
AGÊNCIA CBIC
22/07/2011
Corrida contra o tempo
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22/07/2011 :: Edição 141 |
Jornal do Commercio RJ/RJ 22/07/2011
Corrida contra o tempo Durante a campanha, a presidente Dilma Rousseff prometeu investir 2% do PIB em ciência e tecnologia.
Nós ainda não chegamos nessa relação, certo? Aloizio Mercadante Para analisar isso, precisamos comparar com outros países. Os Estados Unidos investem 2,7% do PIB em pesquisa e desenvolvimento; o Japão, 3,4%; a China, 1,5%.
No Brasil, o investimento é de 1,2%, o equivalente a US$ 25 bilhões.
Nós temos que melhorar essa relação com o PIB, mas o Estado brasileiro investe aproximadamente o mesmo que outras nações. A grande brecha está no setor privado: as empresas investem apenas 0,51% do PIB em pesquisa e desenvolvimento; nos EUA esse índice é de 1,8%. Precisamos criar uma cultura de inovação nos empresários.
Nós ficamos 20 anos com baixo crescimento, crise econômica, hiperinflação, e as pessoas acabaram ficando com aversão ao risco, e investir em inovação é risco.
O que está sendo feito para mudar esse quadro? Nós estamos dialogando com o movimento empresarial constituído pela CNI e promovendo eventos para estimular a inovação, dentro da política industrial da presidenta Dilma.
Estamos também concluindo uma negociação para lançar uma Embrapa da indústria, a Embrapi – Empresa Brasileira de Pesquisa Industrial. Essa instituição vai ter governança predominantemente privada e vai promover uma política de fomento aos centros de excelência de alto desempenho no Brasil, para atender, especialmente, a demanda das pequenas e médias empresas. Elas são mais ágeis, mais corajosas e criativas, e nós queremos estimular isso ainda mais.
Outra reclamação dos pesquisadores e das empresas que investem em inovação é quanto ao processo de patentes, muito lento se comparado a outros países. Como pretendem resolver esse problema? Eu vejo isso com muita preocupação.
Nessa área, há casos emblemáticos, como o do óleo de copaíba. Setenta e seis por cento da produção científica recente sobre esse extrato foram de cientistas brasileiros. No entanto, nos últimos 10 anos, não houve nenhuma patente brasileira registrada. O Inpi precisa de mais agilidade no processo de patenteamento, nós temos 300 analistas no instituto, a China tem 2,5 mil e chegará a 9 mil nos próximos quatro anos. Como vamos acompanhar esse ritmo? Uma das sugestões do MCT é montar uma rede de 3 mil servidores públicos – professores, analistas, técnicos, pesquisadores de várias áreas do conhecimento que seriam treinados para serem pareceristas do Inpi. Eles fariam uma análise preliminar e, depois, o analista com dedicação exclusiva faria a avaliação final. Encaminhamos essa proposta ao MDIC (Ministério da Indústria, Desenvolvimento e Comércio Exterior) e o ministro Fernando Pimentel demonstrou grande simpatia pela ideia.
Para que tudo isso dê certo, é preciso investimento. Como levar adiante essas propostas com o corte anunciado pelo governo? Nós vivemos uma situação internacional muito delicada, com crises nos Estados Unidos e na Europa. Nos antecipamos ao que outros países vão ter que fazer e, com isso, vamos crescer de forma sustentável, sem pressão inflacionária. Sem crescimento, não há recurso para financiar a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação. A decisão do governo de dar ênfase à política fiscal está correta, mas não podemos prejudicar projetos estruturantes.
Ciência, tecnologia e inovação são os principais eixos do desenvolvimento. A presidenta comunga dessa visão, e tenho certeza que, daqui para frente, vamos ter uma melhora no orçamento do nosso ministério.
Mas quais seriam as alternativas para cobrir o atual corte? Precisamos investir em fontes permanentes de financiamento e vamos fazer isso por meio da criação de novos fundos setoriais, aos moldes do CT Petro, mantido pela Petrobras.
Queremos levar esse modelo para a construção civil, para a indústria automotiva e para o sistema financeiro. Mas o mais importante é o futuro dos royalties do pré-sal. Se for mantido o projeto que o Congresso aprovou, vetado pelo presidente Lula, o MCT vai perder, em nove anos, R$ 12 bilhões. O pré-sal é o grande passaporte para o futuro do Brasil, desde que a gente não pulverize esse recurso na máquina pública, como está sendo proposto pelos governadores e prefeitos. O pré-sal não é uma receita renovável, temos que saber usá-lo para criar uma economia do futuro. A prioridade tem que ser educação, ciência, tecnologia e meio ambiente.
O que o MCT está planejando para estimular a indústria eletrônica? Estamos realizando agora uma série de testes no Ceitec (a primeira fábrica de chips do Brasil) e vamos começar a produzir dispositivos a partir de outubro.
O Ceitec é nosso projeto de aprendizado, com ele vamos aprender a fazer os chips, um processo extremamente delicado.
Só 20 países produzem semicondutores e todos que dominaram essa tecnologia deram um salto quântico na indústria eletrônica.
Estamos também fomentando as design houses, que fazem o desenho dos chips, e tentando trazer fábricas de ponta ao Brasil. Nossa ideia é conseguir produzir, aqui, a tela de TFT dos smartphones e tablets, display que só é produzido por quatro países. Com isso, vamos melhorar a cadeia produtiva brasileira.
Somos o sétimo país que mais produz TICs, mas temos um déficit de mais de US$ 19 bilhões relativo à importação de equipamentos. É muito importante dominar essa tecnologia para substituir a importação.
Além da tentativa de trazer empresas de ponta, que outras parcerias devem ocorrer nos próximos meses? Eu estou muito empenhado no contato com uma comunidade que produz conhecimento e que não está nem nas universidades, nem nos centros de pesquisa, nem nas empresas.
Está na web. São os hackers – diferentes dos crackers, que usam a internet para praticar crimes.
A ideia é integrá-los em um amplo programa de pesquisa, uma garagem-laboratório, e criar uma estrutura de apoio, com cursos de formação e tudo o mais para fomentar o software livre e outras bandeiras da comunidade.
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