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22/05/2018

Uma nova forma de empreender

Futuro modelo de negócios exigirá ação social mais efetiva dos construtores

Mudanças drásticas estão ocorrendo e vão continuar a ocorrer, em diversos setores da economia, impondo ao mercado novas formas de negócios e de empreender. “Você hoje tem vários tipos de negócios mudando. Tem muitas rupturas. Ruptura no modelo de hotel, ruptura no modelo de transportes. O que as pessoas vão valorizar? Só o imóvel que entrego ou o que tem ali? Temos que começar a pensar como eu construo, que legado vou deixar, que valor agrego ao meu negócio”, alerta Ana Cláudia Gomes, presidente do Fórum de Ação Social e Cidadania da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Fasc/CBIC).

O assunto foi tratado pela futurista Lala Deheinzelin no painel “Futuro e novas economias aplicados à ação social e cidadania”, uma ação do projeto Desenvolvimento de Lideranças, projeto concebido pelo Fasc com correalização do Serviço Social da Indústria (Sesi), no 90º Encontro Nacional da Indústria da Construção (Enic), promovido pela CBIC e realizado em Florianópolis, de 16 a 18 de maio, pela Associação dos Sindicatos da Indústria da Construção do Estado de Santa Catarina (Asicc-SC).

Para Lala Deheinzelin, profissional renomada na América Latina, o mundo está numa revolução nunca vista na história da humanidade. E não tem volta. O estopim foi a internet, que conectou todo mundo em tempo real, produziu uma quantidade imensa de informações, criou novos negócios e está revolucionando a economia e a vida das pessoas. Num futuro próximo, prevê ela, o
dinheiro não será mais medida de valor para a humanidade.

Outras formas de economia vão se impor. Segundo ela, a economia do futuro compreende quatro vertentes: economia criativa, baseada em valores intangíveis como cultura, linguagem e tudo que dá valor diferenciado ao produto; economia compartilhada, com o uso comum de infraestrutura, espaços, equipamentos e materiais; economia colaborativa, caracterizada por uma gestão descentralizada e desburocratizada; a quarta é uma economia multivalores, baseada no conceito de que “recurso não é só moeda”, mas todos os conhecimentos. “É uma economia que trabalha com fluxo de recursos não monetários e com o objetivo de gerar resultados além do monetário”, explica.

São conceitos que, na previsão de Ana Cláudia Gomes, vão mudar o futuro da própria economia: “Vivemos um momento de muita competição e a gente acredita que o futuro, em função da internet, das tecnologias, de todas as transformações que estamos vivendo, é uma economia de compartilhar”. O novo modelo de negócio vai exigir uma ação social mais efetiva dos construtores, que não devem se limitar a construir um prédio, mas em alterar as condições da comunidade onde atuam: “O que você está deixando de legado para os usuários onde você constrói? Você está construindo só um prédio ou está transformando aquela comunidade? Está investindo na integração daquela comunidade de forma proativa?”.

Investimento sociais no entorno da obra agregam valor ao negócio. “Muitas empresas fazem investimentos sociais, algumas fazem de forma totalmente desconectada do seu negócio, outras já fazem de forma mais atrelada à estratégia da instituição”, comenta Ana Cláudia.

A MRV Engenharia, por exemplo, incorporou o investimento social privado em seus empreendimentos. “Vale a pena investir no social”, garante José Luiz Esteves da Fonseca, da MRV Engenharia, que apresentou no 90º Enic o caso de um empreendimento no município de São Gonçalo, um dos mais pobres do estado do Rio de Janeiro. Em frente havia um conjunto habitacional com 50 blocos mal conservados, sem rede de água pluvial na redondeza, e muitos desempregados, enquanto a empresa enfrentava problema com a falta de mão de obra. Segundo José Luiz Esteves, a MRV, junto com o Serviço Social da Construção do Rio de Janeiro (Seconci-Rio), promoveu cursos de qualificação para os desempregados e muitos deles foram aproveitados na obra.

“Às vezes levávamos trabalhadores de outros estados para trabalhar lá. Então, já que a gente tem esse custo de investimento, decidimos investir na questão social de qualificação profissional”, explica. Foram formadas 11 turmas, de 20 alunos cada, para o curso de pintor de parede, patrocinado pela empresa, Seconci, Associação Brasileira de Fabricantes de Tintas (Abrafat) e Suvinil/Basf.

Os alunos, que antes pintavam paredes na sala de aula do Seconci, aprenderam pintando suas próprias casas, e muitos foram contratados para trabalhar na construção. “O investimento social, com o entorno bem cuidado, com acessos bem cuidados, melhoria, é uma forma de valorizar nossos empreendimentos”, comenta José Luiz Esteves. Segundo ele, o empreendimento em São Gonçalo, concluindo em 2017, foi vendido em poucos dias.

“Apresentamos o caso no Enic para que outras construtoras, outros Seconcis comecem a pensar na questão social. Investir no social não é despesa, é investimento e dá certo”, afirma. Segundo ele, estratégia da empresa é estabelecer vínculo permanente na localidade onde atua: “Não adianta chegar, construir e ir embora. A gente quer chegar e permanecer”.

O projeto de São Gonçalo, segundo ele, será replicado em novos empreendimentos da empresa. Os custos das ações no entorno da obra, explica ele, são incluídos no orçamento do empreendimento como investimento, e não como despesa.

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