
AGÊNCIA CBIC
12/12/2011
Brasil não precisa temer bolha de crédito
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12/12/2011 :: Edição 234 |
Zero Hora/RS 10/12/2011
Brasil não precisa temer bolha de crédito
ENTREVISTA Murilo Portugal, presidente da Federação Brasileira dos Bancos Depois de ter ocupado de 2006 a 2010 a segunda cadeira do Fundo Monetário Internacional, Murilo Portugal retornou ao Brasil para presidir a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban). Antes, representou por sete anos o Brasil e outros oito países da América Latina na instituição. Com a autoridade de quem domina o universo das finanças, assegura que o Brasil não deve temer bolhas. Veja os principais trechos da entrevista concedida ontem, depois da reunião-almoço da Associação dos Bancos do Estado e do Sindicato dos Bancos do Estado e de Santa Catarina.
Zero Hora Como os bancos planejam 2012 diante da crise?
Murilo Portugal Os bancos brasileiros têm pequena exposição direta ao risco europeu. A exposição total está em 4,6% dos ativos totais. Mas pela magnitude da crise da Europa e pela importância que tem, vai haver impacto nos mercados de crédito de todo o mundo. Vai aumentar a aversão ao risco, a oferta mundial de crédito deve diminuir e encarecer. Os bancos ficam mais prudentes quando há cenário adverso, porque se preocupam em preservar o capital. Mas, apesar disso, a expansão do crédito no Brasil vai continuar a taxas superiores à do PIB. Temos perspectiva de alta de 15% no próximo ano.
ZH Ainda há espaço para aumentar o crédito imobiliário?
Portugal Apesar da expansão muito forte dos últimos anos, ainda tem representatividade pequena na carteira total. O crédito imobiliário no Brasil equivale a 4,5% do PIB, enquanto o crédito total ao setor privado está alcançando 48,5% do PIB. Então, o crédito imobiliário é menos de 10% do total ao setor privado. Em ativos bancários, representa menos de 5% do total, pouco comparado a outros países. Então, vai continuar se expandindo com vigor. O Brasil vive um boom benigno de crédito, não uma bolha. É um processo que responde à melhoria dos fundamentos da economia. Não houve aumento de endividamento, mas realocação do setor público para o setor privado, do governo para as empresas e as famílias.
ZH Do que depende maior participação do setor privado no financiamento de longo prazo?
Portugal É um desafio grande, que envolve governo e sociedade. Existem premissas que precisam ser resolvidas. A primeira é que a fonte de financiamento para os bancos tem de ser de longo prazo. Para isso, as pessoas têm de estar dispostas a fazer essas aplicações. A questão é como estimular a sair da cultura do CDB com liquidez diária. Outra questão é a porta de saída. Ninguém entra no longo prazo sem poder se desfazer da posição sem custo excessivo. Precisamos desenvolver mercados secundários para papéis privados. O terceiro ponto é a qualidade desses papéis, para atrair investidores. E por fim precisamos de segurança jurídica. Quem vai recuperar o investimento em 10, 15 ou 20 anos precisa saber que governos e partidos que se sucederem no poder vão respeitar os contratos.
ZH Como ex-dirigente do FMI, como vê o aumento do aporte do Brasil no fundo?
Portugal Os recursos à disposição do Fundo não cresceram na proporção a outras variáveis da economia internacional. Na crise de 2008/2009, os recursos eram US$ 350 bilhões, então os governos concordaram em dobrar as cotas. Isso ainda não se concretizou, vai chegar a US$ 700 bilhões no próximo ano. O Brasil vai aumentar a participação relativa no FMI, assim como outros emergentes com crescimento do PIB superior à média mundial. Mesmo assim, os recursos ainda são insuficientes para a missão do Fundo. Para ter hoje o mesmo nível de recursos que tinha em 1944, quando foi criado, precisaria de US$ 5,4 trilhões.
ZH E vale a pena?
Portugal Vale. Nos mais de 60 anos do Fundo, nunca um país perdeu nem um dólar. O rendimento é pequeno, mas é investimento seguro.
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