Jornal O Estado de S.Paulo/BR – 07/06/2011
mulher eletricista? sim, e sp tem as pioneiras
Programa da AES Eletropaulo já formou 41 profissionais desde 2010
Edison Veiga – O Estado de S.Paulo
Elas são mulheres, têm entre 18 e 39 anos e encaram sem medo um trabalho de alta
voltagem, fios e eletricidade. São 41 e atuam ao lado de 1.761 homens
eletricistas. Fazem parte das duas primeiras turmas de mulheres eletricistas do
Brasil, formadas pelo Instituto Edison. Desde o ano passado, elas estão
trabalhando nas ruas de São Paulo, a serviço da AES Eletropaulo.
Todas moram na Vila Guacuri, bairro da zona sul paulistana, onde funciona um
programa social da Eletropaulo em parceria com a empresa Socrel. Em 2010, 111
mulheres se candidataram para trabalhar na companhia elétrica. Apenas 21 foram
aprovadas, num processo seletivo que testou suas aptidões. Passaram por
treinamento de 165 horas – divididas entre fundamentos teóricos e atividades
práticas.
"O trabalho que fazemos é igual ao dos homens", comenta Claudete
de Oliveira Corrêa, de 39 anos, integrante da tropa feminina da Eletropaulo.
Claudete era dona de casa, mãe de três filhos – dois meninos, de 18 e 13 anos;
e uma garota de 16. Viúva há poucos meses, sustenta a família com o novo
ofício. "Ela é o homem da casa agora", diz a colega Lilian Moreira
Santos, de 31.
"Foi em um cenário de apagão de mão de obra, com a migração de
eletricistas para o setor de construção
civil, que elaboramos o projeto Mulheres Eletricistas", explica o
gerente de Treinamento da Eletropaulo, Denesio de Andrade Carvalho.
Lilian é só sorrisos. "Eu fui atendente de lanchonete e estava
desempregada havia dois meses quando fiz a inscrição para a vaga", conta
ela. Mas não é só isso. A nova vida refletiu-se também no coração. "Eu era
casada (tem dois filhos, de 11 e 4 anos), mas na Eletropaulo conheci o amor de
minha vida. Separei e há cinco meses estou namorando (o funcionário William
Benvindo, de 29)", revela.
Vaidades. Antes, elas não se atreviam nem a consertar pequenos problemas
elétricos de suas casas. Trocar lâmpada? Nem pensar. "Morria de medo de
mexer em qualquer coisa", conta Claudete. "Não tinha a menor
noção", completa Lilian.
Marcia Domingos de Oliveira, de 30 anos, até tinha certa experiência. O que
não significava que fosse bem-sucedida em sua atuação de Professor Pardal
(personagem da Disney afeito a invenções). "Uma vez, desmontei um ferro
elétrico para consertar. Acabei praticamente montando dois", ri.
"Agora sou fascinada. A eletricidade é um vício."
E como fica a vaidade feminina no dia a dia? Brincos, pulseiras, anéis…
nem pensar. "Eu entro no carro e já vou arrancando. Tenho pente e
espelhinho à mão, para chegar ao cliente, ao menos, com os cabelos em
ordem", diz Lilian.
Elas contam que cantadas são frequentes. "Tem cliente que diz que,
sendo mulher, posso ir lá cortar a luz todos os dias", admite Lilian, que
é responsável por suspender o fornecimento de eletricidade de quem não está com
as contas em dia. "Mas também já aconteceu de uma velhinha me receber a
vassouradas."
Por
norma da Eletropaulo, todos os eletricistas, sejam homens ou mulheres, atuam em
dupla. Minoria absoluta, as mulheres sempre têm um colega homem ao lado. |