Jornal Valor Econômico/BR – 27/05/2011
bb aumenta recursos de microcrédito para produção
Cesar Felício
O Banco do Brasil irá tentar reorientar a sua carteira de microcrédito do
consumo para atividades que gerem capital. Segundo o presidente da instituição,
Aldemir Bendine, a rede varejista nacional não desenvolveu tecnologia para
ampliar a sua atenção no setor. Bendine assinou no último dia 25 um termo de
cooperação para contar com a assessoria de Mohammad Yunus, economista bengali que
ganhou o prêmio Nobel de 2006. Yunus dirigiu até este mês o Grameen Bank,
instituição da qual se afastou este mês por pressão do governo de Bangladesh.
A meta é conseguirmos em um primeiro momento, este ano, uma alavancagem de
R$ 1,5 bilhão, afirmou. O BB conta atualmente com uma carteira de R$ 1,1 bilhão
em empréstimos de microcrédito, fundamentalmente voltado para consumo. Este
valor representa um pouco menos da metade do total direcionado ao microcrédito
pelo sistema financeiro.
Apesar de criado em junho de 2003, com a norma do Banco Central que determinou 2% dos montantes de depósitos da
vista sejam direcionados para microcrédito ou retidos em compulsórios, muitas
instituições financeiras terminam com estes montantes bloqueados por falta de
investimentos nestas linhas.
A grande dificuldade para o microcrédito voltado para a produção é que ele
não é adequado com a tecnologia local de uma agência de varejo tradicional.
Falta o conhecimento dos arranjos produtivos locais. O Banco do Nordeste teve
os melhores resultados, mas em uma escala pequena. Vamos atuar em escala
nacional, utilizando a atual rede de agências, mas capacitando agentes de
crédito por meio de convênios como esse, afirmou Bendine. Entre as inovações, o
executivo mencionou a possibilidade de o BB adotar o crédito solidário, por
meio do qual um consórcio de tomadores recebe o financiamento e fica mutuamente
responsabilizado pela eventual inadimplência. Esta modalidade está sendo usada,
com sucesso, pelo Banco do Nordeste.
O presidente do BB disse que a expansão no microcrédito não irá afetar a
rentabilidade da instituição, porque serão usados recursos da Fundação Banco do
Brasil e que seriam objeto de retenção do compulsório. O impacto na
rentabilidade será zero, frisou. Nos últimos meses, o BB tem sido orientado
pelo governo federal a aumentar a sua oferta de crédito em áreas de interesse social. Na semana passada, a
presidente Dilma Rousseff determinou que o BB aumente a sua atuação no segmento
de habitação popular, atuando de forma complementar à Caixa Econômica Federal
no financiamento do programa Minha
Casa, Minha Vida. A expansão desta linha já deve ocorrer este ano.
Segundo Bendine, a carteira de financiamento imobiliário, atividade em que o
banco ingressou apenas em 2009, deve passar de R$ 5 bilhões para R$ 7 bilhões.
O presidente do BB encontrou-se ontem com Yunus em Belo Horizonte, durante um
fórum internacional de comunicação e sustentabilidade.
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