
AGÊNCIA CBIC
Soluções sustentáveis e protagonismo global: o Brasil na COP30 e o papel da construção

Com a realização da COP30 em Belém (PA), o Brasil ganha novo protagonismo no debate climático internacional. Empresas, governos e sociedade civil voltam os olhos para a região amazônica em busca de respostas e compromissos concretos. Em um cenário global que exige ações urgentes, o setor da construção emerge como peça-chave na transição para um futuro mais sustentável.
Painelista do Encontro Internacional da Indústria da Construção (ENIC), o executivo Javier Gimeno, Senior Group VP & CEO Latin America da Saint-Gobain, destacou as estratégias da empresa para acelerar essa transição. Com foco em inovação, eficiência energética e uso de materiais recicláveis, a companhia busca alinhar crescimento econômico com responsabilidade ambiental. Em entrevista exclusiva ao CBIC Hoje, Gimeno fala sobre as expectativas para a COP30, os desafios da América Latina e as tendências que prometem transformar o setor.
Em relação à realização da COP30, no Brasil, o que o senhor destaca de realmente concreto e positivo para o País?
A COP30 coloca o Brasil no centro dessa movimentação global para a adoção de práticas mais sustentáveis, com o objetivo de descarbonizar o planeta. O Brasil tem muito a dizer nesse contexto. Como o próprio presidente da COP afirmou, essa precisa ser a COP da virada: deixar de falar e começar a agir, porque temos urgência. E o brasileiro é um povo prático, que gosta de ação. A COP30 nos oferece a oportunidade de traduzir essa personalidade e esse dinamismo em ações concretas, que também podem servir como catalisadoras para o resto do mundo.
Em relação ao grupo que o senhor representa, quais são as principais estratégias para promover a sustentabilidade diante dos desafios sociais e ambientais que poderia servir como exemplo na COP30?
Temos dois eixos principais. O primeiro é produzir nossos produtos e soluções segundo padrões muito exigentes em termos de sustentabilidade. Isso significa maximizar o uso de recursos reciclados e priorizar o uso de energia verde, seja eletricidade renovável, seja substitutos do gás natural, como o biometano e a biomassa. O segundo eixo é levar ao mercado soluções cuja aplicação traga maior eficiência energética. Ou seja, os edifícios onde nossos produtos são utilizados passam a demandar menos energia. Isso representa vantagens importantes para o consumidor final em termos de conforto, saúde e bem-estar. Essas duas frentes são contribuições relevantes que aceleram o processo de transformação necessário para vivermos em um planeta melhor.
Como a empresa tem integrado inovação tecnológica e sustentabilidade nos processos produtivos e nas cadeias de valor?
Para nós, inovação é fundamental. A Saint-Gobain tem 360 anos de história, e essa longevidade se explica justamente pela nossa capacidade de nos reinventar continuamente e oferecer ao mercado novas soluções. Hoje, o que o mercado precisa são soluções sustentáveis, que nos ajudem a alcançar coletivamente o objetivo do carbono zero. É nisso que estamos investindo. A Saint-Gobain aplica, todos os anos, mais de 450 milhões de euros globalmente em projetos de inovação. E uma parte significativa desses investimentos está diretamente ligada à sustentabilidade. Isso mostra que não se trata apenas de discurso, mas de uma prática sistêmica, desenvolvida ao longo dos anos. Esse esforço contínuo nos dá uma grande capacidade de inovação para levar ao mercado, de forma sistemática, novas soluções que acelerem a transformação sustentável.
O senhor acredita que a transição energética na América Latina está ocorrendo de forma acelerada? Qual seria o papel da empresa privada nesse processo?
Não, pelo contrário. Eu acredito que, na América Latina, estamos avançando ainda de forma muito lenta. A responsabilidade de empresas como a Saint-Gobain é justamente ajudar a acelerar esse processo. Quando comparamos com o ritmo de transformação em outros países, especialmente na Europa, vemos que estamos atrasados. Há, sim, razões importantes que explicam essa lentidão. Mas acredito que o cenário está mudando. Existe uma conscientização crescente entre brasileiros, empresas e autoridades públicas sobre a urgência dessa transformação. E a Saint-Gobain estará sempre pronta para contribuir e participar desse movimento. A empresa privada tem a responsabilidade de desenvolver as tecnologias que permitirão criar os produtos, soluções e sistemas necessários para atingir nossos objetivos coletivos de sustentabilidade. Essas tecnologias precisam ser eficazes, mas também economicamente acessíveis. Não adianta criar soluções de alto nível se elas não puderem ser implementadas devido ao custo elevado. Nós nos esforçamos diariamente para oferecer aos nossos clientes brasileiros soluções mais eficazes do ponto de vista ambiental, que proporcionem mais conforto e saúde, mas sem impacto negativo no bolso. Na verdade, quando se observa toda a cadeia de valor, essas soluções se mostram até melhores economicamente.
Quais tendências globais em sustentabilidade o senhor considera mais promissoras para a América Latina?
As tendências mais importantes, são o compromisso das empresas em reduzir a pegada de carbono nos processos produtivos; o desenvolvimento de soluções cada vez mais eficientes do ponto de vista energético; e produtos que também promovam saúde e qualidade de vida. Essas são tendências estruturais, de longo prazo. Não são modismos que vão desaparecer amanhã. Vieram para ficar.