
AGÊNCIA CBIC
11/07/2011
João Crestana
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11/07/2011 :: Edição 133 |
Jornal O Estado de S. Paulo/BR 10/07/2011 João Crestana A real Sustentabilidade
Há uma consciência crescente em relação à necessidade de encontrar modelos de desenvolvimento que não tenham efeito danoso sobre o meio ambiente. Nesse contexto, o conceito de construção sustentável ganha cada vez mais espaço.
No mercado imobiliário brasileiro, já se configuram como diferenciais competitivos importantes a utilização de materiais menos agressivos à natureza (por exemplo, tijolos, madeira e outros insumos provenientes de demolições e tintas atóxicas), a exigência de certificação ambiental dos fornecedores (em especial, os de madeiramentos) e a implantação de mecanismos que permitam reutilizar água e fazer melhor aproveitamento de energia solar e eólica. Mais do que uma fachada impressionante ou o fino acabamento, o que define o "moderno" hoje, na forma de morar, é o caráter sustentável do edifício.
Desse modo, quando uma construtora ou um arquiteto alinhado às novas tendências começa a delinear um projeto, ele tem como desafios analisar o ciclo de vida do empreendimento – ou seja, dezenas de anos. Neste âmbito, é necessário realizar o estudo do impacto ambiental da construção, planejar a gestão dos resíduos que serão gerados e propor o encaminhamento do material.
E, é claro, elaborar uma planta que preveja o máximo aproveitamento dos recursos existentes no local, principalmente no que se refere à ventilação e à luminosidade natural. Essa condição contribui para que a obra modifique minimamente o ambiente.
Os cuidados se estendem ao processo da construção propriamente dita. Combater desperdícios e incentivar o reaproveitamento são linhas mestras de uma construção sustentável, além de, obviamente, ajudarem a reduzir custos, o que é positivo para o consumidor final. Certos materiais, como o chumbo, por seu alto grau de toxicidade, são excluídos de qualquer projeto que se pretenda sustentável.
Também é importante dar prioridade a fornecedores que não precisem cobrir longas distâncias para realizar entregas: quanto menores e menos numerosos forem os deslocamentos, menores serão as emissões de gases de efeito estufa deles decorrentes.
Finalizada a obra, é fundamental que sejam oferecidos aos seus ocupantes condições para descartar corretamente todos os resíduos gerados no dia a dia, contando inclusive com local específico para acondicionar os materiais recicláveis. É essencial lembrar que a obra afeta o ambiente somente por um ou dois anos; o edifício, no entanto, remanesce por décadas e os efeitos permanentes dos moradores sobre o ambiente deverão ser sopesados seriamente desde o projeto.
Distâncias. Todos os procedimentos descritos até agora são incontestavelmente positivos. Mas nada disso basta quando a sustentabilidade não está incorporada a uma concepção urbana mais ampla.
Explico: as cidades brasileiras são "espalhadas" demais. Em São Paulo, uma pessoa que more, por exemplo, na Freguesia do Ó, e trabalhe em Santo Amaro, gastará mais de uma hora para cobrir a distância – cerca de 20 km – entre os dois bairros, nos horários de pico. Ao todo, percorrerá 40 km por dia, e gastará duas horas no trânsito.
Se usar transporte particular, essa pessoa terá emitido, ao final de um ano, aproximadamente 20 toneladas de dióxido de carbono (CO2). Para "sequestrar" essas emissões, ela precisaria plantar seis árvores por ano.
Isso significa que, quando pensamos em empreendimentos responsáveis, devemos conceber não somente o processo abrangendo da elaboração da planta à conclusão da obra. Devemos também pensar na localização dessas novas moradias.
O adensamento populacional, tantas vezes apontado como o vilão da qualidade de vida nos grandes centros urbanos, pode ser, na verdade, parte da solução. Morar, trabalhar e encontrar lazer variado e serviços na mesma região é uma forma de reduzir os longos deslocamentos, o que resulta em economia de recursos e menos estresse. A cidade compacta é boa para o meio ambiente, e sobretudo, é benéfica para as pessoas. Mas viabilizar um bom tecido urbano requer planejamento. Empregos, escolas, hospitais, malha viária suficiente para suportar a demanda e transporte público com várias modalidades integradas são essenciais à satisfação das necessidades dos cidadãos, e cabe ao poder público atentar para a população e investir em infraestrutura.
Isso sim é sustentabilidade.
PRESIDENTE DO SINDICATO DA HABITAÇÃO (SECOVI-SP), DA COMISSÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA IMOBILIÁRIA DA CBIC
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