Valorizar a Engenharia nacional é papel do mercado e da academia
Resgatar o valor da engenharia nacional é um dos maiores desafios impostos à indústria da construção e à academia. O tão valorizado curso de Engenharia Civil em universidades federais, que já chegou a registrar linha de corte mais alta que a do curso de Medicina, não é mais tão almejado. Na opinião de empresários do setor da construção, uma das causas dessa desvalorização é a crise econômica que, além de não atrair novos profissionais, está perdendo engenheiros com alto nível de capacitação para outras áreas. Este tema integra o projeto 5 – ‘Fortalecimento das empresas de obras industriais e corporativas’ do convênio com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).
“Temos que encarar com seriedade o problema da Engenharia no Brasil”, menciona o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, ao sinalizar a importância dos engenheiros para alavancar o setor, locomotiva da economia brasileira, e ajudar o país a sair da crise”.
Um dos exemplos da desvalorização da Engenharia nacional está no setor da construção industrial e corporativa. Apesar da sua relevância para o país – um terço do PIB da Construção –, seu valor só é percebido após acidentes ou incidentes, falhas e tragédias, o que não é correto, já que o setor congrega empresas de engenharia, construção e montagem dedicadas às atividades de implantação de projetos industriais e corporativos responsáveis pela produção anual de aproximadamente R$ 85 bilhões.
Forma de percepção e modalidade de contratação são as principais causas da desvalorização da Engenharia
Ao longo dos anos, empreendedores e empresas contratantes se desviaram do correto entendimento sobre a função do Serviço de Engenharia em um projeto industrial ou corporativo e, ao invés de reconhecê-lo como investimento, passaram a tratá-lo como custo e a contratá-lo pelo menor preço.
A indústria da construção defende que Engenharia não é commodity e que sociedade, setor privado, universidades e entes públicos precisam urgentemente entender que essa prática tem sido responsável, nos últimos anos, por desastres e/ou falhas nos empreendimentos.
Para o vice-presidente da área de Obras Industriais da CBIC, Ilso de Oliveira, as economias obtidas na contratação do serviço e no custo final do empreendimento não compensam possíveis riscos à performance técnica, prazo, segurança e qualidade do empreendimento.
“O Serviço de Engenharia representa em torno de 5% do custo de um projeto, mas tem uma enorme capacidade de agregar qualidade e valor ao mesmo. Por outro lado, é inegável a contribuição que a Engenharia brasileira deu ao desenvolvimento do País e também inegável a capacidade técnica e de reação que o setor tem demostrado”, diz Ilso de Oliveira, também presidente da Comissão de Obras Industriais e Corporativas (COIC) da CBIC.
Na avaliação do 2º vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção no Estado de Goiás (Sinduscon-GO) e diretor da Irontec Construção Metálica, Cezar Valmor Mortari o problema é recorrente também no segmento de obras públicas, “a Lei 8.666/93 (Licitações), apesar de boa, não devia ter incluído o artigo da contratação pelo menor preço para os Serviços de Engenharia, que têm alta complexidade e exigem profundo conhecimento para sua execução”.
“A Engenharia paralisou a partir do momento em que o preço virou o deadline das empresas industriais”, diz Ricardo Fabel, gestor de desenvolvimento de negócios da Tractebel.
“Não se pode contratar um projeto exclusivamente pelo menor preço, mas sim pelo melhor preço, que alie custo à capacidade de agregar valor ao projeto”, reforça Ilso de Oliveira.