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AGÊNCIA CBIC

26/09/2011

Ações para ter uma cidade melhor

"Cbic"
26/09/2011:: Edição 184

 

Jornal Valor Econômico/BR 26/09/2011
 

Ações para ter uma cidade melhor

Momento econômico é favorável para o Brasil construir edifícios modernos e recuperar centros urbanos degradados

 Na última década, 10,4 milhões de brasileiros deixaram de viver em favelas, segundo o Programa das Nações Unidas para Assentamentos Urbanos (ONU Habitat). Isso equivale a uma queda de 16% na proporção de moradores em assentamentos precários, que teria caído de 31,5% para 26,4% da população, entre 2001 e 2010. Mesmo assim, o relatório da ONU, divulgado no ano passado, afirma que as cidades brasileiras estão entre as mais desiguais do mundo, no mesmo patamar de centros urbanos da Etiópia, Nigéria e Zimbábue.
 Apesar de políticas que aumentaram a renda dos pobres urbanos, da queda no crescimento populacional, de subsídios a materiais de construção e programas de urbanização, fatores aos quais é atribuída a redução da favelização no Brasil, problemas graves persistem nas regiões urbanas. Entre eles, a ocupação irregular do solo, a falta de acesso a serviços básicos – como a coleta e o tratamento de esgoto -e a necessidade de deslocamentos de grandes distâncias nas cidades, o que torna o sistema de transporte um dos vilões do aquecimento global pela alta emissão de gases de efeito estufa.
 Reverter essa situação nos centros urbanos do país não é tarefa fácil. Porém o Brasil está diante de oportunidades que podem contribuir para um planejamento urbano sustentável. E a construção civil tem papel importante nesse processo."O Brasil passa por uma fase de crescimento econômico e de credibilidade junto aos mercados internacionais. É o período ideal para a indústria da construção colocar em prática novos projetos e apostar na sustentabilidade", afirma o renomado arquiteto britânico Brandon Haw, que participou do encontro nacional da construção civil, promovido em agosto pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). Haw é o idealizador do edifício de escritórios mais alto e primeiro arranha-céu verde da Europa, o Commerzbank, localizado em Frankfurt, da Alemanha. "Para aliar progresso e meio ambiente, é necessário balancear as questões sociais, econômicas e ambientais, o que vem sendo feito pelo Brasil", diz Haw. "Este é o momento de o Brasil investir na indústria da construção e deixar como legado para seus cidadãos edifícios modernos e sustentáveis.
 O legado a que se refere Haw é o que o Rio de Janeiro busca com a oportunidade de sediar a Olimpíada de 2016. Inspirada no legado sustentável da Olimpíada de Londres 2012, referência mundial, a segunda maior metrópole do Brasil quer aproveitar o evento esportivo para melhorar o planejamento urbano."Vamos realizar 30 anos em cinco", diz Ricardo Corrêa, diretor de marketing da construtora carioca Carvalho Hosken, responsável pelo desenvolvimento, nas últimas três décadas, de "bairros-condomínio" planejados ecologicamente em uma das regiões mais nobres do Rio, a Barra da Tijuca, e agora pela construção da Vila dos Atletas, também na Barra."O Rio é uma cidade espremida entre o mar e a montanha, com pouca mobilidade urbana. Com os grandes corredores viários que serão criados para a Olimpíada, a cidade será oxigenada."
 Corrêa refere-se aos corredores Transcarioca, Transolímpica e Transoeste, que ligarão a cidade de norte a sul e de leste a oeste e que se interligarão a outros modais, como metrô e avenidas. "Isso vai reduzir o custo social do ser humano, que terá maior mobilidade em menos tempo, além de diminuir a ocupação de áreas de assentamentos irregulares. Com menos favelização, teremos menos esgoto in natura e maior preservação do meio ambiente."
 Além da mobilidade urbana, a Olimpíada permitirá ao Rio ganhar um novo bairro, construído de forma sustentável: a Vila dos Atletas. O complexo terá 3,5 mil unidades de três e quatro dormitórios em edifícios que ocuparão 35% de uma área total de 1,2 milhão de metros quadrados no loteamento Ilha Pura, na Barra. Os edifícios privilegiarão a economia de energia – uso de lâmpadas LED, que custam 60% mais que as convencionais, mas permitem uma economia de quase 70% no consumo – e água, entre outros itens. Os atletas ficarão a menos de dez minutos do local de competição."Ao final da Olimpíada, as instalações sofrerão retrofit e serão comercializadas como unidades de alto padrão", diz Corrêa.
 Segundo o engenheiro Teodomiro Diniz Camargos, diretor da construtora mineira Diniz Camargos, a construção civil tem muito a contribuir no desenvolvimento sustentável das cidades. "Pode contribuir para a redução do consumo de energia por meio da modernização e otimização dos processos e materiais, como a opção pelo cimento com escória no lugar do cimento puro, pode contribuir para maior dispersão e qualificação de resíduos e para consumo menor de energia na vida útil dos prédios", diz."E a de edifícios para a revitalização de centros urbanos deteriorados está entre os processos em. que a construção civil pode atuar no desenvolvimento sustentável das cidades, porque ela traz uma grande economia de recursos energéticos e de matéria-prima."
 Um desafio, segundo Camargos, é que os prédios em geral são fracionados e os proprietários dificilmente têm poder aquisitivo para manter a qualidade arquitetônica da construção.Uma das especialidades da Diniz Camargos é comprar edifícios degradados e requalificá-los. Mas ele alerta para o risco de se criarem guetos, nesse caso. "São Paulo fez recentemente edital de desapropriação de 50 prédios no centro da cidade. Vamos ver a ambiência que a prefeitura pretende dar a essa área. É preciso oferecer os imóveis a várias faixas de renda. Colocar 50 prédios para baixa renda é criar um gueto." A Diniz Camargos tem várias experiências no centro de Belo Horizonte, área que, segundo o engenheiro voltou a pulsar há alguns anos quando a prefeitura decidiu voltar para a região, após a retirada de camelôs e do transporte clandestino e o aumento da segurança.
 Camargos lembra que a revitalização dos centros urbanos vai ao encontro da tendência atual no planejamento urbano para cidades sustentáveis, que busca soluções que visem menos transporte, para que as pessoas morem, trabalhem e tenham lazer em áreas próximas.
 Esse é o foco dos projetos imobiliários da construtora paulista sob loco, responsável, entre outros, pelo empreendimento Riviera de São Lourenço, em Bertioga (SP), que adotou iniciativas para reduzir o impacto da ocupação urbana ao meio ambiente. Uma delas é o"ciclo das águas", processo no qual a água captada no rio é tratada antes e depois de utilizada e passa por um aquário para testar a eficiência do tratamento antes de ser devolvida ao rio. O complexo ocupa uma área de 9 milhões de metros quadrados no litoral norte paulista, tem população fixa de 4 mil moradores e flutuante durante a temporada de 55 mil pessoas. "É um projeto único no Brasil, totalmente sustentável, que reúne no mesmo lugar moradia, comércio e lazer", afirma Luís Augusto Pereira de Almeida, diretor da Sobloco.
 O empreendimento mais recente da Sobloco é a revitalização de uma área degradada de 300 mil metros quadrados no centro de São Caetano, na Grande São Paulo. Denominado Espaço Cerâmica, em função de ter sido propriedade de uma antiga indústria de cerâmica, o novo bairro se baseia no conceito de moradia, trabalho e lazer no mesmo lugar. "São Caetano tem uma extensão territorial pequena, de 14 quilômetros quadrados, e essa é a última grande área de desenvolvimento urbano do município", afirma Almeida. "Foram seis a sete anos de diálogo com a prefeitura para adequar a área ao empreendimento, porque o terreno era cortado por um linhão da Eletropaulo, que foi removido, e tinha problemas de alagamento" diz. "Investimos R$ 30 milhões na recuperação da área, que atualmente é um grande canteiro de obras. Vamos ver os resultados em três ou quatro anos.
 Com base no estudo do Urban Land Institute, dos Estados Unidos, de que as pessoas para atender a suas necessidades estão dispostas a andar de 400 a 800 metros, a Sobloco idealizou no Espaço Cerâmica um bairro para pedestres. "As calçadas têm quatro metros de largura e todo pedestre atravessa em nível, além de 30 mil metros quadrados de parques. Estimamos uma circulação diária no empreendimento, que também terá um shopping center, de 30 mil pessoas e 7 mil residentes", diz Almeida. "Também fizemos um resgate histórico, restaurando um painel cerâmico de 25 metros quadrados para ficar exposto num dos parques, e reformamos um forno cerâmico, que parece um mini-Pantheon, para abrigar um pequeno centro cultural. trata se do maior projeto de revitalização urbana no país.
 Segundo Perola Wertheim, arquiteta da Caixa Econômica Federal (CEFI), esse modelo é interessante quando se integra ao conjunto da cidade. "Aquele planejamento urbano que segrega as funções e estabelece grandes eixos de circulação, desenvolvido no Brasil nas décadas de 50, 60 e 70, praticamente deixou de existir", diz. Perola lembra, porém, que ainda não se chegou a um modelo alternativo adequado. "Hoje, temos projetos de investimentos em pontos das urbis funcionando como cluster de desenvolvimento econômico e social, mas que não se articulam com os bairros em volta. Um exemplo é o Porto Maravilha, no Rio.
 Segundo o Sindicato da Habitação do Estado de São Paulo (Secovi-SP), não adianta haver empreendimentos concebidos, produzidos e administrados de maneira sustentável se as cidades não forem igualmente sustentáveis. Por isso, em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC), a entidade acaba de formular a pesquisa inédita "Indicadores de Sustentabilidade no Desenvolvimento Imobiliário Urbano". O estudo define nove grupos de temas (construção e infraestrutura, governança, mobilidade, moradia, oportunidades, planejamento e ordenamento territorial, questões ambientais, segurança e serviços e equipamentos) para nortear a montagem de indicadores de sustentabilidade no desenvolvimento imobiliário urbano."A partir deles, queremos apresentar sugestões aos setores público e privado para promover cidades mais sustentáveis", afirma Ciro Scopel, vice-presidente de sustentabilidade do Secovi-SP. "Até o final do ano, começaremos a consolidar esses indicadores com a finalidade de monitorar a qualidade das cidades.
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