Jornal DCI Online/BR – 13/05/2011
títulos e fundos tornam-se opção para crédito imobiliário
Fortaleza – O crescimento contínuo na demanda por imóveis no Brasil ainda
preocupa bancos, construtoras e investidores em relação aos recursos para
financiamento. Por isso, representantes do setor discutem saídas para
impulsionar o mercado de fundos e recebíveis imobiliários, e até mesmo a
participação dos fundos de pensão para evitar um colapso na relação entre
funding e crédito.
Segundo Cláudio Borges Cassemiro, diretor de Crédito do Bradesco, o Brasil
vive um momento de ouro para a discussão de alternativas de crédito,
principalmente em função das ultimas conquistas de mercado, como incentivos
fiscais para construção, pacotes habitacionais e aberturas de capital.
O executivo disse ainda que o banco Bradesco irá investir, em 2011, entre R$
70 bilhões e R$ 80 bilhões em crédito
imobiliário, o que representa um crescimento de pelo menos 28,5% ante os
R$ 50 bilhões investidos em 2010. "E esse número é considerado baixo
ainda", afirmou Cassemiro, que continuou: "Ainda há uma resistência
por parte de muitas incorporadoras quando o assunto é crédito imobiliário nos bancos". Para João Crestana,
presidente do Sindicato da Habitação do Estado de São Paulo (Secovi-SP), os
fundos de pensão podem incrementar o setor
imobiliário nos próximos anos. "Os fundos de pensão são a principal
fonte de financiamento, trazendo novos recursos para o mercado imobiliário", argumenta. O executivo afirma ainda que
os fundos de pensão no Brasil gerem recursos na ordem de R$ 700 bilhões que também
podem ser usados em financiamento imobiliário.
Para José Carlos Martins,
vice-presidente da Câmara Brasileira da
Indústria de Construção (CBIC),
a inclusão de novos players para crédito não irá tirar a força do governo para
o financiamento. "Hoje 95% de todo financiamento estão ligados ao meio
público, e isso não irá mudar amplamente. Mas a luta é por novas alternativas
para que essa porcentagem baixe um pouco e o crédito continue crescendo",
argumentou.
Hoje, o negócio imobiliário brasileiro representa 4% do Produto Interno
Bruto (PIB), número que, de acordo com Martins, ainda é baixo. "Acredito
que chegaremos a 8% nos próximos anos, se houver uma iniciativa conjunta para
ampliação do crédito", disse.
Em países como os Estados Unidos, de acordo com Cassemiro, o setor imobiliário representava cerca
de 60% do PIB nos anos de ouro do setor. "Em 2005 e 2006 os Estados Unidos
conseguiram uma representação ampla do segmento dentro da economia, e o Brasil,
por viver um momento de ascensão parecido, também deveria ampliar sua
participação", explicou.
O grande diferencial para que não haja uma quebra financeira brasileira, de
acordo com Martins, está ligado ao controle público que ainda há o Brasil.
"Hoje, quem oferece o crédito é quem carrega o crédito: este é o grande
diferencial do nosso país e é isso que segurará o setor forte para os próximos
anos", afirmou.
Para Felipe Cavalcante, presidente do conselho de administração da Adit
Brasil, o programa de habitação do governo federal "Minha Casa, Minha vida" foi de
grande importância para o aumento do crédito brasileiro. "Em 2003, três
salários mínimos representavam um financiamento de R$ 13 mil, hoje, três
salários financiam até R$ 80 mil", explicou.
Com isso, o crédito brasileiro cresce quase o dobro do que a arrecadação
nacional, resultando no esgotamento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
(FGTS) e da poupança que, de acordo com o Secovi-SP, acontecerá em 2013.
Uma outra análise, que traz o nome de "Brasil 2022: Planejar, Construir
e Crescer", elaborada pelo LCA consultores e pela Fiesp, também menciona o
esgotamento da capacidade de financiamento do FGTS. As projeções da federação
se estendem até o ano de 2022 e fazem referência ao atendimento de necessidades
habitacionais para as quais será preciso construir 23,5 milhões de moradias com investimento de cerca de R$ 260 bilhões.
No entanto o estudo aponta que o governo só dará conta de 40% dessas
necessidades, mostrando ainda ser preciso o uso de mecanismos como Crédito de
Recebíveis Imobiliários (CRI), Covered Bands e Letras de Crédito Imobiliário (LCI).
Outra alternativa para crédito que tem sido discutido nos últimos anos é a
chamada securitização, prática que consiste em agrupar vários tipos de ativos
financeiros e convertê-los em títulos negociáveis no mercado de capitais,
transformando a dívida em investimento.
No ano passado o Bradesco fechou com R$ 950 milhões na securitização; este ano
as operações já ultrapassaram R$ 2 bilhões. "Creditamos esse crescimento à
conjuntura atual do mercado imobiliário
e ao reflexo do mercado, que está extremamente aquecido", explicou
Cassemiro, que previu um crescimento de 20% ao ano nos próximos cinco anos.
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