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AGÊNCIA CBIC

19/03/2020

Artigo: Construção civil e seu protagonismo na gestão dos recursos hídricos

Virginia Sodré é diretora Executiva da InfinityTech

A construção civil tem inegável relevância quando se discute a gestão de recursos hídricos, trazendo consigo a responsabilidade sobre o uso destes recursos naturais em todo os seus processos. Desde a concepção do produto, a seleção e aquisição de materiais, a construção e a o uso da edificação ao longo de sua vida útil, existem várias atividades diretamente ou indiretamente relacionadas ao uso da água. Além disso, o setor tem uma grande responsabilidade no desenvolvimento urbano das cidades, influenciando a infraestrutura urbana, o saneamento ambiental, o transporte e os serviços públicos de forma que as ações desse setor impactam o entorno e trazem reflexos importantes para a gestão de água das cidades.

Por outro lado, os recursos hídricos, por sua vez, são considerados bens cada vez mais escassos, especialmente através da ótica que considera sua disponibilidade em termos de quantidade e de qualidade. É importante ainda salientar que 9% da água doce no Brasil é disputada por mais de 70% do PIB industrial e 71% da população brasileira, sendo de extrema importância gerenciarmos seu uso de maneira eficiente. Nesse cenário, a gestão inapropriada desse recurso impacta severamente não somente o setor construtivo e a indústria da construção como também os demais setores econômicos e a sociedade. Por isso, é de vital importância que o setor compreenda o impacto causado pela apropriação dos recursos hídricos em seus processos e atue de forma a minimizar as externalidades negativas e impulsionar as positivas.

É importante destacarmos a urgência da adoção das práticas de conservação de água nas edificações, sobre os quais trata a ABNT NBR 16.782/2019 – Conservação de água em edificações – Diretrizes e procedimentos, uma vez que há um crescente aumento de demanda de água, causado pelo crescimento urbano e adensamento populacional, agravando o cenário de escassez hídrica nos grandes centros urbanos, sendo urgente a adoção de práticas de que levem a redução da demanda de água. Durante a crise hídrica de 2015, foi realizado estudo pela Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo, que demonstrou como as medidas de gestão da demanda podem ser altamente eficientes para a sociedade. A secretaria avaliou a substituição de 1.480.000 louças sanitárias (6,8L), incluindo caixa acoplada, dos edifícios Singapura construído pelo governo de São Paulo, onde com um investimento de R$ 447 milhões poderia resultar em uma redução de vazão de 4,7m³/s (redução do consumo), disponibilizando para a população o mesmo volume de água do novo Sistema Produtor São Lourenço, sistema que teve um custo de investimento de R$ 2,2 bilhões. Assim, fica evidente como medidas sistêmicas e integradas para o melhor uso da água são imprescindíveis para o desenvolvimento urbano nas cidades, diminuindo a pressão sobre os recursos hídricos e trazendo benefícios para o entorno.

O Guia Orientativo das Normas de Conservação de Água, Fontes Alternativas não potáveis e Aproveitamento de Água de Chuva em Edificações busca tratar de forma acessível e prática a adoção de medidas de conservação de água e uso de fontes alternativas em edificações.

As atividades relacionadas ao uso de fontes alternativas de água, lidam com o conceito do uso de águas menos nobres para fins menos nobres. A ABNT NBR 16.783/2019 – Uso de fontes alternativas não potáveis em edificações traz orientações e normatiza procedimentos importantes para a implantação e gestão adequada de ofertas alternativas de água, contribuindo com diretrizes para o uso seguro destas fontes na edificação. A norma para aproveitamento de água de chuva (ABNT NBR 15.527/2019) trata justamente de uma das fontes alternativas que impacta o sistema urbano, o aproveitamento dessa fonte pode contribuir para redução dos picos de volumes de água nos leitos dos rios, auxiliando na minimização das enchentes urbanas. Ao adotarmos o uso de fonte alternativa nas edificações, desde que viável economicamente, conseguimos aumentar a segurança hídrica das edificações e por outro lado contribuímos para o alívio da pressão nos sistemas urbanos, reduzindo a pressão por infraestrutura de água, esgoto e drenagem urbana.

Outro desafio enfrentado pelo setor é relativo ao estabelecimento de indicadores que permitam avaliar criteriosamente a eficiência ambiental dos empreendimentos e que auxiliem os gestores na tomada de decisão. Assim, torna-se viável avaliar o desempenho de materiais e processos, visando a menores impactos negativos ao meio ambiente e ao uso mais racional da água. Por anos não havia clareza de como mensurar os impactos das atividades do setor sobre os recursos hídricos, havendo notável carência no estabelecimento de métricas comuns que permitam avaliações direcionadas e o estabelecimento de um benchmarking. Nesse contexto, a possibilidade de utilização da pegada hídrica como indicador surge como grande oportunidade de avanços para a construção civil. Inventários de Pegada Hídrica, baseada na metodologia de Water FootPrint Network pode ser uma ferramenta de gestão hídrica importante para empreendimentos atuais e futuros, sendo um indutor para o desenvolvimento da cadeia produtiva, para que surjam produtos com menor pegada hídrica, contribuindo para a redução do impacto da apropriação do recurso hídrico pela indústria da construção civil.

As cidades com uma população cada vez maior necessitam de infraestrutura e novas habitações e a medida em que a urbanização aumenta, o impacto da construção civil tende a ficar maior se mantido os mesmos recursos tecnológicos e métodos construtivos. Desta forma as ações a cerca da conservação e preservação dos recursos hídricos são imprescindíveis para compatibilizar o desenvolvimento urbano com a manutenção da qualidade e controle do uso eficiente e seguro da água nas cidades. Contribuindo como protagonista para uma visão sistêmica e integrada da água, tendo um papel ativo importante, cooperando positivamente com a sociedade urbana, não apenas construindo, mas também servindo de exemplo de um novo comportamento, com a adoção de inovações nos projeto e também nos sistemas construtivos, ajudando no desenvolvimento de cidades e edificações mais resilientes, para enfrentamento das crises hídricas que serão cada vez mais frequentes.

*Artigos divulgados neste espaço, não necessariamente correspondem à opinião da entidade.

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