013 será ainda menor do que os 5,5% do ano passado, que já foi a mais baixa da série histórica do IBGE, iniciada em 2002.
– Este ano a indústria tende a crescer um pouco e evitar demissões. Além disso, o setor de serviços e a construção civil vão continuar se expandindo e o mercado de trabalho tem condições de manter sua força. A taxa de desemprego deve ficar um pouco menor do que no ano passado, em 5,2% na média anual – afirma Rafael Bacciotti, da consultoria Tendências.
No ano passado, o mercado de trabalho surpreendeu os especialistas por apresentar resultados tão bons, diante de um crescimento de apenas 0,9% da Produto Interno Bruto (PIB). Para a maioria deles, fenômeno foi explicado pelo setor de serviços, que emprega muita mão de obra e teve crescimento bem acima da média do país. Mas eles apontaram outras razões, como o aumento do salário mínimo, impacto de programas sociais e a resistência dos empresários em demitir, na expectativa de que a economia iria se recuperar depois.
– O PIB per capita cresceu zero e a renda per capita do trabalho cresceu 3%, uma diferença bem grande, um descompasso. O "pibinho" não chegou ao bolso do trabalhador – diz Marcelo Neri, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Neri vê várias possibilidades para explicar o descolamento, e destaca, por exemplo, um aumento de 8,5% no rendimento dos analfabetos durante o ano de 2012.
– Se o PIB é um bom retrato do Brasil, essas coisas do mercado do trabalho são um bom retrato do brasileiro. Então, chego á conclusão que os brasileiros vão melhor do que o Brasil.
DIEESE VÊ POUCA CRIAÇÃO DE VAGAS ESTE ANO
Para o economista José Márcio Camargo, da Opus Investimentos, o desemprego brasileiro já está com taxas inferiores ao que se pode chamar de pleno emprego e deve cair um pouco mais ao longo este ano, para algo em torno de 5,25%. O lado ruim, diz ele, é o risco de os salários pressionarem a inflação.
– Está começando a haver uma corrida entre salários e preços. Com o mercado aquecido, os trabalhadores buscam reajustes maiores e os empresários repassam para produção. No fim, quem sai perdendo com a inflação são os trabalhadores – avalia.
Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, diz que o consumo segue crescendo e a taxa de desemprego deve continuar baixa este ano, podendo cair um pouco em relação à média do ano passado, mas também pondera:
– Estamos chegando num limite perigoso. Essa taxa é condizente com um cenário de inflação em aceleração.
O diretor-técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clemente Ganz Lúcio, espera um recuo na taxa de desemprego, mas nada tão significativo, diante da previsão de um crescimento maior da economia, de 2% a 3%. Ou seja, é possível que este ano, o PIB do pais tenha um crescimento maior e o recuo do desemprego seja mais modesto. A hipótese do Dieese é que em 2012 os empresários evitaram demitir, porque acreditaram na recuperação da economia a curto prazo.
– Se isso tudo se confirmar, as empresas têm capacidade ociosa e podem aumentar a produção sem fazer contratações pesadas neste momento. A taxa nacional da nossa pequisa de desemprego, que é diferente da do IBGE e ficou em 10,5% ano passado, deve baixar 10,2% ou 10% neste ano. Nada tão robusto, como por exemplo, quando a gente compara com a queda registrada no desemprego desde 2004, quando a taxa de 23%.
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indexação: IBGE
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