Logo da CBIC

AGÊNCIA CBIC

05/12/2011

Do canteiro de obras para a faculdade

"Cbic"
05/12/2011 :: Edição 229

 

Jornal Correio Braziliense/BR 05/12/2011
 

Do canteiro de obras para a faculdade

Mestre de obras que ficou 30 anos sem estudar entra no curso de engenharia, área em que estão faltando profissionais formados

O mestre de obras Francisco Antônio de Menezes, 47 anos, gosta do que faz – mas o caminho para chegar a essa satisfação foi longo e árduo. Ele começou a trabalhar aos 15 anos, ajudando o pai em construções. Abandonou a escola dois anos mais tarde, em 1981, no 2º ano do ensino médio, e trabalhou como garçom, mordomo e auxiliar de estoque em supermercado até descobrir a sua vocação na construção civil. "O sonho da minha vida é ser um profissional formado", conta Francisco. E, se depender dele, é algo que se tornará realidade. Após 30 anos longe da escola, ele concluiu o ensino médio e agora cursa engenharia civil em uma faculdade particular do DF.
 Há dois anos, ao matricular a filha no Centro de Ensino 02 do Gama, aproveitou para também voltar à sala de aula, em um programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Ele teve de refazer o ensino médio, concluindo o 1º e 2º anos em 2009, e o 3º em 2010. Hoje, ele está no segundo semestre de engenharia civil no Centro Universitário do Distrito Federal (UDF). "A dificuldade é imensa, pelo tempo que passei sem frequentar uma sala de aula", alega Francisco. Um dos principais problemas é conciliar o trabalho com o estudo. Ele trabalha como autônomo há 20 anos, e sai às 6h de casa, no Gama, e pega ônibus para acompanhar todas as obras sob sua responsabilidade.
 No entanto, ele compensa a falta de estudo com muita experiência. "Na faculdade, os professores falam que terei problemas até o 5º ou 6º semestre. Eles me apoiam e falam para meus colegas: "quem acompanhar o Chico agora vai ter grande ajuda depois", conta Francisco.
 Devido a sua rotina e história, "Chico", como é conhecido por colegas e clientes, acredita que deve se formar dois anos depois do tempo mínimo de seu curso, que tem duração de cinco anos. No entanto, ele não acha ruim nem se sente cansado. "Peço a Deus saúde todos os dias. Muitas vezes, minha esposa me diz que eu não paro nem nos fins de semana, mas não posso. É um sonho que tive toda a vida. Já tenho bastante experiência prática, e o que me falta agora é esse conhecimento teórico", diz o aluno.
 Deficit 
 Os 30 anos que separam o momento em que Francisco deixou de estudar até a volta dele à sala de aula foram um período em que a carreira de engenharia teve sua base profissional esfacelada no país. Por conta do modelo de desenvolvimento e do contexto econômico das décadas de 1980 e 1990, a carreira de engenheiros deixou de ser atrativa. Hoje, os engenheiros estão em segundo lugar entre os profissionais mais requisitados no país e o Brasil enfrenta dificuldades para contratar mão de obra especializada. Segundo o Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea), o deficit de engenheiros é de 20 mil formados. A falta se reflete tanto nas empresas, que estão repatriando profissionais e buscando estrangeiros especializados, quanto nas faculdades, que também buscam professores de fora do país.
 Dados do Censo da Educação Superior de 2010, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), 59.506 estudantes conseguiram diploma em alguma das áreas da engenharia em 2010. O número corresponde a 9,59% do total de alunos que ingressaram nessas graduações: 619.946. Ou seja, muitos começam, mas poucos conseguem terminar os cursos.
 Além do número baixo de formados em relação aos ingressantes na faculdade, nem todos que conseguem o diploma exercem a profissão. No ano passado, mais da metade não tirou registro profissional nos conselhos regionais de engenharia de cada estado. De acordo com estatísticas do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea), foram emitidos 28.986 CREAs naquele ano, o que corresponde a apenas 48,71% do total de alunos que concluíram um curso de engenharia, conforme os dados do Inep.
 Formação 
 Segundo o presidente do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea), Marcos Túlio de Melo, o deficit não está apenas nos números, mas também na qualidade dos profissionais. "Estamos acompanhando as análises do governo e da iniciativa privada para 2014, em três cenários com crescimentos diferentes da economia brasileira, e os resultados vão nos obrigar a aumentar o número de vagas, e também a qualidade do ensino, principalmente nas universidades públicas, que são mais bem avaliadas pelo MEC," aponta.
 Para ele, há três formas de resolver o deficit. "A primeira é aumentar o número de vagas nas universidades públicas. A segunda é buscar os profissionais que têm formação na área de engenharia, mas estão fora do mercado de trabalho. Fizemos uma parceria com o Mdic (Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior). Vamos fazer um censo profissionalem todo o país para identificá-los, e dar a eles um curso de atualização profissional, que deve durar cerca de um ano. A terceira é importar mão de obra, pois Estados Unidos e Europa passam por momentos de turbulência em suas economias" explica.
 A falta de engenheiros no Brasil é um problema antigo, mas que só foi percebido nestes últimos anos, em um momento em que o país precisa desses profissionais, segundo José Luiz Albertin, engenheiro e diretor de conhecimento da Sociedade dos Engenheiros da Mobilidade (SAE Brasil). "Durante os últimos 20 anos em que nosso potencial ficou adormecido, ninguém falou que faltava engenheiro. Essa falta veio num momento em que há uma diferença de mercado entre nós e o resto do mundo", aponta.
 De acordo com Albertin, a falta de engenheiros está atrelada à história da economia brasileira. "Se é necessário fazer grandes transformações em um país, em geral, se precisa de engenheiros, e aí nos complicamos, porque o Brasil passou por uns altos e baixos em termos de desenvolvimento econômico", diz o especialista, que aponta a época do "milagre econômico" do governo militar, na década de 1970, como o último grande momento da profissão no país no século passado: "Fizemos barragens, aeroportos, estradas, portos, eletrificação. Era relativamente fácil para um engenheiro recém-saído da faculdade conseguir um emprego". No entanto, o panorama mudou nas décadas seguintes.
 A estagnação econômica vivida pelo Brasil na década de 80, a abertura da economia na década de 90 para os mercados internacionais e a privatização de várias empresas estatais colocaram a engenharia brasileira frente a outro patamar de qualidade. "As empresas não estavam preparadas, e como havia um descompasso tecnológico e de poder de compra, a engenharia começou a vir do exterior", conta Albertin.
"Cbic"

 

COMPARTILHE!

Calendário

Data

Este Mês
Parceiros e Afiliações

Associados

 
Sinduscon-AM
Sinduscon-TAP
Sicepot-MG
Sinduscon-RIO
Sinduscon – Norte
Sinduscon-Joinville
Ademi – PE
Abrainc
Sinduscon-SF
Sinduscon – Vale do Piranga
Sinduscon-JP
AEERJ – Associação das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro
 

Clique Aqui e conheça nossos parceiros

Afiliações

 
CICA
CNI
FIIC
 

Parceiros

Visão geral da privacidade

Este site usa cookies para que possamos fornecer a melhor experiência de usuário possível. As informações de cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.