O Estado de S. Paulo/BR
O que falta para a construção deslanchar
Sérgio Watanabe
O nível de crescimento do setor deverá ficar acima da variação do PIB, mas poderia ser melhor se diversas medidas fossem tomadas.
O PIB da construção civil, ramo de atividade responsável por obras imobiliárias, de habitação popular e de infraestrutura, deve crescer cerca de 3% em 2013. Portanto, esse resultado será inferior à taxa de crescimento do setor, de 4%, estimada para o ano passado.
A razão é simples: se a taxa de investimentos declina, cai também o ritmo de expansão da construção. Hoje, cerca de 45% de todos os investimentos feitos no País passam pela construção, e estes estão acontecendo em ritmo menor do que nos anos anteriores.
Mesmo assim, o nível de crescimento do setor deverá ficar acima da variação do Produto Anual Bruto (PIB), cujas últimas estimativas apontam para taxas menores que 2,5%. Se a estimativa de 3% se confirmar para a construção, não será um resultado ruim. Mas, sem dúvida, a taxa poderia ser melhor, se diversas medidas fossem tomadas.
No âmbito imobiliário, há urgência em agilizar o licenciamento de projetos de empreendimentos por parte dos órgãos públicos, sobretudo na capital paulista, onde esse processo ficou praticamente paralisado nos últimos sete meses, devido a problemas técnicos.
Espera-se que, com a criação da Secretaria Municipal de Licenciamentos, esses problemas se resolvam e que a análise dos processos seja unificada em um balcão único, encurtando em vários meses o tempo para sua aprovação.
Isso possibilitará elevar o volume de lançamentos residenciais, num momento em que os preços dos imóveis tendem à estabilização, a renda das famílias segue se elevando e a oferta de crédito imobiliário continua crescendo – três fatores essenciais ao aumento dos investimentos no segmento.
Quanto à construção comercial e industrial, ela naturalmente depende da reativação dos investimentos nessas esferas, o que pode ocorrer com mais intensidade no segundo semestre.
Já no âmbito da habitação popular, a agilização dos licenciamentos por parte dos órgãos públicos também se faz necessária. Mas ainda será preciso enfrentar outros gargalos, como a reduzida disponibilidade de terrenos nas grandes capitais, a escassez de mão de obra qualificada e entraves nos cartórios.
Parcerias entre os governos da União, dos estados e dos municípios são relevantes para elevar as contratações nos programas como o Minha Casa, Minha Vida. Mas, para proporcionar um horizonte maior aos negócios e elevar a produtividade do segmento, será importante retomar a tramitação da PEC (Proposta de Emenda Constitucional) da Habitação. Ela obriga a destinação de recursos permanentes dos orçamentos públicos à contratação de moradias populares. Também é preciso formatar um programa nacional de formação massiva de mão de obra qualificada para a construção.
Na infraestrutura, é preciso que o poder público formate e gerencie de forma competente bons projetos, pois as construtoras estão prontas a executá-los. E também será necessário rever com urgência as composições unitárias de preços de serviços de engenharia, que os órgãos públicos utilizam como referência para as contratações. Esses preços, defasados, dão ensejo a acusações infundadas de superfaturamento por parte dos órgãos de controladoria, que paralisam as obras públicas e atrasam os cronogramas de execução.
SERGIO WATANABE É PRESIDENTE DO SINDICATO DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO (SINDUSCON-SP), VICE- PRESIDENTE DA CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO (CBIC) E DIRETOR DA FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE SÃO PAULO (FIESP).
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