Valor OnLine/BR
Casa modelo reúne várias tecnologias de alto desempenho
Antônio Carlos Lacerda, da Basf: soluções relacionadas à rapidez dos processos e durabilidade dos materiais
Blocos de poliestireno expandido e espumas nas paredes para isolamento térmico, além de tintas, vernizes e adesivos com pigmentos especiais para controlar a temperatura são algumas das soluções construtivas utilizadas na primeira casa de eficiência energética montada pela Basf no Brasil. A construção modelo, que será aberta ao público a partir de 28 de maio, dá uma ideia das técnicas e produtos desenvolvidos nos últimos anos por empresas ligadas à indústria da construção para tornar os empreendimentos mais sustentáveis e eficientes.
"O projeto traz muitas novidades e apresenta as tecnologias em materiais de alto desempenho e eficiência energética disponíveis no mercado interno e externo", diz Antônio Carlos Lacerda, vice-presidente sênior da Basf. Em uma residência de 400 m², localizada na zona Sul de São Paulo, a companhia investiu R$ 3 milhões em soluções capazes de reduzir até 70% o gasto de energia de uma casa.
A iniciativa conta com a participação de 20 empresas, entre as quais Bosch, Deca, Atlas Schindler, Philips, Tigre, entre outras indústrias e também companhias do comércio, como Leroy Merlin. Com a colaboração desses parceiros, o projeto apresenta desde soluções simples como lâmpadas de LED até elevadores e aparelhos de ar condicionados mais eficientes do mercado. Inclui também alternativas para reduzir o consumo de água e a emissão de CO2.
Na parte externa da casa, destaca Lacerda, já pode ser observado o uso de tecnologias de eficiência, como as calçadas e passeio 100% impermeáveis. Compostos usados na fabricação de pisos drenantes contribuem para evitar o acúmulo de água na superfície. Na construção foram utilizados produtos químicos que permitem economia de cimento e no acabamento tintas especiais que controlam a temperatura e reduzem o uso do ar condicionado.
A construção modelo apresenta ainda soluções relacionadas à rapidez dos processos, durabilidade dos materiais, reaproveitamento, além do conforto dos moradores. O interior do imóvel recebeu, por exemplo, tinta antibactéria para reduzir em 99% as bactérias nas paredes. Na parte externa, as tintas contra mofo e acrílicas contribuem para maior rendimento e durabilidade.
A casa de eficiência energética, no entanto, ainda tem mais a ver com o futuro do que com a realidade do setor de construção. "A acessibilidade a tecnologias sustentáveis encontra barreiras econômicas", diz Carlos Borges, vice-presidente do SecoviSecovi-SP, Sindicato da Habitação.
Empreendimentos antigos carecem de investimentos em retrofit para se adequar às novas tecnologias. Entre os novos empreendimentos as soluções sustentáveis são mais frequentes, segundo ele, em edifícios de alto padrão, equivalentes a 20% do mercado.
Boa parte dos lançamentos voltados para essa faixa de consumidores, assim como os comerciais de alto padrão, já é equipada com automação de bombas, ar condicionados de última geração, além de medidores de água individuais e torneiras com temporizadores. Mas para isso os investimentos podem superar até 10% o valor da obra, calcula.
A obrigatoriedade da utilização de sistemas de reaproveitamento de água em alguns municípios, entre os quais o reúso de água pluvial em Curitiba, ele destaca, tem contribuído para disseminar a prática. Por esse sistema, a água pode ser captada, por exemplo, na cobertura e utilizada em vários serviços de limpeza e manutenção.
Outra solução é de reúso de água cinza, que prevê a reaproveitamento de águas utilizadas nos chuveiros, banheiras, tanques e máquinas para uso não nobres, como descarga sanitária e lavagem de pisos e garagem.
Para o vice-presidente de meio ambiente do Sindicato da Indústria da Construção de São Paulo (Sinduscon), Francisco Vasconcellos, o foco mais importante dos empreendimentos é a eficiência energética. Ele lembra que os selos, como o Programa Nacional de Conservação e Eficiência Energética em Edificações (Procel Edifica) e o LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), concedido pela U.S. Green Building Council (USGBC), estimulam os investimentos em medidas de eficiência.
"O impacto é mais expressivo no mercado ligado aos corporativos, que buscam certificações em que a eficiência energética tem peso significativo", salienta. Empresas especialistas em gestão de energia também têm contribuído para tornar os empreendimentos mais eficientes.
Com sistemas de gestão voltados para projetos de saneamento, a Schneider Eletric, especialista em gestão de energia, que oferece soluções para cidades e empresas, tem alcançado economia de 30% de energia e até 15% de redução de perda de águas por meio de gestão do consumo, detecção de vazamento, gestão de águas pluviais urbanas e soluções contra inundações.
No setor residencial, os avanços, segundo Vasconcellos, não são tão significativos, mas as construtoras já recorrem a sistemas de economia de energia, água e gás para atrair clientes, como a Pernambuco Construtora, que acaba de lançar seu primeiro edifício inteligente, localizado em um dos trechos mais cobiçados da praia de Boa Viagem.
O novo empreendimento contará com uma central de monitoramento com sensor de vazamento de gás e de água. "O morador poderá ser acionado onde estiver caso ocorra algum vazamento de água ou gás em seu apartamento", explica Oldano Schuller, supervisor de engenharia da construtora.
O empreendimento terá também, como serviço opcional, um sistema para que cada cliente adote soluções personalizadas de automação para eletrodomésticos ou equipamentos eletrônicos. O morador poderá, por exemplo, ligar o ar condicionado pelo celular enquanto estiver no caminho de casa ou automatizar a abertura das cortinas em horários pré-determinados.
"Esse serviço permite economia de energia e é uma forma que a construtora encontrou para começar a despertar nos clientes o interesse por soluções de eficiência energética", afirma. Essa também é a expectativa da Basf ao criar a casa de eficiência energética que deverá receber cerca de cinco mil visitantes em um ano. A empresa vai manter o projeto por pelo menos dez anos, durante os quais planeja incorporar as novas tecnologias que serão desenvolvidas no mercado ao longo da próxima década.
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