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AGÊNCIA CBIC

21/11/2011

Brasil precisa investir 3% do PIB em infraestrutura para compensar atraso

"Cbic"
21/11/2011 :: Edição 220

Jornal Diário do Comércio – MG/MG 19/11/2011

 

Brasil precisa investir 3% do PIB em infraestrutura para compensar atraso

Salum: "O Brasil é a bola da vez e vai crescer"

Embora ainda aquecido, o setor da construção pesada passa por um momento incerto no Brasil, em função do corte nos investimentos públicos em infraestrutura e da redução dos aportes privados em função da crise econômica. No entanto, para o engenheiro e presidente do Sindicato da Indústria da Construção Pesada no Estado de Minas Gerais (Sicepot-MG) e vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Alberto José Salum, embora pairem muitas dúvidas quanto ao nível de crescimento do país no ano que vem, 2012 não deverá ser, no geral, um ano ruim. "O Brasil é a bola da vez e vai crescer independente dos problemas. É preciso investir, não tem outro jeito", afirmou.

Há 26 anos atuando à frente da construtora Vilasa, empresa que fundou aos 22 anos junto com dois primos, ele prega cautela ao empresariado mineiro. "É melhor deixar de crescer ou diminuir um pouco o ritmo do que arriscar demais nesse momento", avalia. Nesta entrevista ao DIÁRIO DO COMÉRCIO, o mineiro de Belo Horizonte aponta perspectivas para o setor, critica o inchaço da máquina pública e defende a contratação de mão de obra feminina na construção pesada como forma de contornar a falta de pessoal qualificado. "Eu já contratei mulheres e deu muito certo", argumenta.

O cenário atual é incerto, com a crise se agravando na Europa com reflexos já percebidos no Brasil. O setor da construção pesada já foi afetado?

 Sim, de várias maneiras. Primeiro a gente enxerga que essa crise afeta os governos nas três esferas, municipal, estadual e federal. Com isso, há um desaquecimento em todos os setores, inclusive o nosso. O dinheiro fica mais escasso e, com os recursos sumindo, temos menos investimentos, o que não quer dizer que não haja necessidade. É fundamental que esse dinheiro não suma, porque são os investimentos que aquecem a economia e ajudam a sair da crise.

Como ficam as perspectivas do setor para o próximo ano? A crise vai ser mais aguda ou apenas uma "marolinha"?

 O Lula falou da "marolinha" que, na minha opinião, foi bom ele ter usado essa expressão, já que era preciso dar um recado para o país de que nós estávamos preparados para enfrentar o problema. Foi tão replicada essa expressão dele que realmente o Brasil sentiu menos a crise do que outros países. Agora, em relação ao setor especificamente, toda crise nos afeta. Em relação aos investimentos privados, também sentimos reflexos da redução desses aportes. Estamos perdendo investimentos públicos e privados e já percebemos um desaquecimento geral do setor. Acredito que 2012 não será um ano pior que 2011, e este ano tem sido constante se comparado a 2010. Nós tínhamos uma expectativa de crescimento maior no início do ano que não se consolidou, mas não chegamos a registrar perdas. Além disso, na minha opinião, acredito que os governos, mesmo contingenciando investimentos, vão ter que manter nem que seja um nível básico de aportes, nem que seja para a manutenção dos investimentos já realizados, como nas estradas.

Muitos economistas falam que o Brasil não investe em infraestrutura, mas sim corre atrás do prejuízo pela demanda reprimida existente. O senhor concorda?

 Não só concordo como faço até um adendo. Nós ficamos parte da década de 1970, os anos 80 inteiros e alguns anos da década de 1990 sem nenhum investimento, nem em manutenção. Essa perda foi tão grande que, além de não termos feito um crescimento do país adequado, perdemos também a mão de obra qualificada. Perdemos grandes engenheiros, pedreiros e serventes. No nosso setor percebemos claramente que a profissão passa de pai para filho, já que o filho do pedreiro vai para o setor, do servente também vai e assim sucessivamente. E com isso, quando não há uma renovação, você acaba perdendo uma cultura típica do setor. Agora é que estamos retomando, deve ter uns dez anos que a indústria da construção vem se aquecendo. Mas estamos muito aquém dos investimentos que temos que fazer. Eu te falo hoje que, se dobrarmos o crescimento de um ano para o outro, triplicar, ainda é pouco em relação à demanda reprimida existente. Na crise de 1929 nos Estados Unidos, como não havia emprego, o governo começou a abrir buraco e fechar buraco. Era uma forma de empregar as pessoas e aquecer a economia. Nosso setor tem esse viés, tem relação direta com o crescimento do país.

O setor da construção pesada depende dos investimentos públicos, já que cerca de 60% dos contratos das empresas do Sicepot são firmados com os governos. Diante do contingenciamento que vem ocorrendo nos investimentos e paralisação das obras do PAC, qual a alternativa de vocês?

 Isso é uma média histórica. Não existe uma regra que diz que 60% dos contratos serão com o setor público, mas trata-se de uma média. Mas quanto à redução dos investimentos públicos, acho que é um momento de muita cautela para o setor. É hora de as empresas reverem seu corpo técnico, dimensionar adequadamente. Às vezes, deixar de crescer ou diminuir um pouco o ritmo é mais importante do que arriscar nesse momento. Nós estamos finalizando a revista bimestral do sindicato e vou escrever sobre isso. Há empresas que vão crescer independente dos problemas, pelo fato de terem fechado contratos muito bons. Mas são 330 empresas do Sicepot e a média não é essa. Pode ser que 30 empresas cresçam e as demais 300 não, e isso está mais próximo da realidade atual.

Muito se fala na falta de mão de obra qualificada no setor da construção civil. O problema é o mesmo na pesada?

 A mão de obra que vai para a construção pesada é a mesma da civil. A diferença é que nós trabalhamos com uma boa gama de interior. O principal problema está nas capitais. Se você vai construir uma estrada numa cidade pequena, esse município não está com o boom da construção ativo, o que é mais fácil. Mas mesmo assim enfrentamos esse problema de falta de profissionais. O que nós fazemos para contornar isso é, além de qualificar os empregados através de cursos dentro do sindicato e também pelo Senai, uma campanha publicitária para atrair pessoal de outros setores para atuar na construção. Porque sabemos que muitas famílias se formaram dentro da construção civil. Quer dizer, temos encarregados que são avós e podem trazer filhos e netos para o setor. Nós também queremos atrair a mão de obra feminina. Eu mesmo já trabalhei na região do Triângulo que, por causa da cana-de-açúcar, tinha muita mão de obra feminina e deu certo.

E quanto aos engenheiros? Hoje o déficit de profissionais dessa área é gritante. O que fazer?

 Isso não se muda fácil. Não vamos conseguir em três anos suprir um déficit de 30 anos de desaquecimento. O problema maior é que, mesmo com o mercado aquecido para a profissão, muitos engenheiros migram e não se mantêm no setor. Se conseguirmos que todos os profissionais que formam em universidades brasileiras todos os anos fiquem no setor, já é uma vitória. Por exemplo, na minha turma, cerca de 20% apenas continuam atuando no segmento. Mas estamos falando dos anos 80, quando a construção civil passava por um período de total ostracismo. No entanto, os que abandonaram a profissão não vão voltar. A preocupação maior é evitar que os que se formem hoje saiam do setor. Mas hoje a situação é diferente, os engenheiros já formam empregados e com um salário razoável.

É cada dia mais comum na construção pesada a formação de consórcios. Na visão do senhor, trata-se de uma prática positiva?

 Os consórcios são importantes hoje por dois motivos: o primeiro é você consorciar expertises novas, agregando valor ao negócio. Por exemplo, uma empresa é especialista em ponte e a outra, em estrada, as duas se unem para participar do processo de licitação. Quando você tem especialistas de áreas diferentes para se consorciar é um dos motivos. O segundo motivo é o nível de rentabilidade baixo dos contratos no mercado e, quando você consorcia, acaba tentando minimizar os riscos do negócio. São empresas do mesmo porte que se unem para trabalhar juntas para tentar melhorar os custos e evitar perdas. O lucro é dividido, mas o mais importante é dividir os riscos. Esse é o caminho. Além disso, o setor sempre tem problemas como o que aconteceu com o governo federal em relação ao Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes).

As denúncias de corrupção envolvendo empreiteiras e o Dnit prejudicaram muito o setor?

 Eu gosto de fazer uma comparação. No caso da recente prisão do traficante Nem, no Rio de Janeiro, ele estava acompanhado de três advogados que tentaram ajudar na fuga dele, inclusive ofereceram propina aos policiais. Nesse caso, as pessoas culparam apenas os três, a classe dos advogados não foi colocada na berlinda. Mas se fosse uma empresa de construção, que recebe o nome pejorativo de empreiteira, a coisa seria diferente. Quando se fala em empreiteira, toda a categoria é imputada. A gente não pode esquecer que existe problema, existe corrupção em todos os setores, e nós temos que combater isso sempre. Mas não quer dizer que se uma empresa errou todas erraram também. Tem muita empresa boa no mercado, ciosa de seus compromissos, que está com a papelada em dia e paga todos os seus impostos. Não podemos colocar todo mundo no mesmo saco. O sindicato não defende as empresas corruptas, se os acusados são culpados, que sejam punidos. Mas o reflexo da paralisação de parte das obras do Dnit é complicado. Sem novas licitações, o setor vai ser muito impactado a partir do ano que vem.

Mas se essa paralisação de investimentos continuar, não há riscos de um apagão de infraestrutura travar o crescimento do país?

 Com certeza. Eu só não sei se o governo federal tem dimensão do que pode acontecer. O problema vai acontecer de uma hora para outra, mas não vai ser agora, vai ser lá na frente. E aí não há saída. Em Minas Gerais, entre a fase de publicação do edital e o início da obra, gasta-se cerca de 60 dias em média. No governo federal é mais demorado, gasta-se cerca de cinco a seis meses. Se a presidente Dilma quiser reaquecer os investimentos e retomar as obras no ano que vem, ela vai gastar um bom período para dar andamento.

Hoje se fala muito em desenvolvimento sustentável. Como fazer na construção pesada?

 A gente tenta mostrar para as empresas filiadas o caminho de se fazer isso. Nós do sindicato estamos construindo a nossa sede, que vai ser feita com essa preocupação da sustentabilidade. Na construção pesada, a gente orienta para que as empresas estejam sempre com as licenças de meio ambiente em dia, preocupadas em fazer os canteiros de obras mais adequados. A questão é que trabalhamos muito com processos que já vêm delimitados nos projetos. E essa parte de sustentabilidade está mais nos projetos que na execução. Temos trabalhado dentro das normas que regem a construção pesada. Além disso, o Sicepot conta com uma assessoria ambiental. Contratamos um escritório de direito ambiental para orientar as empresas quanto à legislação de meio ambiente e também temos uma assessoria técnica, que é uma pessoa que visita os canteiros de obras e as empresas para orientar os trabalhos.

Minas Gerais é um Estado altamente dependente de commodities e a questão da agregação de valor à nossa indústria vem sendo muito alardeada. Como o senhor vê isso? O fantasma da desindustrialização assusta?

 A preocupação com a necessidade de agregar valor à nossa indústria é muito grande. Sou vice-presidente da Fiemg e isso vem sendo discutido lá de forma recorrente. O que acontece é que temos cobranças, leis, normas e impostos que geram muito custo ao empresariado brasileiro. Veja bem, eu não sou contra isso, mas o país perde muita competitividade em relação a outros concorrentes que não têm tantos custos produtivos. Não dá para comparar os custos das obras do Brasil com os da China, por exemplo. Os gastos lá são infinitamente menores, a questão trabalhista nem se fala. Há também as exigências que alguns países fazem para comprar da gente, são regras que eles mesmos não cumprem. Desse jeito, não há como competir, mas a desindustrialização preocupa muito.

O Brasil é a oitava economia do mundo hoje e vem sendo apontado como a "bola da vez". Ainda é um país a construir? E como superar o custo Brasil?

 Sem dúvida somos um país a construir e vai crescer independente dos problemas. Não sei a que custo, mas vamos crescer. Temos problemas graves de infraestrutura, como a questão das estradas que estão em situação caótica, como a BR-381 que vai para Governador Valadares, onde morre gente todo o dia. Nós precisamos de investimentos e temos que fazer as obras até para atender às indústrias que estão vindo para cá. Temos um mercado interno muito forte também, temos a classe média crescente de consumidores, com poder aquisitivo maior, que quer gastar. O que posso dizer é que poderíamos crescer mais e melhor. Tínhamos que tentar enxugar a máquina pública, reduzir gastos para investir. Não podemos perder o momento de ser a "bola da vez".

Uma reclamação comum do empresariado é o fato de o Brasil ser o único país do mundo que taxa investimento. A reforma tributária é fundamental?

 Esse é um assunto muito delicado, porque fala-se, fala-se, fala-se e ninguém faz essa reforma e nem vai fazer. Entre discussão, votação e aprovação no Congresso há um abismo. A minha preocupação maior é com o gasto público. Acho que é preciso fazer isso para sobrar mais dinheiro para os investimentos.

Quanto seria preciso investir para que a infraestrutura atinja um patamar mínimo satisfatório no Brasil?

 Na década de 1970, o governo federal investiu 1,7% do PIB em infraestrutura de transportes. Na década de 1990, esse nível caiu para 0,14% do PIB, ou seja, nada. Em 2008, chegamos a 1,34% e agora esse percentual deve ter caído. Na minha opinião, a gente tinha que chegar a pelo menos 3% para estarmos em um nível satisfatório e compensar as perdas das décadas anteriores, o que é muito difícil, dá para ver pelo percentual baixo dos últimos 40 anos.



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