
AGÊNCIA CBIC
12/12/2011
Brasil: o copo está meio cheio
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12/12/2011 :: Edição 234 |
Revista IstoÉ Dinheiro/BR 11/12/2011
Brasil: o copo está meio cheio Apesar da crise internacional e da desaceleração da economia no terceiro trimestre, o País fechará o ano com a melhor taxa de investimentos desde o Plano Real: 20% do Pib.
Caro leitor: na sua visão, a foto ao lado mostra um copo meio cheio de dinheiro ou meio vazio? É difícil cravar uma resposta absoluta… Pois bem. A imagem em questão ilustra um pouco da percepção, atualmente, sobre a economia brasileira. Por um lado, o País alcança indicadores surpreendentes diante da crise mundial. Desemprego de 5,8%, inflação sob controle na casa dos 6%, investimento estrangeiro acelerado, chegando a US$ 60 bilhões até o final do ano. De outra perspectiva, entretanto, há informações que turvam a visão para o futuro: o PIB do terceiro trimestre teve crescimento nulo, a recessão global começa a afetar o crédito aqui dentro, e algumas empresas anunciam que pretendem esperar para expandir seus negócios.
Diante desses dois cenários, qual seria a posição ideal que os tomadores de decisão deveriam assumir? A DINHEIRO ouviu a opinião de dez importantes empresários e nove conceituados economistas para ajudar a encontrar essa resposta e concluiu que, sem sombra de dúvidas, o copo está meio cheio. Uma das provas elementares dessa realidade é o fato de que a taxa de investimento vai superar a marca dos 20% do PIB neste ano, pela primeira vez desde o início do plano Real, em julho de 1994 – de lá para cá, o nível dos investimentos patina entre 15% e 19%. E, para o ano que vem, as perspectivas são ainda mais positivas, deve chegar aos 21,8% do PIB, de acordo com as previsões do economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale. "Teremos a recuperação dos investimentos públicos e a aceleração dos projetos da Copa do Mundo", diz Vale.
Sim, a despeito de todas as críticas sobre a lentidão na execução das obras, incluindo a Olimpíada de 2016, há uma clara percepção entre os analistas de que a contagem regressiva para a Copa garantirá o aquecimento automático de uma parte da economia, independentemente dos solavancos causados pela crise europeia. Aeroportos, estádios, hotéis e obras de mobilidade urbana sairão do papel a partir do ano que vem. "Deixamos tudo para última hora, protelamos, mas não tem mais jeito", diz o economista político Alexandre Marinis, sócio da consultoria Mosaico, de São Paulo. "Há obras que serão realizadas em 2012 porque precisam estar prontas em 2014."
Marinis observa que, além da Copa, outras variáveis conspiram a favor do Brasil e do crescimento virtuoso: juros em queda, isenção ou redução de IPI para a linha branca, eleições municipais em 2012 e ampliação dos investimentos públicos Estaduais , que poderão aumentar em até R$ 37 bilhões seu endividamento, para acelerar obras de infraestrutura. Além disso, a partir de janeiro a economia receberá uma injeção de dinheiro no mercado de consumo com o maior reajuste do salário mínimo dos últimos cinco anos."O Brasil está numa posição, talvez única no mundo, para sustentar um crescimento robusto", diz o economista.
O status privilegiado, vale lembrar, independe do "pibinho" registrado no terceiro trimestre deste ano. Na terça-feira 6, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE) anunciou que o crescimento da economia brasileira entre julho e setembro foi zero, na comparação com os três meses anteriores, o que despertou dúvidas sobre a real capacidade do País se proteger do contágio da crise global. "Não podemos tirar conclusões precipitadas", diz Antonio Carlos Borges, diretor-executivo da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio). "Por que ninguém celebra o aumento de 7% da taxa de investimento e o crescimento de 3,7% do PIB nos últimos 12 meses?"
No mesmo dia da divulgação do PIB, durante discurso feito ao receber o prêmio Brasileira do Ano, concedido pela revista ISTOÉ, publicação da Editora Três, que edita a DINHEIRO, a presidente Dilma Rousseff lembrou que o governo teve de "deliberadamente diminuir o ritmo de aceleração" da economia, de olho no controle da inflação, que apontava para o estouro da meta de 6,5% no ano. Assim, as medidas macroprudenciais do final de 2010, e as consecutivas altas de juros promovidas pelo Banco Central, no primeiro semestre deste ano, surtiram efeito no terceiro trimestre. Obras residenciais em SP: a Câmara Brasileira da Indústria da Construção projeta crescimento de 5% do setor em 2012. Mesmo assim, o investimento não parou de crescer no período. "Isso indica confiança nas perspectivas para a economia brasileira nos próximos anos" , diz o presidente do BC, Alexandre Tombini . Esses dados levaram a presidente Dilma a reforçar uma mensagem de otimismo aos empresários presentes na festa, que também contemplou os Empreendedores de 2011, escolhidos pela DINHEIRO. "Não tenham dúvidas, nós começamos em 2011 um era de prosperidade para este País e para os brasileiros", disse a presidente (leia mais aqui).
Um dos setores que mais apostam nesse surto de prosperidade é a indústria automotiva. Responsável por 23% do PIB industrial e quase 5% do PIB total, as montadoras instaladas no País anunciam investimentos de US$ 22 bilhões até 2015. Ninguém quer ficar mal posicionado quando as vendas atingirem seis milhões de veículos por ano em 2020, o que fará do Brasil o terceiro maior mercado do mundo, segundo previsões da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Neste ano, o setor chegará à marca inédita de 3,6 milhões de unidades vendidas, uma alta de 3,3% em relação a 2010. O presidente da Anfavea, Cledorvino Belini, prevê uma expansão de até 5% das vendas no ano que vem. "Com a experiência bem-sucedida de 2008, o governo está estimulando a economia, sem abandonar o controle de inflação nem a responsabilidade fiscal", afirma Belini, que também preside a Fiat na América Latina. "O Brasil está conseguindo se antecipar à crise e fazer uma boa gestão visando o crescimento."
Alguns setores, como o de construção civil, entretanto, preferem manter uma postura cautelosa, antes de tirar o projeto da gaveta. "As empresas estão segurando a expansão de fábricas, mas devem retomar quando perceberem que a crise é temporária", diz o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Safady Simão, que espera um crescimento de 5% para o setor no próximo ano, com redução dos investimentos privados e manutenção dos investimentos públicos e de habitação.
Mas a decisão de investir tornou-se estratégica no Brasil de hoje, avalia Rogério César de Souza, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). "Investir deixou de ser uma alternativa para se ganhar mercado e passou a ser uma questão de sobrevivência", diz Souza. Principalmente com a entrada de importados, que pressionam cada vez mais o mercado brasileiro. "As companhias precisarão reagir e buscar mais produtividade, o que só virá com mais investimentos."
O presidente do banco de investimentos Itaú BBA, Jean-Marc Etlin, concorda. "Quem está pensando cinco, dez anos à frente continua aumentando os investimentos", afirma Etlin. O próprio Itaú BBA está investindo, principalmente na expansão de suas atividades na América Latina. Está criando um banco de atacado na Colômbia com patrimônio de US$ 200 milhões e 37 funcionários, principalmente para atender grandes empresas latino-americanas. No Peru, o Itaú BBA mantém um escritório de representação que deve ser transformado em banco em breve." Estamos avaliando também a entrada no mercado mexicano", diz Etlin.
Ironicamente, foram os importados mais baratos que ajudaram a elevar a taxa de investimentos neste ano. "Os empresários brasileiros aproveitaram o câmbio favorável para comprar equipamentos no Exterior", diz a gerente de pesquisas do IBGE Rebeca Palis. O foco, neste caso, foi ampliar, rapidamente, a capacidade de oferta para atender ao crescimento da nova classe média – 50 milhões de brasileiros que ganharam poder de renda nos últimos anos. "O que gera investimento é a perspectiva de crescimento da demanda, ou seja, ao incentivar o consumo, o investimento virá na sequência", diz Antonio Corrêa de Lacerda, professor do departamento de economia da PUC de São Paulo.
Enquanto isso, as medidas anunciadas neste mês, como a redução do IPI para a linha branca, devem mostrar seus resultados já nas vendas do Natal. Uma boa notícia diante do risco de fechar o ano com estoques cheios, como se temia num primeiro momento. Uma pesquisa da empresa de informações financeiras Serasa Experian mostra que 86% dos varejistas brasileiros esperam um faturamento igual ou maior neste período de festas, em comparação com o de 2010 – a Fecomercio, por seu turno, prevê um crescimento real de 4% das vendas neste final do ano. No entanto, caso seja necessário um empurrão adicional do governo para manter aquecido o consumo doméstico, é mais do que provável que ele virá. O próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega, avisou, na semana passada, que tem mais bala na agulha. "Diferentemente da maior parte do mundo, o governo brasileiro dispõe de instrumentos para estimular ainda mais nossa economia", disse Mantega. "Não devemos tirar conclusões precipitadas sobre o resultado do PIB no terceiro trimestre" Antonio Borges, diretor da Fecomercio Antes mesmo do anúncio do pacote, porém, o otimismo já voltava ao mercado. "Em novembro já vimos um cenário mais animado", diz Alberto Fernandes, vice-presidente do Itaú BBA, que gerencia linhas de crédito para grandes companhias no País. Com R$ 300 milhões para investir, até 2014, Marco Stefanini, presidente da Stefanini IT Solutions, de São Paulo, é um dos empresários que apostam suas fichas num 2012 ainda melhor, como o anunciado pela presidenta Dilma. "Para ser empresário no Brasil é preciso olhar sempre o copo meio cheio", diz Stefanini, que espera fechar o ano com um faturamento de R$ 1,24 bilhão, um aumento de 21% sobre 2010. Segundo ele, o ritmo deverá continuar acelerado no ano que vem. "Devemos crescer 35% em 2012", afirma Stefanini.
Colaboraram Denize Bacoccina e Tatiana Bautzer
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"O Brasil está se antecipando à crise com uma boa gestão do crescimento" – Cledorvino Belini, presidente da Anfavea
"Investir passou a ser uma questão de sobrevivência para as empresas brasileiras" Rogério César de Souza, economista do IEDI
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