Coordenação Modular: repensando a Norma para o futuro do setor
A industrialização do setor da construção tem sido um debate frequente na Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). Com o constante avanço das tecnologias, o setor tem buscado alternativas de avançar os processos produtivos e impulsionar suas atividades.
Uma contribuição para a melhoria desse cenário, é a coordenação modular. A metodologia de construção se baseia na integração de sistemas e componentes padronizados, permitindo a rápida montagem e desmontagem de estruturas. Com a iniciativa, é possível agilizar o processo construtivo, reduzir custos e minimizar impactos ambientais, apontou o presidente da Comissão de Materiais, Tecnologia, Qualidade e Produtividade (COMAT) da CBIC, Dionyzio Klavdianos.
Para normatizar o processo, o setor já conta com a norma reguladora ABNT NBR 15873, vigente desde 2010, mas especialistas têm buscado a revisão do texto. Em 2022, a partir do projeto Construa Brasil – meta 8, uma parceria entre a CBIC e o Ministério da Economia, a equipe propôs novo texto para a norma, apontou o líder da Meta 8 – Coordenação Modular no Construa Brasil, Sergio Scheer. “Foram analisadas cerca de 1.200 normas da área do setor da construção, e em torno de 100 normas estariam passíveis de serem aplicadas na norma de coordenação modular”, destaca sobre a importância do projeto.
A revisão da norma tem como objetivo abordar aspectos como a compatibilidade entre sistemas modulares, a flexibilidade na configuração das estruturas e a interoperabilidade dos componentes, diante à necessidade de atualização para refletir as novas tecnologias, demandas do mercado e mudanças nas práticas construtivas. Scheer explicou que a proposta de texto base foi atualizada em termos de definições e princípios da coordenação modular. “Para a revisão da norma, nós incluímos três novos capítulos: um de representação gráfica, um de diretrizes projetuais voltada à arquitetos e projetistas, e outro de diretrizes projetuais para produtos construtivos”, pontuou.
Para Dionyzio Klavdianos, a norma tem o dom de contribuir para facilitar a adoção de sistemas industrializados nos canteiros de obras já que a modulação é intrínseca deste sistema construtivo. “Quanto mais sistematizada a obra, mais produtiva ela vai ser. Além de apresentar maior qualidade e desempenho, é algo bom para o empresário, que entrega um produto superior, e para o usuário, recebe um produto melhor”, destaca o presidente da COMAT.
“A coordenação modular em si impacta todos os produtos construtivos. Independente do tipo de obra, toda edificação seria impactada por essa norma”, destacou a secretária da norma ABNT NBR 15873, Alexandra Baldauf sobre os impactos que a norma pode ter no setor.
Dentre as questões que serão abordadas na revisão, Alexandra pontuou a necessidade de atenção e destaque do mercado. “Os profissionais que trabalham com projetos arquitetônicos precisam ter um olhar e um conhecimento de como projetar usando os princípios da coordenação modular”, ressaltou.
A metodologia tem o potencial de impactar o setor da construção de forma prática, explicou. “A coordenação modular promove, principalmente, a industrialização do setor, por isso, a importância de todos os setores da cadeia estejam aptos a adotar como um modelo padrão para as obras”, disse.
“Além disso, promove ganho em termos de custo, critérios ambientais, redução de desperdício de matéria prima, como também promove mais agilidade nas obras, já que ela é pensada e decidida muitos antes de ir pro canteiro”, afirmou Alexandra.
Para produzir em grande escala e com qualidade, são necessários novos processos mais industrializados e com controle de desempenho, afirmou a-arquiteta e representante da CBIC na Comissão de Estudos (CE) da revisão da norma, Elka Porciúncula.
“Sem uma metodologia precisa, as ocorrências que desviam a produtividade só podem ser corrigidas se tivermos um padrão que motive e oriente a sequência de produção do empreendimento desde os projetos compatibilizados”, explica Elka.
Segundo Elka, a norma impactará tanto o empresário quanto o usuário. “No caso do empresário, ele estará comprometido em avaliar as competências dos projetistas e da engenharia de produção. Já quanto ao usuário das edificações, ele precisa estar bem informado sobre o produto que está recebendo e suas especificações para garantir sua vida útil projetada”, destacou a arquiteta.
A atualização da Norma de Coordenação Modular é considerada fundamental pelos especialistas para garantir que o setor da construção esteja preparado para enfrentar os desafios do futuro. Ao estabelecer diretrizes claras e atualizadas, a norma poderá impulsionar a inovação, fomentar a competitividade e promover a sustentabilidade na indústria, afirmou Alexandra Baldauf.
“O objetivo final da coordenação modular é a industrialização da construção. Esse é um dos principais caminhos para que o setor avance”, concluiu Alexandra.
O tema tem interface com o projeto “Inteligência e Estratégia para o Futuro da Construção”, da Comissão de Materiais, Tecnologia, Qualidade e Produtividade (COMAT/CBIC), em correalização com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai Nacional).