
AGÊNCIA CBIC
18/06/2012
Crédito de casa nova
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18/06/2012 :: Edição 340 |
Revista IstoÉ Dinheiro/BR 17/06/2012
Crédito de casa nova Os bancos apostam no financiamento imobiliário para driblar a inadimplência nos empréstimos para a compra de veículos
José Urbano Duarte, vice-presidente de governo e habitação da Caixa Econômica Federal, anunciou com pompa e cerimônia no início de junho que o banco estatal vai ampliar sua oferta de financiamento imobiliário. O prazo máximo subiu de 30 para 35 anos e os juros podem cair a um mínimo de 7,8% ao ano, abaixo até mesmo da taxa Selic. "Nossa meta é permitir aos clientes a aquisição de imóveis melhores e em condições ainda mais vantajosas", diz Duarte. A Caixa oferece as taxas mais camaradas do mercado, mas não é o único banco à caça de interessados em fazer da sua casa a sua vida.
Duarte, da Caixa: "O crédito imobiliário é o melhor produto para multiplicar negócios por um longo prazo". O espanhol Santander, por exemplo, equiparou o prazo do seu financiamento imobiliário mais longo ao estabelecido pela Caixa, ao passo que o Banco do Brasil baixou os juros de 10% para 8,9% ao ano nos financiamentos até R$ 500 mil. Além disso, quem transferir o recebimento de seu salário para o BB e pagar as prestações em dia pode obter ainda mais vantagens, como juros de 7,9% ao ano mais Taxa Referencial (TR) – condição-padrão nesse tipo de empréstimo. O financiamento imobiliário é a principal aposta dos bancos para continuar crescendo no mercado de crédito.
Nos 12 meses até abril, esses empréstimos cresceram 43% e atingiram um recorde histórico de R$ 223 bilhões, ou 5,3% do Produto Interno Bruto (PIB). O apetite renovado dos bancos deve ampliar ainda mais essa cifra. Só a Caixa quer elevar sua carteira para R$ 96 bilhões até dezembro, um avanço de 25% sobre os níveis do primeiro semestre. Isso representa uma mudança drástica em relação à estratégia de há poucos anos, quando os bancos encaravam o financiamento imobiliário como uma obrigação para desovar os recursos aplicados na caderneta de poupança, e não como um negócio rentável. Segundo Raphael Rottgen, presidente da FinanciarCasa, consultoria de financiamento imobiliário, o prazo mais longo pode ser uma estratégia para o banco, que ganha um cliente por muitos anos. "Ele pode desenvolver esse relacionamento, ofertando outros produtos", afirma Rottgen. Duarte, da Caixa, faz coro. "O crédito imobiliário é o melhor produto para multiplicar negócios por um longo prazo", diz.
Ao mesmo tempo, financiar a casa própria tornou-se uma alternativa segura em tempos de desaquecimento da economia. "A inadimplência é baixa em comparação com outros empréstimos, pois a última prestação que as pessoas deixam de pagar é a da casa própria", afirma José Roberto Machado, diretor de negócios imobiliários do Santander. Por isso, o grau elevado de endividamento dos clientes aparentemente não preocupa os bancos. Machado, porém, afirma que o rigor na hora de aprovar o crédito continua o mesmo. O cenário no financiamento automotivo é bem diferente.
Meneghetti, da Fenabrave: os clientes têm de oferecer mais dinheiro na hora de negociar o financiamento. Segundo a Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef), a inadimplência nesses empréstimos atingiu 5,9% em abril, quase o dobro dos 3,2% do mesmo mês de 2011. A inadimplência vem crescendo desde janeiro de 2011, principalmente no segmento de renda mais baixa, em razão da perda do poder aquisitivo dos consumidores que decorre da inflação mais elevada. Mas não há razão para pânico, diz Décio Carbonari, presidente da Anef. "A inadimplência deve parar de crescer por causa das medidas de incentivo ao setor automotivo", afirma. Embora os bancos estejam mais seletivos, a redução de impostos sobre a produção e sobre os empréstimos, anunciada no dia 21 de maio, elevou em até 80% o volume dos pedidos de empréstimo recebidos pelos bancos de montadoras em relação à semana anterior ao anúncio. Mesmo assim, a carteira de crédito não deverá crescer tão aceleradamente quanto antes. Dados do Banco Central mostram que, em abril, o saldo das operações de financiamento de veículos manteve-se estável em R$ 178 bilhões, indicando um rigor adicional do setor financeiro na hora de emprestar. "Os consumidores estão com a renda comprometida e os bancos não querem correr mais riscos", diz Ayrton Fontes, economista e consultor de varejo automotivo. "Isso tem travado as negociações e limitado as vendas." Outro fator vem estimulando a mudança de estratégia dos bancos na área de empréstimos. No caso de o consumidor não conseguir pagar o que deve, os bancos retomam os bens dados como garantia, em geral o automóvel ou o imóvel financiado. A queda sistemática dos preços dos veículos usados dificulta a recuperação dos valores emprestados. O economista Roberto Troster, especializado em sistema financeiro, avalia que o maior rigor dos bancos é uma consequência dos próprios incentivos concedidos pelo governo. "A redução do IPI derrubou o preço do carro zero e também o dos veículos usados", diz ele. "Isso diminuiu o valor da garantia e ampliou o risco para o banco em caso de inadimplência." Em 12 meses, o preço médio de um veículo usado comparável caiu mais de 10%. Essa redução de preço do seminovo mudou o perfil do tomador de crédito, cujo veículo usado pagava parte do novo. "Com a desvalorização, o tomador de crédito precisa oferecer uma entrada mais robusta para negociar prazos e taxas melhores", diz Flavio Meneghetti, presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). O resultado dessa mudança na estratégia dos bancos divide opiniões. Para Carbonari, da Anef, a volta do cliente de alta renda deve incentivar o setor automotivo, estimulando a economia. Fontes, no entanto, é mais cético. Para ele, o mercado permanecerá morno. "Os consumidores da classe média foram os que mantiveram o mercado aquecido", diz. Sem eles, fica mais difícil acelerar.
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