Estado de Minas/MG
Transparência e beleza
Rapidez na instalação e variada oferta de produtos pesam na decisão de substituir alvenaria por vidros em projetos. Mas é preciso estar atento à insolação e à ventilação
Elian Guimarães
O Brasil está entre os maiores produtores de vidro do mundo e é o maior da América Latina, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Vidros (Abividro). Desde 1980, esse tradicional produto vem conquistado mais espaço na arquitetura e na construção civil. Utilizado com frequência em fachadas, coberturas, pisos, divisórias, portas, janelas, escadas e até em substituição a paredes inteiras de alvenaria, é um elemento de segurança também em guarda-corpos, permitindo a interação entre os meios externo e interno. Proporciona ainda visibilidade e segurança.
A indústria de vidros evoluiu muito nas últimas décadas, conforme reconhece o vice-presidente da área de materiais, tecnologia e meio ambiente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-MG), Geraldo Jardim Linhares Júnior: “A utilização do vidro depende muito da concepção do projeto. Compramos esquadrias para as construções que já vêm prontas com o vidro instalado. Em obras de alto padrão de arquitetura e ambiente houve um grande crescimento da procura por produtos feitos com esse material, porque já são equipamentos estruturados, usados em empreendimentos que utilizam vidro até mesmo como escada, corrimão, até a criação de ambientes completos, com paredes e móveis de vidros.”
Para a arquiteta e professora do departamento de tecnologia da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Roberta Vieira Gonçalves de Souza, antes da utilização do vidro nas construções não havia elemento de contato com o ambiente externo protegendo de situações adversas, como o excesso de calor, umidade e segurança. Nos países de clima quente, ele deixa passar uma carga térmica de insolação caso não seja bem utilizado: “Não se trata de o elemento ser bom ou ruim, mas sim saber utilizá-lo em quantidade adequada, avaliando a entrada direta do sol e o fator de iluminação. Mas é preciso um bom projeto”.
O vidro tecnologicamente tratado, segundo Roberta Vieira, pode diminuir a entrada de calor e ajuda na vedação do som. Para ela, “a boa arquitetura deve se adequar ao uso da tecnologia.” O vidro traz também algumas vantagens, como o baixo peso para a estrutura, e pode ter aplicações internas como bancadas e em alguns móveis, o que resulta, além da estética, na otimização do tempo da obra, uma vez que o produto é fabricado, muitas vezes, sob encomenda ou já vem pronto, de fácil instalação, reduzindo o uso de mão de obra.
Quanto ao custo, Roberta explica que primeiramente é preciso pensar na relação custo/benefício. Ao se pensar na vida útil de uma edificação, com a utilização de um material mais caro, é preciso avaliar se esse gasto compensa pelo tempo de duração e pela redução também da conta de eletricidade: “Ou aumentá-la se não houver um controle da carga térmica. Quanto mais sofisticada a tecnologia, mais cara ela é, mas tudo deve ser bem avaliado.”
Normatização Existem normas técnicas genéricas sobre a utilização de vidros na construção civil. Criado há um ano o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR) estuda normatizações para o uso desse material, segundo informa o assessor da presidência do órgão e ex-presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil Gilson Paranhos. Para ele, algumas normas poderiam ser mais lógicas: “Nada impede, por exemplo, que o vidro comum seja usado em corrimão, parapeitos e fachadas. Entretanto, no que diz respeito à segurança, deve ser utilizado o vidro temperado, que em vez de quebrar, estilhaça, oferecendo, portanto, menores riscos de acidentes que provoquem cortes ou ferimentos quando se quebram”.
Gilson cita o arquiteto carioca, radicado na Bahia, João Filgueiras de Limas (o Lelé), que, segundo destaca, “sabe utilizar os vidros, dando transparência ao ambiente, mas ao mesmo tempo faz projetos que se preocupam com ventilação e luz natural, conjugados com espécie de venezianas que protegem dos efeitos do sol e do vento.”
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