
AGÊNCIA CBIC
CBIC participa de reunião com presidente do Banco Central sobre novo modelo de financiamento habitacional

O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Renato Correia, participou nesta terça-feira (8/7), em Brasília, de reunião promovida pela Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE) com o presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo. O encontro teve como foco a agenda institucional da autoridade monetária com destaque para o debate sobre crédito, financiamento e os caminhos para modernizar o modelo brasileiro de funding imobiliário.
Ao lado de Correia, também esteve presente o vice-presidente de Indústria Imobiliária da CBIC e presidente-executivo do Secovi-SP, Ely Wertheim, que destacou o papel estratégico da poupança no atual modelo de financiamento habitacional e a importância de uma transição segura e planejada para novas fontes de recursos. Também participaram parlamentares, empresários e representantes de diversos setores produtivos.
Durante sua apresentação, Galípolo afirmou que o Banco Central está construindo um novo modelo de crédito imobiliário para substituir gradualmente o sistema baseado na caderneta de poupança. Segundo ele, o processo será estrutural, longo e gradual. “Não vai ser nada do dia para a noite. A poupança está aí há muitos anos, mas pode financiar essa transição para um modelo mais moderno, mais próximo do que vemos em países como Chile, Tailândia e África do Sul”, disse.
A proposta já teria sido apresentada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e visa, principalmente, ampliar o acesso ao crédito habitacional para a classe média, com foco em imóveis de até R$ 1,5 milhão. Entre as medidas em análise estão a flexibilização dos volumes de poupança retidos no BC e o estímulo a contratos atrelados ao IPCA. O objetivo é ampliar o leque de funding, aumentar a atratividade dos financiamentos e reduzir as distorções no sistema atual.
Atualmente, a poupança é a principal fonte de recursos do crédito imobiliário, mas sua participação vem caindo: passou de 46% do funding do setor no fim de 2021 para 32% em 2024, segundo dados da Instituto Brasileiro de Estudos Financeiros e Imobiliários (Abecip). O volume aplicado em poupança tem perdido espaço para investimentos mais rentáveis, reduzindo a base de recursos disponíveis para os financiamentos.
Galípolo chamou atenção ainda para o baixo peso do crédito imobiliário no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, que é de apenas 9,8%, sendo 6% oriundos do FGTS. Em comparação, o Chile atinge 30%, a Tailândia 20%, a África do Sul 18% e o México 11%. “Esse é um tema estrutural. Precisamos de um modelo que permita mais liquidez, mais competitividade e mais acesso ao crédito de longo prazo”, afirmou.
O presidente do BC também destacou que, diferentemente de outros países, o Brasil não conta com mecanismos amplos de securitização do crédito imobiliário. “Aqui, os bancos ficam com a operação travada por 14 anos, porque não têm como repassar esse crédito com a mesma indexação da poupança. Esse modelo dificulta a liberação de novos financiamentos”, explicou.
Renato Correia fez questionamentos sobre os planos do BC para o funding, manifestou preocupação com os efeitos da alta da Selic — atualmente em 15% — sobre a atividade econômica e, ao fim, avaliou positivamente o encontro e reforçou o compromisso da CBIC em contribuir tecnicamente com a construção de soluções que tornem o crédito imobiliário mais acessível, previsível e sustentável. “O financiamento habitacional é uma das principais alavancas para a geração de empregos e crescimento do setor. Precisamos garantir fontes estáveis de funding e um ambiente regulatório que favoreça a produção de moradias para todas as faixas da população, inclusive a classe média”, afirmou. Correia ainda convidou Galípolo para o evento Conexão CBIC, que será realizado pela entidade no fim deste ano, em Brasília.
Galípolo, por sua vez, reiterou que o papel do BC é assegurar a convergência da inflação para o centro da meta de 3%, mesmo que isso exija medidas impopulares no curto prazo. “O Banco Central não dá cavalo de pau na economia, mas também não pode ficar impassivo diante das distorções. A construção desse novo modelo de crédito é parte de uma resposta estrutural”, concluiu.
Realizada com apoio do Instituto Unidos Brasil (IUB), a reunião foi acompanhada por membros da FPE e de entidades representativas de diversos segmentos da indústria, comércio e serviços.