Educação e sustentabilidade

 O termo sustentabilidade ganhou destaque na mídia na última década. Apaixonada por turismo ecológico, ecoturismo, turismo de aventura ou por outras tribos equivalentes, sempre presto atenção, ao viajar, à beleza das localidades visitadas, contemplando o equilíbrio entre natureza e como vivem e sobrevivem seu povo.

 Menciono algumas situações para ilustrar exatamente o contrário, quando algo está em desequilíbrio:

 Situação 1:  Às margens de um rio num Estado nordestino, há uma placa do Ministério do Meio Ambiente sinalizando as ações proibidas que serão enquadradas como crime ambiental. Do outro lado do rio há uma enorme casa de veraneio que destoa completamente do cenário a ser preservado. Detalhe intrigante: a casa pertence a um político da região, e teria sido construída justamente quando ele trabalhava no alto escalão do Ministério do Meio Ambiente.

 Situação 2:  no excelente artigo No Reino dos Coliformes, Claudio de Moura Castro mencionou que havia visitado uma escola rural, cuja reforma estava nas etapas finais. Tinha tudo: quadra esportiva, computadores e belos espaços. Como atrás do prédio havia um riacho simpático, indagou se a escola tinha fossa séptica. Diante da resposta negativa, questionou como poderiam ensinar boas práticas de meio ambiente se jogavam cocô no rio.

 Situação 3:  no hilariante filme "Saneamento Básico", dirigido por Jorge Furtado, os moradores de Linha Cristal, uma pequena vila de descendentes de colonos italianos na serra gaúcha, reúnem-se para tomar providências a respeito da construção de uma fossa para o tratamento do esgoto. Elegem uma comissão, que é responsável por fazer o pedido à prefeitura. A secretária da prefeitura reconhece a necessidade da obra, mas informa que não terá verba para realizá-la até o final do ano.

 Dispõe, entretanto, de um valor repassado pelo governo federal para a produção de um vídeo que, se não for usado, será devolvido em breve. Não tem recurso para o básico, mas tem para o "supérfluo". Surge então a ideia de usar a quantia para rodar um vídeo sobre a própria obra e questões ambientais, acreditando que ao final sobraria algo para fazer a fossa.

 A única das situações citadas que é mera ficção é a terceira… As duas outras são verdadeiras, embora também pareçam obra de ficção…

 Não desconsidero a importância de avançarmos no rigor do Código Florestal, mas o básico também deveria funcionar. E o básico vai da educação, do exemplo, da utilização correta dos recursos públicos até a aplicação do Código Penal (punindo os assassinos dos defensores da floresta, além de quem a desmata). Aliás, poucos temas têm ligação tão direta com educação quanto o da sustentabilidade; é um valor que sempre leva em conta o futuro!

 Critérios. Estudo da consultoria Accenture, feito em parceria com o Comitê de Encorajamento à Filantropia Corporativa (CECP), que reúne mais de 180 CEO's de todo o mundo, mostra que os critérios para identificar oportunidades de negócios econômica e socialmente sustentáveis não são os mesmos utilizados na hora de detectar oportunidades tradicionais de negócios.

 Ou seja: na prática, o valor da sustentabilidade ainda não foi incorporado ao modelo mental dos executivos. Só pensam de forma sustentável quando em situações específicas!

 Resultados de uma pesquisa sobre educação corporativa coordenada por mim na Fundação Instituto de Administração (FIA) indicaram que ações educacionais são pouco voltadas para desenvolver competências (técnicas ou comportamentais) orientadas para sustentabilidade.

 Resta, por isso, a dúvida: se todos valorizam tanto o tema sustentabilidade, como esperam que as pessoas se comportem de acordo com seus preceitos, se não são preparadas para desenvolverem as competências relacionadas e, principalmente, não têm bons exemplos para se mirar? Educação e ética são parceiras indissociáveis da sustentabilidade!

 Nesse sentido, vale refletir sobre oportunidades (individuais ou coletivas, formais ou não formais) de formação de competências para sustentabilidade do seu projeto de carreira profissional, pois cada vez mais serão valorizadas no mercado de trabalho. Pense nisso!