Artigo do Especialista: Potencial de inovação do manual do proprietário
Professora Regina Coeli Ruschel, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) – Esquerda
Professora Lorena Claudia de Souza Moreira, da Universidade Federal da Bahia (UFBA) – Direita
A qualificação da documentação técnica produzida ao longo das etapas de projeto e execução é relevante para potencializar a comunicação ao longo do ciclo de vida da edificação. Nesse contexto, inclui-se o Manual de Uso, Operação e Manutenção das Edificações, também conhecido como Manual do Proprietário (MP). O MP é o documento que contempla todas as informações necessárias para guiar as atividades de manutenibilidade e uso da edificação. Dessa forma, o Manual do Proprietário é um documento essencial para o esclarecimento de dúvidas relativas à edificação. De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) a NBR 14037 – Diretrizes para elaboração de manuais de uso, operação e manutenção das edificações – Requisitos para elaboração e apresentação dos conteúdos – tem por finalidade:
- Orientar os usuários da edificação sobre suas características técnicas;
- Recomendar procedimentos no intuito de uma melhor utilização da edificação;
- Propor atividades de manutenção;
- Precaver o surgimento de falhas e acidentes decorrentes do mau uso, e
- Contribuir para a longevidade da edificação.
Assim sendo, foi realizado um levantamento para classificar os manuais do proprietário praticados no Brasil segundo as recomendações da NBR 14037, sua forma de desenvolvimento, formato de entrega e tipo do manual de acordo com o uso e padrão da edificação. A pesquisa contou com o apoio institucional da CBIC e a participação de representantes de construtoras e incorporadoras do Brasil. A investigação foi realizada como parte de uma pesquisa de doutorado da Professora Lorena Claudia de Souza Moreira, da Universidade Federal da Bahia, junto ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, Tecnologia e Cidade da Universidade Estadual de Campinas sob orientação da Professora Doutora Regina Coeli Ruschel.
Como contribuição, são apresentados os resultados do levantamento realizado por região do país, por padrão da edificação e por item da NBR 14037. Na verificação de aderência dos manuais à NBR 14037, constatou-se que os itens do manual não têm uma abordagem igualitária e, pontualmente, o quesito manutenção requer um maior cuidado por parte das construtoras e incorporadoras pesquisadas. Comprovou-se que o conteúdo que envolve garantias e assistência técnica obteve a melhor classificação, entre os manuais de proprietário apresentados, estando respaldado pelo Código de Defesa do Consumidor. Ademais, observou-se uma maior recorrência do manual impresso, desenvolvido pela própria construtora e uma distinção do manual de acordo com o uso e padrão da edificação. Por fim, conclui-se que o manual do proprietário, no levantamento realizado, apresenta deficiências que demandam melhorias tanto na forma de apresentação, quanto na mídia e no seu conteúdo. Esses resultados podem ser conferidos no artigo acessado na sua integra pelo link: https://bit.ly/2poXTMt
Um resultado positivo foi a estruturação observada do conteúdo nos manuais, que apesar de diferir da recomendada pela NBR 14037, é propícia para a inclusão de visualização por meio de Realidade Aumentada das garantias, especificações ou orientação de manutenção. A organização dos manuais também é propícia para o acesso de seu conteúdo nos componentes da edificação associado à tecnologia de Internet das Coisas. A tese de doutorado de Lorena (http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/334148) e artigos publicados (https://antaceventos.net.br/index.php/sbtic/sbtic2019/paper/view/221), demonstram como aprimorar a visualização do conteúdo do MP com a Realidade Aumentada (RA). A pesquisa experimental realizada também indica que a RA diminui o esforço percebido pelo usuário em tarefa de manutenção. Foi identificado grande potencial de inovação para o MP.
O tema tratado tem interface com o Projeto Tecnologia e Inovação na Indústria da Construção, desenvolvido pela Comissão de Materiais, Tecnologia, Qualidade e Produtividade (Comat) da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), em correalização com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai Nacional).
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