AGÊNCIA CBIC
Redução da Selic pode elevar mais nota de crédito do Brasil
16/05/2012 :: Edição 317 |
Brasil Econômico/BR 16/05/2012
Redução da Selic pode elevar mais nota de crédito do Brasil Executivo da agência americana diz que caso o Brasil mantenha a taxa Selic em patamares historicamente baixos, sua classificação de risco poderá melhorar muito rapidamente e em breve
Após o Brasil conquistar fortes fundamentos econômicos, principalmente em relação à solidez fiscal, à inflação, e-mais recentemente, ao reduzir a taxa básica de juros, as discussões sobre as classificações de risco da dívida pública aumentam. Para alguns, chega a ser incompreensível que o Brasil não tenha ainda uma nota A. Em entrevista ao BRASIL ECONÔMICO, Mauro Leos, vice-presidente de Crédito Soberano da Moody's, e quem fornece ao país uma nota Baa2, afirma que o primeiro passo foi dado, mas que ainda não é possível garantir que a taxa Selic permanecerá em níveis historicamente baixos. Entre outros entraves para melhorar a nota brasileira, Leos admite que o histórico de calotes ainda pesa nas decisões da agência.
A queda da Selic pressiona uma melhora dos ratings?
Há duas considerações que diluem essa pressão. A primeira é que a taxa básica de juros adiante terá de ficar menor que a passada. A segunda, e mais importante, é que se mantenha o esforço fiscal. É raro haver uma decisão sobre rating soberano de crédito de algo que possa acontecer. Temos que ver o que acontecerá em relação a estas questões. Esperamos melhora gradual e agora há um novo elemento com a redução dos juros. Quando isto se consolidar, a revisão da nota será automática.
As perspectivas para o Brasil são satisfatórias?
Até agora, os temas centrais, de manuseio macroeconômico são positivos. A política monetária implementada pelo Banco Central é favorável. O que corresponde à parte fiscal, vemos um compromisso muito rígido com as metas. Estamos muito satisfeitos, pois isso apoia a classificação que demos ao país. Esperamos por trabalhos adicionais que empurrem a classificação à frente. Não há referência histórica de uma taxa de juros tão baixa e de uma política fiscal firme. Se o país mostrar, com capacidade política, vontade de lutar para manter estes novos patamares, se abrirá a possibilidade de uma melhora substancial das classificações.
Não há dúvidas sobre o compromisso do Banco Central com a meta de inflação?
Não! Isso nunca existiu. O comportamento do Banco Central foi contrário ao mercado, mas acreditamos que foi um movimento consistente com as metas da instituição. Temos esse entendimento porque não foi uma aposta. Creio que a história já comprovou que a leitura foi correta e que ainda há um compromisso com a meta de inflação. Para nós, o Banco Central é uma instituição motivada pelos princípios de controle da inflação e não concordamos que ele esteja sofrendo pressões políticas. A política monetária brasileira está sendo tocada de forma muito adequada.
O calote brasileiro na década de 1980 ainda pesa nas classificações de risco do país?
Creio que sim. O comportamento passado está incorporado nas classificações e tem que haver uma confirmação de uma mudança política. É necessário também ter base política para sustentar uma mudança nos ratings. Essas mudanças podem ser temporárias ou transitórias. E as classificações não podem ser baseadas em mudanças transitórias, mesmo que positivas. Por exemplo, o crescimento brasileiro está abaixo do normal. Isso é mal, pois pode pressionar os indicadores do governo, como a razão dívida/PIB. Mas isso não significa que a classificação deva ser reduzida, pois é esperado que esse momento seja temporário e vá se normalizar com um crescimento mais forte futuramente. Por isso tem importância a história. Esperamos ter mais evidências, uma consolidação, de que o histórico de um país mudou.
Mas essa mudança já não se consolidou no Brasil?
Sim, e, por isso, o Brasil vem melhorando sua classificação. Depois de 1994, ela tem três capítulos.O primeiro com o presidente Fernando Henrique Cardoso, o mais relevante, de estabilidade macroeconômica. O segundo, de Luiz Inácio Lula da Silva, com a continuidade do programa de FHC e a implementação de um política social. O terceiro é o que se inicia agora, o capítulo da Dilma Rousseff. Ela já mostra que haverá mudanças estruturais em áreas que podem transformar o panorama brasileiro. Ao contrário de Lula, esta é uma nova etapa, uma transformação do Brasil.
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Três elementos balizam o rating: a taxa de juros, o crescimento do PIB e o resultado primário. A combinação destes três determina qual será a razão dívida/PIB, e não acreditamos que ela cairá drasticamente nos próximos anos.
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