Herança verde

Correio Braziliense/BR

Herança verde

Desde o projeto, sempre houve a preocupação de que o Mané Garrincha fosse sustentável. O estádio é o único, entre os que receberão a Copa, a pleitear o selo Platinum, nunca antes conferido a uma arena  
 A viabilidade ambiental da construção do novo Mané Garrincha sempre representou um dos pontos prioritários da obra. Segundo o arquiteto e coautor do projeto, Vicente Castro Mello, até mesmo a posição da estrutura em relação ao Plano Piloto foi pensada para aproveitar melhor a iluminação natural e a direção dos ventos.
 A fachada composta de colunas permite a entrada de luz, mas a cobertura da arena cria sombra e impede também a exposição exagerada dos espectadores ao sol. Assim, se evita o desperdício de energia decorrente do uso constante de aparelhos de ar condicionado. Na construção, a preocupação ecológica também impera. Os trabalhadores foram treinados para separar os materiais destinados à reciclagem.
 Medidas como essas se encaixam nas recomendações do Comitê Organizador Local da Copa de 2014. O COL sugeriu a todas as cidades sedes que adotassem, nos estádios, a certificação Leadership in Energy and Environmental Design (LEED), conhecida no Brasil pelo nome de Selo Verde, como forma de fazer do Mundial o primeiro evento esportivo considerado sustentável.
 Nesse quesito, porém, Brasília tem permanecido à frente das demais cidades que ganharão novas arenas para a competição de 2014. O Mané Garrincha, por exemplo, é o único, entre os 12 que vão sediar jogos da Copa, a pleitear o reconhecimento máximo da entidade US Green Building Concil: o Leed Platinum. Em setembro de 2011, o estádio candango recebeu a visita do vice-presidente da organização, Scott Horst. Ele gostou do que viu e comentou sobre algumas das medidas que mais o impressionaram, como a transformação do entulho da antiga arquibancada em brita para ser reutilizada na concretagem do piso da arena.
 Horst ainda convidou o governador Agnelo Queiroz para participar do Green Building International Conference and Expo, realizado em novembro do ano passado, em São Francisco, que reuniu profissionais e estudiosos da sustentabilidade.
 Durante o evento, Agnelo discutiu a importância da questão ambiental.  Necessitamos enviar uma mensagem a todas as pessoas do nosso país, e também do mundo, de que é possível construir de maneira verde e de que é importante tentar , declarou, na Califórnia. O governador também detalhou as características sustentáveis da arena do DF, como a cobertura com capacidade para armazenar águas das chuvas e diminuir em 80% o uso de água potável; os painéis solares e o piso impermeável, entre outras.
 De acordo com os arquitetos que assinam a obra, a arena já reúne 87 pontos, dos 100 possíveis, o que seria suficiente para a conquista do atestado mais reconhecido do mundo na área de construções sustentáveis. Scott Horst afirmou que ainda não é possível garantir a certificação porque ela só poderá ser conferida quando o estádio estiver pronto e entregue. Porém, com ou sem o selo, Brasília já pode se orgulhar de ter feito sua parte na edificação de um local moderno que servirá de atestado do empenho da capital na formação de um mundo mais sustentável.
 Certificação inédita
 A certificação LEED, conhecida como Selo Verde no Brasil, é um reconhecimento de sustentabilidade conferido pela entidade americana US Green Building Concil (USGBC), um conselho de construção sustentável com atuação em 115 países. Há quatro níveis de certificação: Certified, Silver, Gold e Platinum. O Silver e o Gold já foram concedidos a estádios nos Estados Unidos, porém o nível Platinum é inédito. Para se obtê-lo, são analisados 80 pontos, entre os quais o uso racional da água e da energia, e qualidade ambiental interna e inovação. Pesquisas indicam que os empreendimentos com selo LEED têm gasto de energia, em média, 30% menor. A redução pode chegar a 50% no consumo de água, 90% no gerenciamento de resíduos e 35% nas emissões de gás carbônico.