
AGÊNCIA CBIC
Com a lista, redução de compras atingiu 13%
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02/08/2013 |
Valor OnLine Com a lista, redução de compras atingiu 13% A elevação de alíquotas de importação de cem produtos em até 25% – em vigor desde outubro do ano passado – foi eficiente em barrar parte das compras externas. Levantamento feito pelo Valor mostra que houve retração de 13,2% nos desembarques dos produtos entre outubro e junho, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) na comparação com o igual período anterior. No mesmo período, as importações totais aumentaram 3,7% Apesar de a lista ser pequena perto do número de produtos que o Brasil demanda do exterior, o peso é significativo. No período analisado, a importação chegou a US$ 6 bilhões, 3,5% do total desembarcado no país. Entre outubro de 2011 e junho do ano passado, a importância dos cem produtos era maior: 4% do total importado. Para analistas, a não prorrogação da alíquota mais pesada aos produtos estrangeiros, confirmada ontem pelo ministro da Fazenda Guido Mantega, está relacionada à "proteção cambial" que a desvalorização do real ofereceu aos similares nacionais durante a vigência da lista de exceção negociada entre os países do Mercosul. Classificada pelo ministro de "desinflacionária", a não prorrogação também pretende estimular a concorrência no mercado interno. "A indústria poderá obter insumos mais baratos e dessa maneira ter mais competitividade", afirmou Mantega. A dinâmica da atividade interna, por outro lado, traz temor ao empresariado nacional, que fica mais exposto em um cenário de baixo investimento. Mesmo o recuo na importação dos produtos não foi homogêneo. O setor químico, presente em um quarto da lista, aumentou em 3,3% as compras externas, que alcançaram US$ 1,5 bilhão. Por outro lado, as indústrias siderúrgica e de máquinas e aparelhos mecânicos foram as que mais se beneficiaram do importado mais caro. As compras de ferro, aço, cobre e alumínio, que compõem outro quarto da lista, retrocederam 39%. Antes, a importação foi de US$ 1 bilhão. Os desembarques de 11 produtos de máquinas e equipamentos mecânicos, ligados a bens de capital, encolheram 31%. Outro quarto da lista – produtos de papel e celulose, calçados, cerâmicas e até instrumentos óticos – importou 7,1% menos. José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), lembra que em outubro do ano passado o dólar estava ao redor de R$ 2. "Como a maioria das alíquotas aumentou em 10%, e hoje a banda do câmbio se encontra em R$ 2,25, trocou-se seis por meia dúzia em relação à proteção à indústria", afirma. O analista não prevê que o importado mais barato vá mudar a trajetória da indústria nacional, resguardada agora pelo câmbio. Com a desaceleração do crescimento da economia e o recuo da demanda, a importação tampouco vai ganhar fôlego extra via mercado interno. A não prorrogação da lista, contudo, traz preocupações na área fiscal. "O governo federal está abrindo mão de receita tributária em um ano no qual a receita está curta", diz Castro. Nas entrelinhas da decisão da equipe econômica, na visão do presidente da AEB, está a confirmação de que o cenário trabalhado para este ano é o de que o real não vai se valorizar frente ao dólar. "O governo não tiraria a lista sem ter o ajuste do câmbio em vista." A compensação da retirada da tarifa temporária através do câmbio também é tida como um cenário plausível por David Kupfer, professor licenciado da UFRJ e assessor da presidência do BNDES. "A ordem de grandeza da redução tarifária é semelhante à desvalorização pela qual passou o real no último trimestre, de forma que a efetividade da medida vai permanecer no mesmo ponto", afirma. A mudança, contudo, não pode ser analisada apenas pelo viés cambial. O recuo do nível de importação não foi acompanhado pelo aumento da demanda por produção local, constatado no ritmo mais lento de crescimento do que o esperado e na dificuldade da recuperação dos investimentos, de acordo com o professor. O recuo significativo nas compras externas em bens de capital é outro exemplo. "A variável fundamental para a análise futura do empresariado, que é a demanda interna, não está muito previsível no momento. Por isso que as empresas estão inseguras em perder a competitividade que a lista trouxe no último ano." (Colaborou Edna Simão, de Brasília)
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