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AGÊNCIA CBIC

26/03/2012

Edward Glaeser: "Preservar casinhas é insustentável"

"Cbic"
26/03/2012 :: Edição 284

 

Revista Época/BR 25/03/2012
 

Edward Glaeser: "Preservar casinhas é insustentável"

Um entusiasta das metrópoles, o economista de Harvard defende arranha-céus cada vez mais altos. Eles são ecologicamente mais corretos e servem para baixar o preço dos imóveis

 O modelo de cidade para o economista americano Edward Glaeser é Hong Kong. Basicamente porque cresce para cima, não para os lados. Professor da Universidade Harvard, Glaeser, de 44 anos, é um entusiasta das metrópoles verticais. Em seu livro Triumph of the city   (O triunfo da cidade  , sem previsão de lançamento no Brasil), ele diz que os prédios gigantes diminuem as emissões de carbono porque concentram a população e reduzem os deslocamentos de casa para o trabalho, alargados quando as pessoas vivem longe do centro. Em visita ao Brasil para participar do Arq.Futuro  , um seminário sobre arquitetura e urbanismo que acontecerá nesta semana no Rio de Janeiro, Glaeser concedeu esta entrevista a ÉPOCA.
 
 ÉPOCA Por que as cidades são um triunfo da humanidade?
 Edward Glaeser  Ao longo da história, as cidades permitiram que as pessoas alcançassem verdadeiros milagres juntas. Permitiram que elas ficassem próximas, compartilhassem ideias, aprendessem a trabalhar conjuntamente. As metrópoles foram e são cruciais para gerar novas ideias, disseminar conhecimento e espalhar a prosperidade. Elas têm enormes desvantagens: o estresse, a poluição, a violência. Mas essas desvantagens não devem nos cegar para seu extraordinário papel na história. Se compararmos todos os países do mundo, veremos que aqueles com uma urbanização acima de 50% têm mais renda, melhor desenvolvimento humano e menor índice de mortalidade infantil que os países com urbanização inferior a 50%.
 ÉPOCA O senhor defende os arranha-céus e diz que quanto mais altos, melhor. Qual a lógica?
 Glaeser  Para progredir, uma cidade não pode ter restrições excessivas. Limitar alturas e construções tem um custo alto. Construir para cima é uma maneira eficaz de driblar a falta de espaço em nacos pequenos de terra. As pessoas ficam mais próximas umas das outras, mais conectadas umas às outras. Isso possibilita que as cidades fiquem mais acessíveis. E prédios mais altos e com mais capacidade são a melhor coisa para o meio ambiente.
 ÉPOCA Por quê?
 Glaeser  Uma casa de uma só família num subúrbio americano (áreas residenciais mais afastadas do centro, de classe média ou alta)   consome 88% mais energia que um apartamento. Uso Hong Kong, na China, como modelo: é uma cidade tão rica quanto as maiores dos Estados Unidos, mas tem emissões de carbono radicalmente baixas porque se expande para cima, não para os lados. Não adianta nada ter árvores plantadas no jardim se o impacto ambiental de sua locomoção ao trabalho é enorme. Outra coisa: a construção de mais arranha-céus reduz o preço dos imóveis, tanto comerciais quanto residenciais, porque aumenta a oferta de apartamentos e escritórios. Como a quantidade é maior, amplia-se a oferta de moradia.
 ÉPOCA Nas principais metrópoles do Brasil, vivemos um momento de aumento de oferta de imóveis com preços muito altos…
 Glaeser  Hoje, os preços dos imóveis estão em alta no mundo inteiro por causa da demanda. Enquanto a demanda for alta e o crédito também, os preços continuarão subindo. Não deve haver restrições a tamanhos de novos empreendimentos imobiliários. Preservar vilas e casinhas e incentivar os subúrbios não é exatamente a maneira ideal de evitar que o preço aumente. O excesso de restrições para a construção torna uma cidade insustentável, porque ela continua crescendo para os lados. Pior: torna as cidades excessivamente caras, porque todos querem morar nela, mas apenas os mais ricos conseguem pagar os preços exorbitantes dos imóveis em regiões centrais e privilegiadas. Vemos os custos de restrições excessivas não apenas em países desenvolvidos, mas em lugares como Mumbai, que tem as leis mais draconianas do mundo para a construção. As limitações excessivas levaram Mumbai a ter um dos metros quadrados de aluguel e compra mais caros do mundo. A cidade cresceu para os lados, facilitando o aumento de favelas no entorno. É claro que o Brasil está com preços de imóveis exorbitantes. O país cresceu, sua economia melhorou, a ascensão social fortaleceu a demanda. Mas pode ter certeza de que a situação será ainda pior em relação aos preços se os governos limitarem as construções.
 ÉPOCA Isso não favorece a especulação imobiliária?
 Glaeser  Sempre há especulação imobiliária em cidades que estão crescendo. Isso é inevitável, seja em Buffalo (Estados Unidos)  , São Paulo ou Mumbai (Índia)  . As cidades são, por excelência, o lar das desigualdades. Haverá sempre a cidade dos ricos e a cidade dos pobres, não importa o que se faça. Não acho que uma construção possa fazer uma cidade mais justa ou injusta. Uma construção tem, sim, o poder de moderar os extremos de preços. Por isso, é importante fugir das regulações. Se você comparar as cidades americanas que têm um regime de construção mais liberal, como Chicago, Dallas ou Houston, verá que as diferenças de preço dos imóveis não são tão brutais como as de cidades mais restritivas, como San Francisco e Nova York.
 Sou cético em relação à herança de eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas. O povo não pode se iludir com as promessas de investimentos mágicos "  
 ÉPOCA A construção de novos prédios implica destruir outros. Como preservar a história de uma cidade? O que dizer de lugares como Roma ou Paris, que conservam seus patrimônios e não têm muitos arranha-céus?
 Glaeser   Roma e Paris são espetaculares, centros culturais e financeiros vibrantes. Não há nada de errado com elas. Preservar a história é fundamental. Os legados culturais da humanidade não podem ser destruídos. Mas temos de ser cuidadosos. Toda vez que dizemos não para uma nova construção que exige uma demolição recusamos uma família que ajudaria no progresso de nossa cidade. Congelar grandes parcelas da área urbana por decreto é matar a cidade. É preciso equilibrar a preservação do passado com as necessidades do futuro.
 ÉPOCA O senhor descreve as favelas do Rio de Janeiro como um sinal de vitalidade urbana. Já esteve numa favela?
 Glaeser (Risos.)   Conheço as favelas, já visitei o Brasil muitas vezes. Sempre digo que as cidades não fazem as pessoas ficar pobres. Elas atraem os mais pobres com a promessa de oportunidade econômica, de serviços sociais melhores. As favelas certamente não são os melhores exemplos de sucesso de uma cidade. Representam uma falha de planejamento do Poder Público. Mas não há futuro nenhum na pobreza rural. Por isso, essas pessoas vão morar nas favelas. No livro, apresento dados que comprovam as diferenças de renda e de gastos de famílias que vivem em favelas e áreas rurais. A receita dessas famílias, mesmo nas favelas, compensa a precariedade de sua moradia.
 ÉPOCA Que outras cidades brasileiras o senhor conhece?
 Glaeser  Conheço bem suas principais capitais, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro. As duas cidades são espetaculares e muito diferentes. Sou fã de ambas. O potencial brasileiro para o futuro está em suas grandes cidades, que concentram pessoas altamente criativas, empreendedoras e capazes. Todas têm enormes desafios sociais. A segurança é um problema sério, além do transporte e da poluição. É necessário que haja políticas públicas e planejamento de longo prazo para solucionar isso tudo.
 ÉPOCA A Copa do Mundo e a Olimpíada no Brasil são boas oportunidades para o governo investir nessas áreas?
 Glaeser Como economista, sou muito cético em relação à herança deixada por eventos gigantescos como esses. Fico preocupado com os exageros dos governantes em querer mostrar um país diferente do que realmente é. Os benefícios são inúmeros, é verdade: a exposição internacional, o crescimento do turismo. Mas é preciso ser realista. O povo não pode se iludir com as promessas de investimentos mágicos que, segundo os políticos, mudarão tudo. É preciso investir naquilo de que a população precisa.
 ÉPOCA No Brasil, os mais pobres geralmente são empurrados para as bordas das cidades, formando um cinturão na periferia. Alguns ricos procuram casas de alto padrão em bairros também afastados do centro. E o trânsito caótico dificulta a locomoção casa-trabalho para ambos. Qual seria a solução?
 Glaeser  Congestionamento é um problema complexo. Requer uma difícil solução que combine investimento em transporte público, principalmente Veículo Leve sobre Trilhos (VLT)  , e restrição severa em espaços urbanos excessivamente concentrados. Um dado estatístico comprova que, para cada quilômetro de via construída, o número de veículos que a ocupa aumenta de forma correspondente. O rodízio é eficaz, mas não basta. O pedágio urbano é uma boa alternativa. Cingapura e Londres fazem isso, e funciona. Mas é preciso haver um sistema de transporte público eficaz.
 ÉPOCA Com tecnologias de informação e comunicação cada vez mais acessíveis e baratas, o papel das cidades não tende a diminuir? As pessoas não poderiam morar em lugares mais tranquilos?
 Glaeser  Isso poderia ser verdade há uns 30 anos. Nos anos 1980, muitos especialistas previam que as pessoas se retirariam das cidades para ir morar nos subúrbios, e as cidades seriam apenas depositórios de escritórios. A tecnologia permitiu às pessoas estar conectadas on-line, mas elas querem também se encontrar fisicamente. O Vale do Silício é um exemplo disso. Aquela região da Califórnia cresceu drasticamente não apenas porque empresas de tecnologia se concentraram lá, mas porque os jovens que trabalhavam nessas empresas quiseram estar juntos também, nas mesmas cidades. A razão pela qual o avanço da internet e a globalização fizeram e continuam fazendo as cidades crescer é que somos, acima de tudo, uma espécie social. Queremos estar juntos e ficamos mais inteligentes quando estamos ao lado de outras pessoas.

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