
AGÊNCIA CBIC
12/12/2011
Bambu conquista diferentes mercados
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12/12/2011:: Edição 234 |
Jornal Valor Econômico/BR 12/12/2011
Bambu conquista diferentes mercados Aplicações
Construção civil e confecções usam o material, cujo plantio vai beneficiar agricultores familiares
Com as restrições legais à exploração das florestas, o bambu ganha espaço em aplicações na construção civil, onde pode complementar ou substituir a madeira. "A produção da planta é a bola da vez", afirma Elias Melo de Miranda, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária no Acre (Embrapa-AC), que realiza estudos com espécies nativas para aumentar os usos alternativos da gramínea.
Há mais de 200 espécies diferentes da planta no país, com maior concentração no Nordeste e na Amazônia. As utilizações mais comuns são encontradas na construção civil, decoração e na indústria de confecções. Uma nova lei que equipara o bambu a um produto agrícola pode beneficiar agricultores familiares e gerar novas linhas de pesquisa e financiamento.
Em São Paulo (SP), a NeoBambu vende pisos e revestimentos de bambu para paredes e móveis desde 2006. A previsão é que os negócios com a venda do material aumentem em até 50% no próximo ano. "Depois de conhecer o produto no exterior, decidimos trazê-lo para o mercado nacional", diz a arquiteta Francine Ferrari, sócia da companhia.
A ideia é substituir pisos de madeira por revestimentos de bambu. Uma consultora chinesa realizou a pesquisa de produto na China. "A meta era importar a melhor opção da melhor empresa." Hoje, a loja vende em seis Estados.
Na Kanela Bambu Design, os carros-chefes são tocheiros e painéis para revestimento de paredes. "Temos também tetos, divisórias e fontes", diz a diretora Priscila Felisberto, que trabalha com bambu há 30 anos. A produção média de painéis chega a 400 unidades ao mês. Em 2012, a loja deve lançar bancos e biombos de bambu com junco.
"Nas roupas, as fibras do bambu apresentam alta absorção de umidade e são termodinâmicas, dando a sensação de frio nos dias quentes e de calor nos períodos mais amenos", diz Maria Carolina Rehem, gerente de marketing da malharia Marles, que usa o material nas coleções há cinco anos. A empresa compra a mercadoria de fornecedores estrangeiros e usa até 30 toneladas do produto por mês.
De acordo com Miranda, da Embrapa-Acre, o bambu sempre foi subutilizado no Brasil, limitando-se às pequenas produtoras de artesanato e de mobiliário. "Atualmente, o uso agroindustrial mais expressivo acontece no Nordeste, onde a Agrimex, do grupo João Santos, cultiva cerca de 40 mil hectares em Pernambuco, Paraíba e Maranhão, para a produção de papel e celulose." A região é a maior fornecedora de bambu do Brasil.
Na China, um dos maiores produtores mundiais, o bambu pode ser encontrado em mais de 4 mil aplicações diferentes. Pelo menos 5 milhões de famílias chinesas vivem da cadeia produtiva da planta. O país fatura US$ 3,5 bilhões ao ano com o produto.
Em locais como Japão, Índia, Colômbia, Equador e Costa Rica, todas as partes do bambu são aproveitadas. As folhas transformam-se em forragem para animais, os brotos e sementes são comestíveis e a polpa é usada na produção de celulose. As hastes seguem para a construção civil e fabricação de móveis. "A Colômbia é considerada o país que mais investe nesse segmento, no mundo."
No Brasil, um dos usos mais comuns é no nicho de fibras vegetais, em que o bambu pode complementar ou substituir o pinus e o eucalipto no setor de papel e celulose. Na construção civil, diz Miranda, o potencial de aplicação inclui a utilização como escoras para a concretagem de vigas, peças para telhados ou na substituição do aço em obras de menor porte.
Mas, como as espécies têm problemas na produção de sementes – a floração e frutificação da gramínea podem ocorrer a cada 20 ou 30 anos – é necessário investimentos em pesquisas para viabilizar a produção de mudas em larga escala.
Na região sudoeste da Amazônia, há cerca de 18 milhões de hectares de florestas abertas com bambu, segundo o pesquisador. Grande parte desse volume está no Acre. "Com a conclusão da Estrada do Pacífico, ligando a BR- 317, no Acre, a portos peruanos, abrem-se possibilidades de negócios para a comercialização na Ásia", explica Miranda. "Os chineses já demonstraram interesse no bambu acriano, desde uma missão empresarial enviada ao Estado, em 2005."
Outra ação que pode favorecer o aumento da produção e uso da planta no país é a "lei do bambu", sancionada em setembro, que vai beneficiar agricultores familiares que investem na cultura. Com a nova legislação, a gramínea passa a ser considerada produto agrícola e contará com linhas de financiamento diferenciadas, ações de pesquisa e de desenvolvimento tecnológico.
"A regulamentação definirá a política de crédito, o que deve favorecer a atividade", afirma Miranda. "Mas esse crescimento depende do apoio às instituições de pesquisa para a inovação no setor."
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