
AGÊNCIA CBIC
12/12/2011
Estranhos no conselho
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12/12/2011 :: Edição 234 |
Jornal O Estado de S. Paulo/BR 12/12/2011
Estranhos no conselho Quem são e como agem os investidores ativistas brasileiros, figuras que estão influenciando cada vez mais a gestão das companhias de capital aberto
No começo do mês, a Rodobens Negócios Imobiliários anunciou que vai lançar empreendimentos fora do programa Minha Casa, Minha Vida. Antes disso, promovera uma dança das cadeiras no alto escalão, que culminou, em julho deste ano,com a substituição do presidente. Quase cinco anos depois de estrear na bolsa como uma das grandes promessas do segmento popular, a incorporadora de São José do Rio Preto frustrou seus acionistas.
As mudanças recém-anunciadas são fruto de uma reestruturação profunda na companhia.
Elas só foram adiante graças a uma figura que está influenciando cada vez mais a gestão das empresas brasileiras de capital aberto: o investidor ativista.
Dona de 11,3% do capital total da Rodobens, a Fama Investimentos foi uma das sócias que colocou o dedo na ferida e ajudou o controlador, Waldemar Verdi, a definir um novo caminho para a companhia. Ao mesmo tempo, a Fama tenta mudar o rumo das coisas na Portobello, de revestimentos cerâmicos, e na Log-In, empresa de logística da Vale. Anos atrás, travou discussões na Trafo, quando a companhia foi comprada pela Weg, e na rede ensino SEB. Em ambas, foi bem sucedida. Outros conflitos mostraram-se indissolúveis, como a cobrança por mais transparência na General Shopping, uma das maiores empresas desse mercado. Como o potencial de retorno não compensava o "estresse", os gestores acabaram desistindo do jogo evendendo as ações da companhia.
"A gente tenta não brigar e investe com cabeça de longo prazo.
Nosso perfil é mais colaboracionista", diz Rodrigo Sancovsky, sócio da Fama, que hoje ocupa nove posições em conselhos de administração. "A Rodobens tinha potencial quando fez IPO, mas, por falta de gestão, não entregou resultados." A reestruturação ainda não surtiu efeito no preço do papel, que continua caindo na bolsa, mas revela o aumento da importância dos minoritários.
O conselho de administração das empresas brasileiras, que no passado recentes e reunia mais para cumprir um protocolo, está se tornando um ambiente mais democrático de discussão.
Embora exista desde a década de 90, a figura do ativista só ganhou mais voz no Brasil a partir de 2004,quando a Bovesp acriou o Novo Mercado, com regras mais rígidas de governança corporativa e mais garantias para os sócios menores. Desde então, 125 das 375 empresas que negociam ações entraram para esse segmento da bolsa.
"Antes disso, de forma geral, a conversa com um empresário era bem mais difícil. Havia uma certa desconfiança. Na cabeça dele, os investidores estavam ali para dar pitacos,morder um pouco da companhia e sair assim que possível", diz Pedro Rudge, sócio da gestora de recursos Leblon Equities, donadeparticipação em empresas como Saraiva, BRF, Springs eMills. "Era como pregar no deserto.Só com exemplos do Novo Mercado, e avalorização dos papéis dessas empresas na bolsa, ficou claro para as antigas empresas que os investidores estavam dispostos a pagar um prêmio por transparência e tratamento mais justo a acionistas", acrescenta Rudge.
Um exemplo dessa mudança de postura foi quando o inglês Pearson comprou uma parte da SEB.Nofim da conferência para analistas, o controlador Chaim Zaher agradeceu ao Fábio Alperowitch, da Fama, que "é briguento, mas virou parceiro".
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