Brasil Econômico/BR
Desemprego está baixo, mas…
Economistas avaliam dados das principais pesquisas de emprego e alertam: o mercado de trabalho vai bem, obrigado, mas é preciso estar atento aos seus reflexos sobre a economia
Cassiano Viana
A divulgação ontem da Pesquisa Mensal de Emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) traz boas e más notícias para a economia brasileira, de acordo com o ângulo pelo qual são vistos, no detalhe, os dados do emprego e do desemprego nos diversos setores.
Nos últimos anos, a taxa de desemprego medida pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vem caindo sucessivamente. Há dez anos, em 2003, a taxa estava em 12,5%. Em abril desde ano, o desemprego chegou a 5,8% da população. Boa notícia.
"Apesar de o PIB não ter deslanchado, o mercado de trabalho passou por uma melhora e continua aquecido. O emprego segue forte, com redução da informalidade e aumento da carteira assinada", avalia o economista Fernando de Holanda Barbosa Filho, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
De acordo com a PME, por grupamento de atividade, na comparação com abril de 2012, houve elevação do nível de emprego em Educação, Saúde e Administração pública (6,3%). E queda em Serviços domésticos e Construção (-8,4% e -5,5%), com estabilidade nos demais grupos, incluindo Indústria.
A redução expressiva no contingente da construção registrada pelo IBGE está alinhada com a Sondagem Indústria da Construção, divulgada também na quinta-feira, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e que mostra que o nível da atividade no setor no Brasil caiu, em abril, pelo sexto mês seguido, atingindo 45,5 pontos (numa escala de 0 a 100), e mostra queda da atividade, ou uma atividade abaixo do usual, se for menor que 50 pontos. No quesito emprego, o índice da CNI caiu para 45,6 pontos em abril, ante 48 em março. "Não é surpresa o mercado de trabalho da atividade estar mais fraco", afirma o economista da FGV. Para Barbosa, a queda no trabalho doméstico pode ser vista como um bom sinal, que independe das recentes modificações na legislação trabalhista. "Em geral, quando a economia está bem, as pessoas mudam para empregos melhores, que é o que parece estar acontecendo com o emprego doméstico", pondera.
Outra boa notícia vem da indústria: "Se, por um lado, não foram feitas novas contratações, o setor ao menos parou de demitir", afirma Guilherme Mercês, da Gerência de Economia e Estatística da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). Para Mercês, a indústria tem conseguido, a despeito do baixo crescimento, segurar os níveis de emprego. "Mas essa situação só pode ser sustentada com uma melhora da economia. Ou o crescimento vem, ou dificilmente a indústria segurará os empregos", alerta.
Sobre os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que mostram desaceleração do emprego com carteira assinada, é consenso, entre economistas, que isso era esperado. "Já geramos muito emprego, é natural que o nível de contratação caia", diz Barbosa, da FGV. Numa comparação anual dos dados do Caged, em abril de 2010 foram criados 305.068 com carteira assinada, contra 196.913 em abril deste ano. Porém, na comparação mensal, os empregos com carteira assinada passaram de 112.450, em março, para 196.913 em abril.
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