Jornal Folha de S.Paulo/BR – 05/06/2011
produtos certificados ou maquiagem verde?
SELOS PODEM ESCONDER ESTRATÉGIAS DE
MARKETING QUE SÓ VISAM AUMENTAR AS VENDAS; CONSUMIDORES PRECISAM APRENDER A
PESQUISAR A ORIGEM DAS COISAS
ANA PAULA MESTIERI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Quem opta por comprar produtos ecologicamente corretos encontra uma
infinidade de opções com selos, prêmios e certificações que atestam a
não-utilização de meios ou instrumentos de agressão ao ambiente na produção
daquele item.
Mas esse símbolo pode ser apenas marketing ambiental. Isso acontece porque a
rotulagem de selos verdes no Brasil é um processo de certificação voluntária-a
empresa não é obrigada a aderir a um programa específico e pode criar seus
próprios selos e padrões de qualidade.
Os selos chamados independentes têm maior credibilidade do que aqueles
criados pela própria empresa- autorregulatório- porque deixam claros as
metodologias de classificação.
Eles são elaborados por órgãos reguladores do governo, ONGs ou associações
privadas como FSC (Forest Stewardship Council) e ABNT (Associação Brasileira de
Normas Técnicas).
RÓTULO
Os consumidores devem procurar o selo no rótulo. Se a origem for
desconhecida, devem procurar saber mais sobre o certificador. Se for da própria
empresa, precisam conferir se ela explica quais foram os critérios para a sua
emissão.
"O consumidor deve verificar o quanto as empresas deixam claro a
metodologia e desconfiar de informações evasivas", alerta Adriana Charoux,
do Idec (Instituto de Defesa do Consumidor).
Guias como o Catálogo Sustentável (www.catalogosustentavel.com.br),
da FGV, e o Manual de Consumo Sustentável (www.idec.org.br/consumosustentavel), do Idec, ajudam na consulta.
O selo do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica, lançado
em janeiro pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), é
outra ferramenta para os clientes na hora da compra.
"Traz segurança ao consumidor porque garante que a compra é realmente
orgânica. Antigamente, qualquer produtor estampava a palavra orgânico no
rótulo", explica Luiz Mazzon, diretor do grupo Ecocert, uma das
certificadoras credenciadas para concessão do selo.
CONSTRUÇÃO
Um dos setores que mais se destaca na procura por certificação verde é o da construção civil.
Segundo a GBC (Green Building Council), que emite um dos selos, o Brasil é
hoje o quinto no ranking mundial de empreendimentos verdes.
" As pessoas têm noção desse impacto [da construção] e muitas não se
importam em pagar mais por um imóvel sustentável, desde que tenham a garantia
de sua eficiência", diz Marcos Casado, gerente da GBC Brasil.
Identificada como LEED (Leadership in Energy and Enviroment Design), a
certificação da ONG avalia critérios como eficiência energética e uso racional
de água.
Já o selo AQUA (Alta Qualidade Ambiental), da Fundação Vanzolini, considera
a qualidade de vida que o usuário terá, a economia de água e o consumo de
energia, a disposição de resíduos, e a contribuição para o desenvolvimento
sócio-econômico-ambiental da região.
A instituição acaba de lançar o selo RGMat, dirigido a produtos e materiais de construção sustentáveis.
Para emitir o selo, técnicos examinarão o desempenho ambiental e o ciclo de
vida desses materiais, que inclui uma pesquisa sobre o consumo de recursos
naturais e a emissão de gases na atmosfera, entre outros elementos.
As certificações oferecem aos fabricantes uma oportunidade de melhorar seus
processos de produção-como reduzir o consumo de água e de energia.
Aos arquitetos e projetistas, os selos fornecem mais dados sobre
durabilidade e reciclagem dos produtos. Aos varejistas, permitem exibir o
desempenho ambiental dos materiais a seus clientes.
A Mãe Terra, empresa de produtos naturais no Brasil, também criou um
programa para conscientizar o consumidor. O "Pensando Bem"
possibilita o rastreamento dos impactos ambientais dos produtos da marca.
Os
sete indicadores avaliados pelo programa são energia, água, CO2 e gases
poluentes, insumos e resíduos, uso do solo, biodiversidade e bem-estar animal. |