
AGÊNCIA CBIC
MCMV amplia participação e mercado imobiliário cresce 15% no 1º trimestre, mesmo com juros elevados

A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) apresentou nesta segunda-feira (19), os dados atualizados do mercado imobiliário nacional referentes ao 1º trimestre de 2025. Com um crescimento acima de 15% nas vendas e nos lançamentos, o setor segue resiliente, com resultados alavancados pelo programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), apesar do cenário de juros elevados.
Entre janeiro e março deste ano, foram vendidas 102.485 unidades residenciais numa amostragem de 221 cidades em todo o país, o que representa um crescimento de 15,7% em relação ao mesmo período de. Já os lançamentos totalizaram 84.924 unidades, com alta de 15,1% na comparação anual.
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O desempenho é ainda mais significativo considerando a tradicional desaceleração do mercado no início do ano em relação ao último trimestre do ano anterior e à manutenção em patamares elevados da taxa Selic.
“Mesmo em um cenário de crédito caro, o brasileiro segue acreditando no investimento em moradia. A força do MCMV, aliada ao crescimento da renda e à estabilidade no emprego, sustenta esse desempenho positivo”, afirmou Renato Correia, presidente da CBIC. “Como nosso déficit habitacional é majoritariamente de habitações econômicas, o Minha Casa, Minha Vida traz justiça social. É fundamental que esse mercado seja valorizado e continue crescendo”, complementou Correia.
O volume total lançado nos últimos 12 meses, nas mesmas 221 cidades, chegou a 407.949 unidades, e as vendas acumuladas no período atingiram 418.136 unidades — um aumento de 22,5% em relação ao ano anterior.
Já a oferta final de imóveis caiu para 287.980 unidades, o que corresponde a uma redução de 4,6%, sinalizando forte absorção pelo mercado.
“Estamos atravessando um momento de turbulência na economia em relação à taxa de juros. Ainda assim, as estimativas de crescimento do PIB variam entre 2,3% e 2,5% para este ano”, avaliou na coletiva o economista Celso Petrucci, conselheiro da CBIC. “Mesmo diante desse cenário, as 221 cidades pesquisadas mostram um mercado bastante aderente, principalmente ao programa Minha Casa, Minha Vida”, acrescentou Petrucci.
Vendas do Minha Casa, Minha Vida crescem 40,9% e lançamentos, 31,7%
O MCMV foi o grande protagonista do trimestre. O programa respondeu por 53% dos lançamentos e 47% das vendas no período, com crescimento de 40,9% nas vendas e de 31,7% nos lançamentos em relação ao primeiro trimestre de 2024.
A maior presença do programa é explicada pelas condições de crédito mais acessíveis, com juros reais a partir de 4%, e pelo aumento da participação de estados e municípios com subsídios adicionais.
“O crescimento do programa é significativo. Isso mostra que os aprimoramentos feitos no segundo semestre de 2023 no programa do governo estão funcionando plenamente”, afirma Petrucci.
Segundo a CBIC, os bons resultados se concentram em regiões onde o MCMV é dominante, como o Norte e o Nordeste. No Sudeste, especialmente em São Paulo, também houve destaque nos lançamentos do programa. Ao todo, o tempo médio de escoamento da oferta no MCMV caiu para 6,5 meses, sinal de forte procura.
O fortalecimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) também ajuda a explicar o bom momento. Em dois anos, o orçamento do fundo dobrou: passou de R$ 80 bilhões para R$ 160 bilhões, com o reforço da Faixa 4 do programa feito neste ano pelo governo federal.
“O setor amadureceu. As empresas ocuparam capacidade ociosa e estão entregando produtos com mais qualidade, melhor prazo e maior eficiência. O banco sabe operar, o corretor sabe vender, e o cliente sabe comprar”, apontou o presidente da CBIC. “Não tenho dúvidas de que esses R$ 160 bilhões serão integralmente consumidos”, disse Renato Correia.
Estoque em queda e preço estável
A queda na oferta geral — que reduziu 5,5% em relação ao trimestre anterior — reflete uma combinação entre aumento nas vendas e redução no ritmo de lançamentos fora do programa social.
“Temos capacidade produtiva. O que está faltando é dinheiro para a produção. O ideal seria ter financiamento suficiente para produzir o que a demanda exige”, observou Ely Wertheim, vice-presidente da Indústria Imobiliária da CBIC. “Hoje, quem compra imóvel com financiamento, especialmente pelo SBPE, faz um bom negócio. As taxas reais estão negativas e, se os juros caírem, o mutuário se beneficia”, argumentou Wertheim.
Já os preços médios dos imóveis tiveram leve alta de 1,9% no trimestre, acompanhando a variação do INCC no período, o que indica estabilidade nos valores praticados, mesmo com a pressão inflacionária do setor de materiais.
“Precisamos enfrentar a questão dos juros com seriedade e urgência. Se antes o problema era o ‘dragão da inflação’, hoje o que trava o país é o ‘dragão dos juros’. Resolver isso trará um mercado imobiliário ainda mais saudável”, afirmou Renato Correia.
Expectativas para 2025
A projeção da CBIC é de que o mercado imobiliário se mantenha em patamar elevado ao longo de 2025, especialmente com a consolidação da Faixa 4 do MCMV, que iniciou as contratações neste mês, e a continuidade dos financiamentos via FGTS e poupança. O desafio está na capacidade de manter a oferta na mesma velocidade da demanda, especialmente no segmento popular.
“A resiliência do mercado imobiliário é evidente. A despeito da Selic elevada e das incertezas macroeconômicas, o desejo do brasileiro pela casa própria continua movendo o setor”, afirma Celso Petrucci.
A coletiva também contou com Marcos Kahtalian, sócio-fundador da Brain Inteligência Estratégica.
O levantamento faz parte dos Indicadores Imobiliários Nacionais, desenvolvido em parceria com a Brain Inteligência Estratégica e integra o projeto “Segurança Habitacional como Garantia Básica para a Qualidade de Vida e Integridade Física do Trabalhador”, realizado pela CII/CBIC em correalização com o Serviço Social da Indústria (Sesi).