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AGÊNCIA CBIC

08/04/2024

Artigo – Novo olhar sobre a umidade nas edificações

Melhorar os edifícios passa por analisar seu desempenho perante os fenômenos naturais a que somos expostos e ao efeito que a nossa ocupação gera sobre eles. Entre um dos efeitos mais significativos está a geração de mofo, especialmente em áreas de menor temperatura e maior umidade em nosso país.

– Por que existem problemas com umidade nas edificações?

Os materiais de construção utilizados no Brasil, como tijolos, argamassas, telhas, concreto e madeira, são porosos e possuem ar e água em diferentes fases em seu interior (MENDES, 1997). Esses materiais são higroscópicos, o que significa que possuem poros em sua estrutura capazes de absorver umidade do ar, resultando em variações no teor de umidade do material (AFONSO, 2018; ZANONI, 2015). Vale ressaltar que o transporte de umidade para o interior da edificação ocorre de uma forma diferente entre sistemas construtivos leves e pesados (KARAGIOZIS; SALONVAARA, 2001).

Dessa forma, encontrar a origem da umidade em edificações pode ser desafiador, pois é influenciada por diversos fenômenos e envolve uma grande quantidade de mecanismos de transporte. Esses fenômenos podem ocorrer, frequentemente, em conjunto, em que alguns podem ser resultados de outros (HENRIQUES, 1994; KARAGIOZIS; SALONVAARA, 2001). A umidade se manifesta de diversas maneiras, incluindo umidade de construção, umidade ascensional proveniente do solo, umidade de precipitação, umidade de condensação, umidade devido às propriedades higroscópicas dos materiais e umidade gerada por atividades humanas (HENRIQUES, 1994; KARAGIOZIS; SALONVAARA, 2001).

A umidade inicial da construção ocorre devido a quantidade de água presente nos materiais e é influenciada pelo clima externo, resultante das chuvas e da umidade relativa do ar durante o processo construtivo. A presença de umidade também pode ser ocasionada pela ação das chuvas, especialmente em condições de ventos intensos, atingindo as paredes que ficam sujeitas a umidade. Isso representa um risco, pois pode reduzir a resistência térmica dos materiais e aumentar a condutibilidade térmica, favorecendo a ocorrência de condensações (HENRIQUES, 1994).

A realidade do país é que os problemas relacionados a umidade nas edificações são encarados como algo inevitável, como as condensações e o crescimento de fungos filamentosos (MORISHITA et al., 2016).

Diante disso, foi criado o grupo de pesquisa sobre umidade em edificações, o GT Umidade, da Comissão de Eficiência Energética da ABNT.

– Avaliação dos problemas de umidade e o projeto de norma ABNT

No Brasil, a discussão sobre o desempenho térmico de edificações ganha destaque, especialmente com a homologação de algumas normas brasileiras. No entanto, o desempenho higrotérmico ainda recebe uma atenção secundária, apesar de sua grande importância.

No contexto brasileiro, a norma NBR 15575 (ABNT, 2021) estabelece requisitos referentes à umidade, abordando ensaios de estanqueidade à água em coberturas e paredes, testes de absorção de água por paredes em áreas molháveis e pisos com lâmina d’água. Além disso, oferece recomendações para precauções em projetos visando evitar infiltrações. Contudo, a norma se concentra principalmente em aspectos relacionados à água líquida, não abordando processos como transporte e difusão de vapor d’água em elementos construtivos, aspectos essenciais para avaliar a durabilidade (BRITO; BELIZARIO-SILVA, 2022).

Diante disso, atualmente está em desenvolvimento o do projeto de norma ABNT intitulado “Simulação Computacional do Comportamento Higrotérmico de Paredes – Procedimento” no grupo de pesquisa Grupo de Trabalho de Umidade da Comissão de Eficiência Energética da ABNT, que tem como foco principal abordar o transporte de calor e umidade em elementos construtivos, levando em consideração as condições externas e internas das edificações, por meio de simulações computacionais. O propósito central é obter condições que assegurem habitabilidade e durabilidade adequadas nas edificações.

O objetivo do projeto de norma é estabelecer um padrão para o procedimento de simulação computacional do desempenho higrotérmico, facilitando a comparação de resultados de simulações realizadas nacionalmente. Vale ressaltar que o projeto não define parâmetros mínimos de desempenho higrotérmico vinculados aos resultados das simulações, . O grupo de pesquisa realiza diversos estudos com o objetivo de validar o método de simulação computacional proposto no projeto de norma. Entre eles, os estudos de Brito e Belizario-Silva, 2022, integrantes do IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo, que coordenaram a criação da versão inicial deste rascunho de norma.

Como resultados a destacar nos estudos de Coutinho e Cunha, 2022, está o impacto que a ocupação do edifício tem na geração de umidade interna e da importância que a ventilação natural tem no controle da geração de umidade e mofo. Em quase todos os critérios a ocupação foi um dos elementos mais impactantes na geração de umidade.

Quanto à formação de fungos filamentosos, geradores dos conhecidos mofos, a ventilação natural é a condição mais importante para a sua geração. Com a realidade cotidiana das famílias brasileiras e a impossibilidade de controlar a abertura das janelas manualmente durante o dia, devemos nos questionar quanto às soluções mais inteligentes para tornarmos nossos edifícios cada vez melhores para os futuros usuários.

Níveis elevados de umidade podem causar patologias nas edificações e afetar a qualidade do ar interior nos ambientes. Um dos problemas relacionados à umidade é o crescimento de fungos filamentosos que são prejudiciais à saúde causando vários problemas como crises alérgicas, incluindo rinite e até crises de asma (BERGER et al., 2015; GUERRA et al., 2012; SEDLBAUER, 2001).

Além dos conhecidos problemas relacionados à deterioração dos materiais, outro problema relacionado à umidade é a condensação nas superfícies da edificação. Isso ocorre quando o ar, a uma determinada temperatura, não consegue mais conter vapor de água, resultando na condensação do excesso de umidade absoluta (HENRIQUES, 1994; RIBEIRO, 2013).

De acordo com Henriques (1994), é possível reduzir a ocorrência de condensações superficiais com as seguintes condições: melhorar o isolamento térmico do edifício; aumentar a temperatura do ambiente; e aprimorar a ventilação, por meio de janelas ou dispositivos mecânicos (HENRIQUES, 1994).

O projeto da Norma em questão se demonstra importante pelo grande impacto na melhoria das construções brasileiras e pelo início do entendimento do comportamento do fenômeno em nossas edificações.

Dr. Eduardo Grala da Cunha – Professor da Universidade Federal de Pelotas, Coordenador do GT Umidade da ABNT.

M.Sc. Luiza Coutinho Bernardes – Doutoranda da PUC/PR – Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

Referências bibliográficas

ABNT – Associação Brasileira De Normas Técnicas. NBR 15575: Edificações habitacionais – Desempenho. Rio de Janeiro, 2021.

ABNT – Associação Brasileira De Normas Técnicas. Rascunho do Projeto de Norma ABNT – Simulação computacional do comportamento higrotérmico de paredes – Procedimento. Rio de Janeiro, 2023.

AFONSO, T. M. Desempenho higrotérmico de edificações e procedimentos para previsão de ocorrência de bolores em ambientes internos: estudo de caso em habitações construídas com paredes de concreto. Dissertação (Mestrado em Habitação: Planejamento e Tecnologia). Departamento de Tecnologia em Construção de Edifícios do Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT. São Paulo, 2018.

BERGER, J.; GUERNOUTI, S.; WOLOSZYN, M.; BUHE, C. Factors governing the development of moisture disorders for integration into building performance simulation. Journal of Building Engineering, v. 3, p. 1–15, 2015.

BRITO, A. C.; BELIZARIO-SILVA, F. Análise da sensibilidade do comportamento higrotérmico de uma parede a diferentes características higrotérmicas de concreto. ENTAC, XIX Encontro Nacional De Tecnologia Do Ambiente Construído, v. 19, n. Novembro, p. 1–14, 2022.

GUERRA, F. L.; CUNHA, E. G.; SILVA, A. C. S. B.; KNOP, S. Análise das condições favoráveis à formação de bolor em edificação histórica de Pelotas, RS, Brasil. Ambiente Construído, v. 12, n. 4, p. 7–23, 2012.

HENRIQUES, F. Humidade em paredes. Lisboa, Portugal: Laboratório Nacional de Engenharia Civil – LNEC, 1994.

KARAGIOZIS, A.; SALONVAARA, M. Hygrothermal system-performance of a whole building. Building and Environment, v. 36, n. 6, p. 779–787, 2001.

KÜNZEL, H. M.; HOLM, A. H. Moisture control and problem analysis of heritage constructions. Encontro sobre Patologia e Reabilitação de Edifícios, p. 85–102, 2009.

LARA, R. R. Á. Hygro–thermo–mechanical analysis of masonry: Experimental characterization and numerical simulations. Tese (Doutorado em Engenharia Civil). Escola de Engenharia da Universidade do Minho. Braga, Portugal, 2023.

MENDES, N. Modelos para Previsão da Transferência de Calor e de Umidade em Elementos Porosos de Edificações. Tese (Doutorado em Engenharia Mecânica). Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 1997.

MORISHITA, C. BERGER, J. CARNEIRO, A. MENDES, N. Issues about moisture in residential buildings of Brazil. CIB World Building Congress, 2016.

PIRES, J. R. Estimativa da condensação em edificações unifamiliares em território brasileiro: Simulação higrotérmica computacional. Tese (Doutorado em Engenharia Civil). Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS, 2020.

RIBEIRO, P. J. T. Análise comparativa de diferentes modelos de simulação numérica na avaliação da ocorrência de condensações internas. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil). Faculdade de Ciências e Tecnologia – Universidade Nova de Lisboa, 2013.

SEDLBAUER, K. Prediction of mould fungus formation on the surface of and inside building components. Tese (Doutorado em física das construções) Fraunhofer Institute for Building Physics – Universität Stuttgart. Stuttgart, Germany 2001.

STRAUBE, J. F. Moisture in buildings. ASHRAE Journal, v. 44, n. 1, p. 15–19, 2002.

ZANONI, V. Influência dos agentes climáticos de degradação no comportamento higrotérmico de fachadas em Brasília. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília. Brasília, 2015.

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