
AGÊNCIA CBIC
PIB da construção recua 0,8% no primeiro trimestre, mas setor mantém expectativa de crescimento em 2025

O Produto Interno Bruto (PIB) da construção civil registrou queda de 0,8% no primeiro trimestre de 2025, em comparação com os últimos três meses de 2024. A retração ocorre após o setor ter encerrado o ano passado com crescimento expressivo de 2,3% no quarto trimestre. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (30) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e analisados pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
De acordo com a economista-chefe da CBIC, Ieda Vasconcelos, o resultado não chega a ser uma surpresa. “O recuo reflete, principalmente, a elevação acentuada da taxa de juros, que gera incertezas, encarece o crédito e inibe os investimentos, especialmente aqueles de longo prazo, como os da construção civil”, explica.
Desde setembro de 2024, o Banco Central deu início a um ciclo de aumento da taxa Selic, que saltou de 10,50% ao ano para 14,75% – maior patamar em quase 20 anos. “O empresário da construção tem manifestado preocupação constante com os juros altos. Segundo a Sondagem da Indústria da Construção, realizada pela CNI com apoio da CBIC, esse foi apontado como o principal problema do setor no primeiro trimestre”, destaca Ieda.
Apesar do recuo na comparação trimestral, o setor apresenta desempenho positivo quando analisado o mesmo período do ano anterior, com crescimento de 3,4%. “Isso mostra que o ritmo da construção, embora menor que no final do ano passado, ainda segue superior ao do início de 2024”, observa a economista.
Os números do mercado imobiliário continuam robustos e sustentam parte do otimismo no setor. No primeiro trimestre de 2025, foram lançadas 84.924 unidades habitacionais, crescimento de 15,07% na comparação com o mesmo período de 2024. As vendas também avançaram 15,69%, totalizando 102.485 unidades comercializadas.
“Mais da metade dos lançamentos – 52,68% – estão ligados ao Programa Minha Casa, Minha Vida, que segue impulsionando o setor”, aponta Ieda.
Outro dado que reforça a resiliência do setor é o mercado de trabalho. Entre janeiro e abril deste ano, a construção civil criou 135.202 novos postos de trabalho com carteira assinada. “O número de trabalhadores no setor já se aproxima dos três milhões, patamar que não víamos desde 2014. Isso demonstra o volume de obras em andamento”, analisa a economista.
Todos os segmentos da construção apresentaram saldo positivo de empregos: foram 56.912 novas vagas na construção de edifícios, 36.473 nas obras de infraestrutura e 41.817 nos serviços especializados.
Expectativas para 2025
Apesar dos desafios, a projeção da CBIC para 2025 é de crescimento de 2,3% na construção civil. “Os dados do mercado imobiliário nos primeiros meses do ano foram positivos e evidenciam dinamismo no setor. Além disso, a sondagem de maio mostrou aumento nas expectativas dos empresários para os próximos seis meses, tanto para novos empreendimentos quanto para contratações e compra de insumos”, afirma Ieda.
A economista, no entanto, faz um alerta: “O cenário ainda exige cautela. A inflação elevada, os juros no maior nível em duas décadas e o aumento do IOF sobre operações de crédito podem impactar negativamente o setor, especialmente no segundo semestre.”
No contexto nacional, a economia brasileira cresceu 1,4% no primeiro trimestre, puxada principalmente pelo setor agropecuário, que teve alta de 12,2%, enquanto a indústria ficou praticamente estável (-0,1%) e os serviços subiram 0,3%.
“Mesmo com previsão de crescimento do PIB brasileiro em torno de 2% em 2025, o ambiente de incerteza, tanto interna quanto externa, aliado ao custo elevado do dinheiro, exige atenção redobrada dos empresários e de todo o setor produtivo”, conclui Ieda Vasconcelos.