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Para economistas, indústria puxa saldo de contratações em abril
O comportamento mais positivo da produção industrial no primeiro trimestre impulsionou a abertura de vagas no setor em abril, mas economistas reforçam que os sinais são de moderação para o mercado de trabalho, ainda que em nível bastante aquecido. Em média, as sete consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data projetam criação de 193 mil postos de trabalho com carteira assinada pela economia brasileira no mês passado, com intervalo entre as estimativas de 180 mil a 210 mil novos empregos. O saldo, se confirmado, será menor do que as 216 mil vagas abertas em igual período do ano passado. O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) será divulgado amanhã pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
Ainda nesta semana, na quinta-feira, será divulgada a Pesquisa Mensal do Emprego (PME) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em média, as 12 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data projetam taxa de desocupação de 5,7% da População Economicamente Ativa (PEA) para abril, com intervalo entre as estimativas de 5,5% a 5,9%. Se confirmada, será uma taxa menor do que os 6% observados em igual período de 2012.
Ontem, a presidente Dilma Rousseff afirmou que já foram criados em seu governo mais de 4 milhões de empregos formais e que essa marca foi atingida em abril, "quando foram gerados quase 200 mil novos postos de trabalho", referindo-se ao resultado do Caged. Fabio Romão, economista da LCA, chegou a esperar um número um pouco mais forte para abril, mas revisou sua estimativa após a fala da presidente. Romão projeta que o saldo entre admitidos e desligados tenha sido de 195,2 mil no mês passado. Na série com ajuste sazonal feito pela LCA, esse número representaria a criação de 63 mil vagas, estabilidade em relação ao observado em março. "O mercado de trabalho, com exceção feita à indústria, passa por um momento de moderação."
O setor industrial cresceu 0,8% no primeiro trimestre, em relação aos últimos três meses de 2012, o que está contribuindo para elevar o volume de contratações por esse segmento, na avaliação de Romão. O economista projeta que a indústria, que gerou 34 mil postos de trabalho em abril do ano passado, deve ter criado 48,7 mil empregos no mês passado. Para Romão, essa é uma boa notícia, porque o setor manufatureiro costuma ser o primeiro a dar sinais de inflexão do ciclo econômico, como aconteceu na desaceleração de 2011.
Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria, também vê trajetória mais favorável para o emprego industrial. "É um reflexo do dinamismo maior do setor no início do ano. De alguma forma, os incentivos dados pelo governo estão ajudando a sustentar a produção industrial e o mercado de trabalho."
Ao mesmo tempo, argumenta, a criação de vagas em outros setores, como a construção civil e serviços, está perdendo ímpeto, acompanhando a atividade econômica nesses segmentos. "A indústria está fazendo a diferença, mas no geral vemos acomodação do mercado de trabalho", afirma.
Bacciotti argumenta que na Pesquisa Mensal do Emprego, em que o setor de serviços tem mais peso, o desaquecimento do mercado de trabalho ficou mais evidente no primeiro trimestre. O economista lembra que os autônomos ajudaram a sustentar o nível de emprego, em detrimento dos trabalhadores com carteira assinada.
Em relatório, o Itaú ressalta, no entanto, que as condições para o mercado de trabalho continuam aquecidas. O banco projeta que a taxa de desemprego tenha sido de 5,6% no mês passado. Na série com ajuste sazonal calculada pela instituição, a taxa de desemprego seria de 5,2% em abril, ligeiramente inferior à taxa de 5,3% de março.
Já para Romão, da LCA, a acomodação do mercado de trabalho e a inflação mais elevada estão diminuindo o poder de barganha dos trabalhadores por reajustes reais. Para abril, o economista estima alta de 0,2% da renda média real em relação a igual mês do ano passado. Em março, na mesma base de comparação, o avanço foi de 0,6%. Essa desaceleração, avalia, é importante para explicar a perda de fôlego do varejo, que teve queda de 0,2% entre o quarto e o primeiro trimestres, com ajuste sazonal. Para Romão, a inflação mais alta neste início de ano, a elevada base de comparação e o menor reajuste do salário mínimo estão fazendo com que os ganhos reais de renda dos trabalhadores sejam menores em 2013.
Bacciotti, das Tendências, também avalia que a surpresa inflacionária afetou o mercado de trabalho, ao tirar poder de compra do trabalhador. Para 2013, o economista projeta avanço de 2,3% da renda, ante alta de 4,1% em 2012.
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