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17/09/2020

Artigo – Digitalização: resistir à mudança é uma alternativa?

Daniele Ramos do Nascimento é engenheira civil, empregada pública e integrante do Grupo CBIC Jovem

Matheus Alves Martins é engenheiro civil e membro do CBIC Jovem

A construção civil é um dos setores menos digitais do mundo. Estudo da Harvard Business Review que caracteriza os diversos segmentos de mercado apresentando um panorama de seus níveis de digitalização, aponta índices melhores apenas do que os da pesca e da caça.

O segmento, que emprega cerca de 7% da população mundial em idade produtiva, nos últimos 20 anos  teve aumento de produtividade de 1% ao ano, enquanto para a economia mundial como um todo a média foi de 2,8% de crescimento e de 3,6% para o setor industrial, segundo estudo da Mckinsey.

Nas últimas décadas, resultado da popularização do uso de equipamentos de informática, bem como dos ganhos em gestão da informação, muito tem-se falado em novas formas de trabalho. O isolamento social decorrente da pandemia da Covid-19 tem antecipado as previsões feitas para esse futuro em diversos setores. Empresas têm enxergado novas formas de gestão de pessoas e modelagem de processos que permitem o trabalho e as reuniões à distância, a redução de viagens e o acompanhamento não presencial.

Cabe ressaltar que a maior parte do trabalho da construção civil no Brasil é feita no local da obra, o que significa que, embora haja diferenças expressivas entre grandes empresas que atuam na construção pesada e em larga escala e pequenas empresas que acabam atuando como subcontratadas ou em obras menores, há bastante espaço para o desenvolvimento de técnicas de pré-fabricação e automatização de processos no canteiro de obras e fora dele, de forma a favorecer o aumento da repetição e da previsibilidade, tornando o processo mais industrial e digitalizado. Isso exigirá um esforço extra de projetistas e construtores no sentido da mudança.

Pesquisas 

O tema ‘Digitalização’ e tudo que orbita em torno dele está em crescente destaque no meio da construção civil. Pesquisas sobre o assunto têm sido cada vez mais frequentes, o que vem confirmando sua importância.

A Deloitte está em fase de coleta de dados para a Construção do Amanhã Panorama de Inovação dos Setores Imobiliário e da Construção no Brasil. A Thorus Engenharia circulou formulário da 2ª edição do Cenário Construtivo Brasileiro. O portal AECweb publicou os resultados da sua A Transformação Digital na Construçaõ Civil, concluindo, entre outros, que apenas 13% das empresas do setor já se consideram digitalizadas e 21% serão digitalizadas em um ano.

O CBIC Jovem, programa que propõe a formação de novas lideranças para o setor da construção, com apoio da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), por meio da sua Comissão de Responsabilidade Social (CRS), está desenvolvendo pesquisa inédita com o intuito de avaliar a maturidade digital das construtoras e incorporadoras. O desenvolvimento conta com consultoria do engenheiro Luiz Henrique Ceotto, renomado profissional na área de inovação na construção civil e professor visitante na Poli-USP. Ao final da pesquisa, o respondente poderá comparar a maturidade de sua empresa com outras por porte e região do país. Mais do que saber “onde está”, precisa entender o que pode fazer para avançar. Nesse aspecto, a empresa terá acesso a relatório personalizado com indicações de soluções de mercado capazes de melhorar seu nível de digitalização. Participe, preenchendo o formulário de manifestação de interesse na pesquisa.

Tendências

A tendência dos mercados é a digitalização para uma economia mais sustentável, em que custos e prazos mais controláveis permitam redução de risco e, por consequência, melhores ganhos com menor custo final. Além disso, o uso de tecnologias que estão a serviço dos ganhos de produtividade pode elevar a construção a patamares melhores em relação a outros segmentos, o que, segundo o relatório da Mckinsey, pode ser uma oportunidade para aumentar em US$ 1,6 trilhão seu valor agregado (contra os US$ 10 trilhões de gastos anuais com bens e serviços relacionados à atividade).

Há um custo de oportunidade crescente para as organizações que optam por não inovar e não incorporar a digitalização em seu dia a dia. Mais do que um desafio, essas empresas têm à sua frente uma oportunidade de se destacar no setor, diminuindo o gap de produtividade em relação à indústria e melhorando a gestão de seus processos e custos. Nesse sentido, resistir à mudança não é uma boa alternativa.

Digitalização e pandemia

O período atual, marcado pela pandemia, além de um cenário de instabilidade, é um momento que escancara a falta que a transformação digital faz para essa indústria. Mas isso não é motivo para atropelos. A ocasião é de transformação, possibilitando-nos entender como a tecnologia nos permite fazer mais e melhor.

Em uma indústria como a da construção, a armadilha do software pode confundir os mais desavisados. O foco do aumento do nível de digitalização das empresas deve sempre ser a solução de gargalos ou de suas “dores” e não a aquisição de soluções de TI.

*Este é o primeiro artigo de uma série sobre Digitalização produzido pelos membros do CBIC Jovem.

**Artigos divulgados neste espaço são de responsabilidade do autor e não necessariamente correspondem à opinião da entidade.

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