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08/11/2017

“As empresas precisam ter ambição para o desenvolvimento sustentável”

Como as empresas podem montar estratégias para ir além da responsabilidade social

01/11/2017 – 08H20 – Por Barbara Bigarelli

 

Pensar no desenvolvimento sustentável como estratégia – e não mera responsabilidade social – exige mais do que intenção ou compromisso com selos verdes, certificados e marcos legais. “É preciso ter ambição para os romper os paradigmas e perceber que vamos acertar, mas vamos errar bastante também”, afirma Cristiana Brito, diretora de relações institucionais e sustentabilidade da BASF na América do Sul. “Não adianta ter técnicos comprometidos com o desenvolvimento sustentável e um CEO alienado ou uma empresa com um CEO engajado, mas com um operador de máquina que não evita desperdícios”. A executiva participou de evento realizado na Câmara Brasil-Alemanha, que discutiu a implementação dos objetivos de desenvolvimento sustentáveis (ODS) definidos pela ONU para empresas.

Os objetivos surgiram em 2015 a partir de uma percepção da Organização das Nações Unidas de que os objetivos do milênio (ODM) já eram insuficientes para dar conta de demandas pontuais que surgiam naquele momento. Foi também um modo da ONU convocar as empresas a participar ativamente de mudanças globais, em diferentes áreas. Com as ODS, definem-se 169 metas para 17 temáticas, entre elas clima, energia, água, representação feminina e até direitos humanos. “Percebeu-se que não ia dar para o governo ou a sociedade resolverem sozinhos os problemas. E ficou claro o peso que as empresas têm – de forma positiva ou negativa – nessas questões”, disse Carlo Pereira, secretário-executivo da Rede Brasil do Pacto Global.  Por meio do Pacto Global, as empresas privadas discutem o cumprimento dos ODS em suas operações. Atualmente, 13 mil instituições e 9 mil empresas fazem parte dele – sendo 740 organizações com atuação no Brasil.

A BASF é uma das signatárias dos ODS e, portanto, conecta sua estratégia empresarial a alguns dos 17 ODS. A companhia definiu os objetivos com maior afinidade com sua atuação na indústria química para então definir metas que “conversavam” com os ODS – e inserindo seus stakeholders nessa estratégia – para finalmente medir resultados. Um dos projetos desenvolvidos inclui um “sistema de produção que é capaz de aproveitar todos os recursos energéticos, naturais e de matéria-prima”. Outro, através de sua fundação, tem como foco auxiliar a cooperativa de café Cooxupé a agregar maior valor à cadeia produtiva, melhorar a sustentabilidade e, assim, oferecer um produto que seja mais aceito – a um preço maior – no mercado europeu.

Mirar o desenvolvimento sustentável sob a perspectiva de criação de valor – e lucro – no negócio é um discurso defendido por Cristiana Brito, assim como por vários executivos de empresas ao redor do mundo. O mais famoso deles talvez seja Paul Polman, CEO da Unilever, um dos mais citados quando se fala em capitalismo consciente. Em sua palestra, Cristiana citou a Business & Sustainable Development Commission (BSDC), comitê do qual Polman faz parte, e que trabalha pelo desenvolvimento global de objetivos sustentáveis como oportunidade de negócio. Estimativa da BSDC aponta que o desenvolvimento sustentável pode gerar US$ 12 trilhões em negócios e oferecer 380 milhões de novas posições de trabalho até 2030. Só na América Latina, esse potencial seria de US$ 1 trilhão e criação de 24 milhões de vagas de trabalho.

Pequenas e Médias Empresas 
A opinião de especialistas é de que as grandes empresas já têm consciência, de forma geral, sobre a necessidade de se desenvolverem de forma sustentável. Muitas delas já integram índices sustentáveis da Bolsa de Valores – como a ISE na B3 (ex-BMF&Bovespa) –, bem como medem e reportam indicadores específicos.

O maior gargalo para o país avançar nesses objetivos está nas pequenas e médias empresas, segundo Grácia Fragalá, diretora do Comitê de Responsabilidade Social (Cores) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, a Fiesp. “É preciso fazer um esforço para que as PMEs relatem esses indicadores [sociais e ambientais]”, defende Grácia. Segundo ela, a resistência ocorre por dois motivos. O primeiro tem a ver com a recessão, que coloca as empresas “em um momento de sobrevivência” à crise. “Quando vamos conversar sobre sustentabilidade, eles me dizem: calma, antes eu preciso é salvar o negócio”, diz Grácia. O segundo é um possível temor com relação à divulgação de novas informações. “Eles se assustam com questões de legislação e me dizem: se eu começar a relatar novos indicadores, não vai chamar atenção da Receita para outros fatores da minha empresa?”.

Fonte: Época Negócios

 

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