O Globo/BR
CNI: salários sobem, mas produtividade industrial não
Pleno emprego pressiona custos da indústria, que sofre competição externa.
BRASÍLIA
Para o gerente executivo da Unidade de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI ), Flávio Castelo Branco, o Brasil vive um cenário curioso, com situação de pleno emprego – quando praticamente todas as pessoas que querem trabalhar estão contratadas – mas com índices de produtividade da economia abaixo do desejado.
– A gente já tem um efeito. A geração de postos de trabalho não se dá mais no mesmo ritmo que se deu, por exemplo, na segunda metade da década passada – disse.
Ele observou que, apesar do avanço no setor de serviços, é necessário um ritmo de crescimento mais acelerado em outros segmentos que estão mais expostos à competição internacional, a exemplo da indústria.
– Isso é importante para que tenhamos um mercado de trabalho até mais equilibrado como um todo, e não só um crescimento numa atividade no setor de serviços que, às vezes, termina gerando até pressões de custo para as empresas – afirmou Castelo Branco, que observou que há um descompasso entre aumento de salários e produtividade industrial, o que prejudica o investimento das empresas.
Avanço menor na ocupação
Uma análise da LCA Consultores, com base nos dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do IBGE, mostra que o desempenho regular de comércio e serviços não tem compensado os maus resultados dos setores de indústria e construção civil. Segundo os dados do IBGE, houve desaceleração no número de pessoas ocupadas – o total subiu 1,2% em março, na comparação com o mesmo período de 2012, ante uma taxa de 1,6% em fevereiro. Por outro lado, a chamada População Economicamente Ativa (PEA) – que representa o número de pessoas que, se não estão ocupadas, estão em busca de uma vaga – está crescendo pouco, o que diminui o impacto sobre a taxa de desemprego.
Na avaliação do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depec), do Bradesco, o saldo positivo do mercado formal de trabalho vem sendo puxado pela indústria, que fechou muitos postos no ano passado e continua com pouca atratividade, com forte retração dos investimentos. Na próxima terça-feira, o Ministério do Trabalho divulga os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), referente a abril, e a projeção do Depec é de um saldo líquido de 200 mil postos (em abril do ano passado, foram 216,9 mil).
|