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AGÊNCIA CBIC

13/06/2011

Vila Verde

 

"Cbic"
13/06/2011 :: Edição 117

Revista IstoÉ/BR -12/06/2011

VILA VERDE

 

Arquitetos e urbanistas indicam o que é preciso para que o alojamento dos atletas vire um exemplo permanente de construção sustentável

 POR ANA BEATRIZ CHACUR

 SOB O PONTO DE VISTA ambiental, a realização de uma Olimpíada é, no mínimo, uma temeridade. E pouco importa o nível de desenvolvimento do país-sede. Para ficar no exemplo mais recente, os Jogos de Inverno de Vancouver, em fevereiro de 2010 no Canadá, geraram 230 mil toneladas de carbono, o equivalente ao que mais de 100 mil carros produzem de poluentes durante um ano inteiro. Para que o Rio de Janeiro não carregue peso semelhante em 2016, a hora de desenvolver e colocar em prática um plano de sustentabilidade é agora. A Vila Olímpica é o melhor lugar para montar uma estrutura que mostre para as futuras gerações que a aposta na preservação do planeta é séria e os Jogos de 2016 estão definitivamente comprometidos com a questão ambiental. Hoje, tudo o que existe da vila é um terreno vazio de 75 hectares na zona oeste da cidade, ao lado do Rio Centro. Segundo o projeto olímpico do Rio,’58 desses hectares serão ocupados pelas residências dos atletas, que, posteriormente, serão convertidas em apartamentos. O espaço restante comportará um centro de treinamento, um parque e até uma praia. No capitulo equipamentos e serviços, a vila irá abrigar piscina, cinema, spa, academia e business center. Quando tudo estiver pronto, o complexo terá 1,8 milhão de metros quadrados construídos ao custo de milhares de toneladas de carbono jogados na atmosfera. Isso, claro, se os cuidados não forem tomados. O desafio de erguer um sonho verde em vez de um pesadelo cinza foi entregue à Construtora Carvalho Hosken, escolhida no final de 2010. Proprietária do terreno, a empresa já definiu que a vila terá 48 edifícios de 12 andares. No interior deles, haverá 2.800 apartamentos de três ou quatro dormitórios, todos de alto padrão. Durante os Jogos, até 17.700 atletas poderão se hospedar ali. Apesar dessas definições iniciais, os arquitetos que tocarão o projeto ainda estão sendo selecionados. Só depois da escolha desses profissionais será possível conhecer os detalhes que ajudarão a tornar a construção sustentável. "Uma coisa já é certa: haverá reúso de água para regar os jardins e válvula de controle para as descargas", afirma Henrique Caban, da Construtora Hosken. É pouco, muito pouco. Quase nada. Como os responsáveis pela obra ainda não têm todas as respostas, fomos atrás de quem formula soluções sustentáveis. "Com uma vila dessa dimensão, é possível criar redes muito organizadas", diz a arquiteta e urbanista Cristiana Azevedo, do Instituto Estadual do Ambiente no Rio. De que se trata o conceito de redes? Significa criar uma série de procedimentos ambientais, como a separação de resíduos sólidos, o reúso de água em ambientes externos e descargas, a produção de biogás por meio de sistemas de biodigestores anaeróbicos, a construção de modelos de ventilação e iluminação naturais, o paisagismo com espécies nativas e o uso de painéis solares para aquecimento de água. Nem todas as condições para construir com correção ecológica estão nas mãos de arquitetos ou engenheiros. "O conceito de sustentabilidade aplicado às obras é muito amplo", diz o engenheiro Marcio Kairalla, da Megaeng Engenharia de Instalações. "Variáveis como o clima e os costumes de cada país devem ser analisadas para que o projeto se torne funcional e eficiente, Professora de construção sustentável da Universidade de Nottingham, na Inglaterra, a arquiteta e urbanista Lucélia Taranto Rodrigues concorda e diz que os princípios de sustentabilidade na construção são inicialmente os mesmos para todos os tipos de prédio. "Por exemplo, primeiramente, deve-se considerar o clima da região e o impacto dele no conforto humano", afirma. "A partir daí pode-se começar a entender que tipo de estratégias serão necessárias.

 Depois de analisadas essas condições fora do controle humano, pequenas mudanças na construção podem trazer grandes resultados, sem elevar demais os custos. As instalações hidráulicas e elétricas de uma obra respondem por cerca de 10% do preço final da construção. Um sistema de captação, tratamento, armazenamento e rede de distribuição de água não aumentaria o custo da obra em mais que 1%. Na opinião de Kairalla, soluções assim vão dar o necessário toque verde à vila. Além disso, ele sugere um projeto com máximo aproveitamento da luz natural, o que é possível com a instalação de janelas amplas e bem posicionadas.

 É importante também o uso de materiais certificados, como madeira de origem comprovada. Lixeiras separadas, coloridas para reciclagem, também não podem faltar. Isso mostra que soluções simples contribuem de maneira significativa para a sustentabilidade da construção. Kairalla ainda enfatiza que a execução da obra também deve ser diferente do padrão brasileiro, marcado pelo desperdicio de material e pela geração excessiva de entulho. "Ainda estamos engatinhando quando a questão é sustentabilidade na construção", diz Kairalla. Países com forte preocupação ambiental também sofrem para atingir as metas verdes que impõem para si próprios. Éo caso da Inglaterra, que vai sediar os Jogos de Londres em 2012. O plano olímpico original previa a revitalização de Stratford, bairro todo cortado por rios, que exibe várias docas abandonadas e abriga uma gigantesca comunidade muçulmana. A menos de um ano dos Jogos Britânicos, a região dá sinais de que os benefícios não vão se estender além do Parque Olímpico, que, por conta de sua modernidade e exuberância, amplia o contraste com os prédios decadentes e mal conservados da parte do bairro que fica atrás das instalações dos jogos. "A essa altura, deveria estar tudo restaurado por lá", diz Dan Epstein, diretor de sustentabilidade e regeneração urbana dos Jogos de Londres. "Mas a crise financeira veio e levou embora todos os investidores na restauração do bairro.

 Não há dúvida de que, além de muito dinheiro, adaptabilidade e flexibilidade são princípios essenciais para fazer uma vila verde. Não existem fórmulas milagrosas para soluções sustentáveis, mas.é fundamental que as edificações sejam vistas como o elo entre o usuário e o meio ambiente. O legado também deve estar no centro das preocupações das autoridades. Nesse aspecto, o Rio está no caminho certo Reproduzindo uma prática comum em Vilas Olímpicas e Paraolímpicas de jogos anteriores, os apartamentos cariocas serão colocados à venda após o evento. E daí, mais do que unidades imobiliárias, essas construções podem entrar para ahistória coiî1o exemplo de que é possível construir sem destruir.


 

 
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