
AGÊNCIA CBIC
27/09/2011
Um olhar sobre a casa do futuro
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27/09/2011 :: Edição 155 |
Jornal Valor Econômico/BR 26/09/2011
Um olhar sobre a casa do futuro Certificada com o selo AQUA, a Casa Natura em Santo André(SP) é resultado de seleção e controle rigorosos de materiais e processos
Inaugurada em agosto do ano passado no município de Santo André (SP), a Casa Natura é um bom exemplo de que uma arquitetura sustentável não depende apenas da escolha do material a ser utilizado na construção. É preciso levar em conta uma série de outros fatores, principalmente quando se almeja uma certificação importante como a AQUA (Alta Qualidade Ambiental). Foi esse raciocínio que levou os arquitetos do escritório de arquitetura Forte, Gimenes e Marcondes Ferraz (FGMF), responsáveis pelos projetos arquitetônicos das casas Natura – cinco espaços que funcionam como showroom de produtos e abrigam encontros, lançamentos e treinamentos de consultoras -, a propor uma mudança importante na concepção dos empreendimentos, até então focados na reforma de imóveis já existentes.
"O processo não era inteligente; cada casa era um projeto novo e demandava tempo. Além disso, como cada uma tinha sua peculiaridade,não existia um controle de custos ou ele não era tão efetivo", avalia Lourenço gim enes, sócio do escritório. "A Natura tem uma aderência muito forte à questão da responsabilidade ambiental, e fazer uma casa do zero garante o controle de processos e a certificação", explica.
Com a mudança de conceito, a Casa Natura de Santo André ganhou estrutura pré-fabricada seca (peças que chegam para a montagem prontas, no tamanho certo e numeradas). Optar por uma composição assim significou diminuir o desperdício em 30% da obra, em relação à construção tradicional, que também é mais trabalhosa. Com o uso do aço, o impacto sobre a fundação diminuiu,com reflexo sobre a interferência no solo, também menor em relação a uma estrutura modular de concreto. Alumínio pintado, ferro, vidro e plástico reciclável, além de pisos certificados, completam a criação.
Para obter a certificação AQUA, um atestado de que a construção é sustentável, é necessário respeitar as 14 categorias do processo construtivo, em que são avaliados a relação com o entorno, a escolha de material e do sistema construtivo, o impacto ambiental do canteiro de obras, a gestão de água, energia e resíduos, a manutenção predial, os confortos térmico, acústico, visual e olfativo e também a qualidade sanitária do ar e da água. "É um processo inteligente para certificação, porque é muito flexível, não é um check list, tudo deve ser explicado e comprovado", completa Gimenes. Nos processos de auditorias presenciais, realizadas em todas as fases do projeto, foram avaliados todos os itens, segundo os níveis bom, superior e excelente, e nada poderia estar abaixo do nível bom.
Para atender a esses critérios, foram criadas algumas soluções, como captação de água de chuva para reúso, telhado verde, solo altamente permeável, controle de luminosidade e insolação, árvores internas e um recuo maior que o estipulado pela prefeitura, para criar um respiro para o entorno. Com isso, a casa se oferece como paisagem à cidade. Como resposta aos recursos, tem-se a redução do consumo de água potável e do aquecimento ambiental local, controle térmico, redução do volume de água no sistema de drenagem urbana e a preocupação com o destino dos resíduos. O lote escolhido está dentro de um espaço urbano estruturado, que tem energia elétrica e saneamento básico, pois solicitar esses serviços ocasiona desperdício de tempo e desgaste ambiental. Na escolha da localização, considerou-se a maneira como as pessoas chegariam até o showroom e, principalmente, se havia disponibilidade de transporte público, o que representa economia para os visitantes e uma opção menos poluente de mobilidade.
Todo o material utilizado na casa passou por um processo de seleção, em que foram analisados a capacidade de manutenção, reciclabilidade e o grau de reciclagem dos componentes. Assim, todo o material é certificado e reciclado. E cada produto foi analisado de acordo com o ciclo de vida do showroom, que é de dez anos, duração do contrato de aluguel do lote. Assim, a reciclabilidade está na gênese do projeto, pois a casa inteira pode ser reciclada, tanto o material quanto ela própria. "Quando o contrato terminar, se o terreno não fizer mais sentido para a Natura, desmonta-se a casa, recicla-se tudo ou monta-se em outro lugar", explica Gimenes. Uma das vantagens de uma construção pré-fabricada é que a montagem pode ser feita em lotes-padrão pelo país inteiro e, se for construída em larga escala, o custo diminui. Essa casa, por exemplo, é um protótipo e custa 5% a mais do que um empreendimento semelhante, mas sem certificação, acrescenta ele.
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