
AGÊNCIA CBIC
Hora de passar o bastão
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12/11/2013 |
Valor Econômico Hora de passar o bastão Um fundo exclusivo, uma holding imobiliária e um VGBL fazem parte da estrutura sugerida pelo plano financeiro vencedor do programa avançado do IBCPF a uma família em ransiçao de gerações. Por Luciana Seabra | De São Paulo Filho de imigrantes, Jonas Diuad, 72 anos, construiu um grande negócio, mas não conseguiu formar um sucessor entre os filhos e decidiu vender a empresa, deparando-se com uma liquidez repentina: a entrada de R$ 20 milhões. O retorno de seus investimentos, concentrados em imóveis e na renda fixa, de 7,4% ao ano, já não satisfaz mais. Há ainda o desejo de deixar uma herança às próximas gerações. Esse é um caso hipotético, construído pela Moneyplan Consultoria, mas inspirado em um personagem que tem se tornado cada vez mais comum no dia a dia dos planejadores financeiros. Sobre ele debruçaram-se 52 pessoas, divididas em 12 grupos, ao longo dos últimos dois meses e meio, na quarta edição do programa avançado do Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros (IBCPF). Das análises saiu um plano financeiro vencedor, anunciado na noite de ontem. "O Brasil cresceu muito nos últimos dez anos e houve uma realização de riqueza, em que muitas famílias ficaram com poder financeiro relevante. Uma discussão importante hoje é como manter esse patrimônio olhando para o futuro, que é um mundo muito mais complexo e imprevisível", diz Fabio Vidigal, sócio da gestora Mauá Sekular e coordenador do programa avançado do IBCPF. Claudio Parisotto, João Zurdo, Maiquel Wobeto, Maria Buttler e Sonia Silvério formam o grupo vencedor do desafio deste ano, a maior parte deles com experiência na área de private banking. Casado com Olga, Jonas teve três filhos – Luiz, 46 anos, médico; Elisa, 45, jornalista; e Marco, 40, administrador de empresas. Os filhos mais velhos nunca tiveram interesse pelo negócio do pai, uma confecção. O mais novo, apesar de se julgar o sucessor natural, não teve habilidade para assumir os negócios. Depois do terceiro ano consecutivo sem lucro e muitos conflitos com Marco, Jonas vendeu a fábrica. Preocupada com a possibilidade de brigas entre os filhos no futuro, Olga deu início a uma batalha para convencer o marido de que é necessário organizar a sucessão. O padrão de vida bastante elevado não coincide com o objetivo da família, que quer ao menos manter ao longo dos próximos 30 anos o patrimônio construído até agora, de R$ 31 milhões. Sem qualquer mudança nas receitas e despesas atuais, calculou o grupo vencedor, os ativos financeiros seriam reduzidos, em três décadas, a R$ 12 milhões. Para evitar isso, seria necessário aumentar em R$ 600 mil o fluxo de recursos anual. Uma alteração no portfólio de investimentos financeiros garantiu a passagem de um ganho real (descontada a inflação) de 1,3% ao ano hoje para 2,9%. Parece pouco? Cada incremento de 1 ponto percentual no juro real do portfólio, estimaram os planejadores, trazem R$ 350 mil adicionais por ano ao fluxo de caixa da família. Com foco no planejamento sucessório e na maior eficiência tributária, o grupo vencedor sugeriu a migração de um portfólio concentrado em poupança, Certificados de Depósito Bancários (CDBs), letras financeiras e imóveis para um fundo exclusivo fechado com aplicações sofisticadas e uma holding imobiliária. Um plano do tipo Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL) que tem os filhos do casal como beneficiários complementa a estrutura, garantindo que a família tenha recursos líquidos em até dez dias após a morte do titular, para fazer frente ao período de inventário. Outra parcela tem os netos como beneficiários, com o objetivo de garantir a formação da terceira geração, um objetivo do patriarca. Para a parcela de maior liquidez, foi recomendada a aplicação em Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) e Letras de Crédito Imobiliário (LCIs), que contam com isenção de imposto de renda. A ideia é que os recursos sirvam às despesas de curto prazo, além de ser um caixa para aproveitar futuras oportunidades, como emissões de debêntures incentivadas, títulos privados que financiam projetos de infraestrutura e não pagam IR. Cerca de 49% dos ativos financeiros da família, provenientes da venda da empresa, foram alocados em um fundo exclusivo fechado com gestão ativa. Entre os ativos em carteira, o grupo sugeriu debêntures, títulos públicos, ações que prometem dividendos fartos, fundos multimercados com histórico positivo em momentos de volatilidade e uma alocação no exterior. A exposição do portfólio ao dólar é importante para uma família como a de Jonas, que faz viagens anuais ao exterior e compra itens importados, diz Jan Karsten, diretor de educação do IBCPF e sócio da gestora de patrimônio GPS. Até mesmo porque há uma expectativa de desvalorização do real. Uma vantagem do fundo exclusivo fechado é que não há cobrança de "come-cotas", tributação semestral que incide sobre fundos multimercados e de renda fixa. A ausência do imposto, mostrou o grupo, gera ganho de R$ 385 mil em uma década para cada R$ 10 milhões investidos. O contraponto é que a família só pode retirar recursos a cada 12 meses. Karsten sugere que, a cada ano, seja sacado o ganho acima da inflação, mantido o poder de compra do principal. Além disso, o fundo exclusivo atende a um dos anseios da família que diz não gostar de fundos por não poder estabelecer as condições de como o dinheiro será rentabilizado. "A decisão continua sendo do gestora, mas o cotista acaba podendo participar mais dela", diz Karsten. O custo de abertura do fundo exclusivo foi estimado pelo grupo em R$ 25 mil. A ideia é que as cotas do fundo exclusivo, assim como os da holding imobiliária, sejam doadas aos filhos ainda em vida, antecipando a herança e o pagamento de Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD). Andrea Nogueira, certificada pelo IBCPF e sócia do escritório Velloza & Girotto Advogados Associados, sugere que isso seja feito com reserva de usufruto, garantindo aos pais toda a renda gerada pelo patrimônio enquanto ainda estiverem vivos. |
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