No ENIC, destaques em inovação e sustentabilidade salvam vidas e qualificam empregos

A possibilidade de salvar vítimas em potencial de balas perdidas e a valorização do isopor como matéria reciclável revelam a face mais humana que a nova era exige das corporações. A indústria da construção reconheceu seu papel ao destacar duas das iniciativas mais sensíveis aos desafios da sociedade em transformação. Experiências inovadoras foram apresentadas em painel do Encontro Internacional da Indústria da Construção (ENIC) na tarde da quarta-feira (09/04), na cidade de São Paulo. Promovido pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o evento acontece em conjunto com a 29ª edição da Feicon, no pavilhão 8 da São Paulo Expo.

Um dos destaques veio da arquiteta Natália Nakamura, uma das vencedoras da 25ª edição do Prêmio CBIC de Inovação e Sustentabilidade, realizado em novembro. Ao desenvolver um ambiente digital onde é possível realizar com precisão a avaliação do ciclo de vida de uma obra, ela redimensiona o debate quanto ao tema nesta edição do encontro. O setor da construção, com o projeto de Nakamura, pode viabilizar avanços na sistematização da sustentabilidade e de boas práticas.

O Encontro Internacional da Indústria da Construção (ENIC) é uma realização da CBIC, em parceria com a RX | FEICON, apoio do Sistema Indústria e correalização com SESI e SENAI. O evento conta com o patrocínio oficial da Caixa Econômica Federal e Governo Federal, além do patrocínio da Saint-Gobain, no Hub de Sustentabilidade e Naming Room de Sustentabilidade; do Sebrae Nacional, no Hub de Inovação, e da Mútua, no Hub de Tecnologia. Também são patrocinadores do ENIC: Itacer; Senior; Associação Brasileira de Cimento Portland – ABCP, Associação Brasileira das Indústrias de Vidro – Abividro, Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas – Abrafati, Anfacer, Sienge, Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos – Apex Brasil, Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial – ABDI, Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo – CAU/SP; Multiplan; Brain; COFECI-CRECI; CIMI360; Esaf; One; Agilean; Exxata; Falconi, Konstroi; Mais Controle; Penetron; Seu Manual; Totvs; Unebim, Zigurat; Yazo.

Durante o painel, o engenheiro Gustavo Corbelli, integrante do coletivo de jovens lideranças da construção do grupo CBIC Jovem, recebeu premiação especial dada a sensibilidade com as vítimas de balas perdidas nas comunidades do Rio de Janeiro. O desenvolvimento de uma argamassa blindada contra tiros de grosso calibre aconteceu quase por acaso, quando ouviu a dificuldade de um conhecido em furar com pregos a parede com a areia que comercializa.

A ideia ganhou apoio de um colega da Prefeitura do Rio, com o propósito de proteger escolas de comunidades. “Esse engenheiro me perguntou se era possível, com a nossa areia e com o meu conhecimento, trabalhar na elaboração de formulações de argamassa e concreto, a gente pensar em um produto que pudesse ser utilizado pra proteger é bares, escolas e lares também.” O desafio se tornou a tese de mestrado de Corbelli. Depois de testar vários materiais na composição da argamassa, encontrou a fórmula, cuja equação foi aprovada em rigorosos testes da ABNT.

Revestimento inovador – O impacto social da inovação, o engenheiro tem na pele e na planilha. Segundo Corbelli, são mais de mil mortes por ano no Rio de Janeiro causadas por balas perdidas, e uma em cada cinco moradias fica em comunidades sob risco da guerra no crime organizado. O desafio agora é disponibilizar o produto a quem precisa, apontou. “Nós somos produtores de areia, mas nós não somos produtores de revestimento, muito menos de um revestimento balístico. Então estamos procurando um parceiro para desenvolver esse revestimento e que ele consiga realmente chegar nas pessoas que mais precisam dele”.

A viabilização do negócio não preocupa mais a empresária Luciana Luz, destacada com dois prêmios nesta edição do Prêmio. A CEO da Start Solução de Resíduos transforma isopor em produtos de reparação e revestimento para a construção. Os dois produtos por ela criados foram premiados: o Poliframe, revestimento à base de isopor reciclado, com placas de até 3m/1m, substitui argamassa e outros materiais em construção e reformas. O outro, batizado Reparô, é uma pasta aplicável na reparação e solda de madeira, aço e alvenaria.

Antes produtora de eventos, Luciana se viu durante a pandemia construir sem recursos um teto no imóvel alugado para guardar o equipamento usado nas festas que produzia. A opção pelo isopor foi uma lógica casual. “Material muito abundante em nossas casas, de resíduo mesmo, um problema ambiental. E foi o que a gente pensou primeiro em tratar”, explica. “E pela propriedade térmica dele. Então quando pegamos para utilizar como matéria prima, veio pelas minhas causas ambientais”, destaca.

Ela afirma que retira do ambiente 200 quilos de isopor por dia, um grande volume. Se esse feito já é o bastante para comemorar, a cadeia de reciclagem e o modo de produção também merecem destaque. Ela afirma que os dois produtos são fabricados sem utilização de água e com baixo consumo de energia. A coleta, na periferia de Salvador, na Bahia, é feita por uma cooperativa de catadores com apoio logístico da prefeitura da capital. A aplicação do material exige qualificação de pedreiros e aplicadores. Quanto ao custo, a rápida finalização e a dispensa de outras etapas no uso de materiais convencionais, afirma, compensa.

O tema tem interface com o projeto “Inteligência e Estratégia para o Futuro da Construção”, Construção 2030, da Comissão de Materiais, Tecnologia, Qualidade e Produtividade (COMAT) da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI).